Enem 2018 aborda assuntos polêmicos

Violência contra a mulher, Declaração Universal dos Direitos Humanos, democracia, período da Ditadura Militar brasileira, misoginia, Era Vargas, socialismo, gays e transsexuais foram alguns dos temas abordados nas questões do primeiro dia de provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Esses assuntos podem ser considerados polêmicos, frente aos recentes debates políticos e sociais pelos quais o Brasil passou nos últimos meses. Em live no Facebook, os professores do Sistema Positivo de Ensino ressaltaram algumas questões que poderiam causar repercussões ou confusão no ponto de vista de interpretação da prova:

O dialeto dos transsexuais e gays

Considerada como a questão mais polêmica da prova, a pergunta nº 31 da prova amarela abordou a linguagem típica entre gays e travestis, fazendo uma relação direta com uma linguagem de matriz africana. Segundo Camila Souza, professora de Filosofia e Sociologia do Sistema Positivo de Ensino, esses são dois temas que normalmente geram bastante discordância e até rejeição de determinados grupos. “São temas que, dependendo da falta de compreensão da pessoa, ela pode responder baseada em estereótipos e não em conhecimento científico, não na base do texto que está sendo apresentado para ela”, explica.

Para a professora, o tema escolhido para o texto base pode gerar comentários no sentido da necessidade de uma questão dessas em uma prova de língua portuguesa, porém, a questão foi muito bem elaborada, deixando claro o foco na diferenciação de dialeto enquanto elemento linguístico. A professora de Língua Portuguesa, Lucienne Lautenschlager, concorda com a polêmica envolvida na questão e conta que, do ponto de vista técnico, a resposta correta seria a que afirma que o Pajubá ganha status de dialeto, “especialmente por ser consolidado por objetos formais de registro”.

Alternativas distratoras em Literatura

Outra questão comentada pelas professoras do núcleo de Língua Portuguesa do Sistema Positivo de Ensino foi a nº 38 da prova amarela, que apresenta um diálogo entre mulheres de uma mesma família a respeito do significado da palavra “lésbica”. A professora Bianca Buzzi explica que o principal fator de confusão é o enunciado, que pede que o estudante identifique qual a “tensão fundamentada” no texto. “Todos os elementos que estão nessa narrativa de alguma maneira geram uma tensão na interpretação da questão, por isso, optamos por seguir pelas palavras-chave no texto, que mencionam o silêncio e o medo de falar”, explica Bianca, apontando então a opção “silêncio em nome do equilíbrio familiar” como a alternativa correta.

A professora Juliana Fernandes complementa que o texto apresenta três visões de personagens a partir de um só olhar, o que pode trazer diferentes interpretações. “Quem conta é a garota que se sente na posição de estar sendo descoberta e acaba sendo interrompida pela aparente inocência de uma criança, então essa é uma questão que pode gerar confusão pela complexidade dos pontos de vista”, justifica.

Valores da Educação Física

Uma questão citada pelos professores de Educação Física foi a de nº 11, sobre os valores desenvolvidos por meio do esporte. Com menos polêmicas sociais e mais dificuldades do ponto de vista de interpretação da questão, os professores consideraram que o enunciado poderia confundir o aluno pela frase “no contexto das aulas de Educação Física escolar”. “O texto base apresentado levava a um conhecimento exigido por meio de um documento histórico da Educação Física que o aluno pode não ter tido acesso especificamente durante o contexto das aulas, podendo ser visto como algo interpretativo mas, na realidade, era bem objetivo”, expõe a professora Juliana Landolfi Maia.

Quanto às outras competências, apesar de temas que poderiam render debates, as questões foram bem parecidas com as edições anteriores do Enem. Em Artes, os professores do Sistema Positivo de Ensino afirmaram que as questões foram bem elaboradas, mas faltou um pouco de pensamento crítico exigido dos estudantes. As questões de Literatura foram todas interpretativas, sem abordar gramática ou noções especificamente literárias, e História seguiu o padrão que já vem sendo feito nos últimos anos.

 

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