Seria possível juntar vozes de coralistas de Campinas, São Luiz do Paraitinga, Ilhabela, Guararapes, Votuporanga, São Paulo, Jundiaí em ensaios e apresentações de canto coral? Sob o comando da regente Dani Mattos e seu grupo vocal Poucas & Boas, o Projeto Improvisos no Canto Coral reuniu, de forma online, músicos, educadores, instrumentistas e coralistas dessas cidades e o resultado surpreendente pode ser conferido nas mídias sociais da regente.
Durante dois meses, os músicos participaram de encontros virtuais, por meio da plataforma Zoom, e mostraram que com criatividade, talento, e uma conexão de internet é possível apresentar trabalhos incríveis.
O músico e educador musical, Felipe Almeida, resolveu participar do projeto Improvisos no Canto Coral, assim que ele foi divulgado pelo setor cultural de sua cidade, Guararapes, interior de São Paulo. “Tinha apenas formações técnicas em música, participar do Projeto foi sensacional e já aplico muitas coisas que aprendi em minhas aulas”, conta o músico.
Inovar na pandemia
De acordo com a regente Dani Mattos a ideia do projeto aflorou no início da pandemia quando percebeu que não poderia continuar com os ensaios presenciais com seu grupo vocal. “Vivi momentos de muitas incertezas, refleti sobre as oportunidades que o momento de recolhimento nos trazia e comecei a esboçar um projeto, primeiro para meu grupo, e depois para concorrer ao ProAc Lab com um novo formato de canto coral, o virtual. E assim proporcionar que coralistas de diversas cidades pudessem trocar experiências”, explica a regente.
Mas para realizar um projeto online de canto coral, em que os encontros são extremamente importantes, a regente e seu grupo vocal precisaram se reinventar e buscar soluções. Foi preciso montar uma equipe profissional envolvendo pessoas de diferentes cidades e formações: técnicos de áudio e vídeo, assistente de regência, assistente de produção, músicos, vocalistas.
Nova metodologia
Com os desafios, uma nova metodologia de ensino foi criada. “Os coralistas precisaram adquirir uma nova postura. Não era mais possível camuflar a própria voz no meio de outras. Precisaram ter coragem para conhecer melhor sua voz, criar sua própria performance descolada dos demais. E isto, solitariamente, em sua casa, utilizando meios que não lhe eram familiares: links, senhas, plataformas”, conta Dani Mattos.
Foram realizadas aulas virtuais individuais e em grupos com os coralistas das diferentes cidades, com ensaios programados por naipes de vozes, atividades de improviso, exercícios de consciência corporal, vocal e auditiva para a produção dos áudios e vídeo, que foram editados com imagens e vozes sincronizadas.
E os resultados mostraram que, mesmo de forma virtual, a cultura venceu os desafios.
“Participar desse projeto mostrou que é possível fazer um coral online. Adorei a abordagem da regente em relação aos cuidados com o relaxamento, posicionamento de corpo, postura, aquecimento. Isso facilitou bastante na hora de soltar a voz. Fomos perdendo a timidez como aconteceria em um coral presencial, outra vantagem é que todos os áudios ficam disponíveis para estudos”, contou a coralista Maria Beatriz Spegiorin Salla Nogueira, que também atua como professora de Música em Conservatório e Ensino Fundamental, em Guararapes, interior de SP.
Revelando talentos
Atuar com músicos e coralistas de diferentes cidades revelou diversos talentos. Como é o caso, por exemplo, do músico de Ilhabela, Fernando Cardial, conhecido como Fidura, que teve sua canção autoral “Vai que a maré cura” cantada e improvisada pelos alunos do grupo de sua cidade. Em 2001, na cidade de Ilhabela, Fidura já havia sido aluno de música da regente.
Além do músico Camilo Frade, de São Luiz do Paraitinga. ” Por ser um músico popular e autodidata, tive dificuldades em compreender as linhas vocais de cada voz (tenor, baixo, barítono, soprano…). Também, por não exercer a leitura de partitura no dia-a-dia, tive dificuldade em realizar o trabalho final. No entanto me deparei com um grupo de pessoas muito especiais e interessadas pela investigação da voz através de ferramentas lúdicas, com base em técnica vocais e bagagens que a própria vida confere a voz de cada um”, falou Camilo Frade, artista e cientista social, de São Luiz do Paraitinga.
Apresentação artística
Quem assiste aos vídeos em mosaico com as canções “Adalgisa”, de Dorival Caymmi ou “Tristeza do Jeca”, de Angelino de Oliveira, com arranjos da regente, não imaginam que o coral foi montado em apenas dois meses e no formato online. Especialmente, que muitos desses coralistas eram de diferentes cidades e se conheceram pela primeira vez no projeto “Consciência Vocal e Auditiva e Improvisos no Canto Coral’. Você pode conhecer o trabalho desses músicos no Carnal do Youtube da regente Dani Mattos.
O projeto Consciência Vocal e Auditiva e Improvisos no Canto Coral tem apoio do ProAC Expresso LAB Nº 41/2021, promovido pela Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo.
Sobre Dani Mattos
A cantora, regente e pesquisadora paulistana Dani Mattos está à frente de três grupos musicais para os quais escreve projetos e arranjos: Toque de Bambas, Dani Mattos Trio e o grupo vocal Poucas & Boas. Com eles, ela realiza diversos espetáculos como : Cronistas da Cidade (que deu nome ao seu primeiro EP); A Época de Ouro da MPB no Rádio, uma visão feminina; Le Savoir Vivre Francês e Brasileiro Une Enchantement Mutuel (Noite Francesa); Caymmi, as várias personas de um artista brasileiro; Vinícius, o poeta amador e Villa Lobos para Todos.
Com o seu grupo vocal Poucas & Boas, do qual é regente há quinze anos, Dani Mattos também realiza diversas atividades formativas com educadores, alunos, poetas e músicos. Devido a pandemia, os encontros presenciais passaram a ser virtuais, agregando profissionais de diversos estados brasileiros e até do exterior.
Dani Mattos é formada em regência e Educação Artística, estudou na Escola Municipal de Música, no Conservatório Musical Brooklin Paulista e na escola experimental do SESC