A força que vem da terra

Um novo ano se aproxima, e entre medo e esperança traçamos os rumos de nossa vida em 2021.

Foi pensando nessa dualidade de sentimentos que comecei a observar a nossa mãe natureza, para aprender como ela se renova após tanta devastação sofrida por nossas mãos.

E lembrei-me das árvores-filhas, aquelas que brotam da raiz invisível da árvore-mãe que tomba sob o golpe da serra, e crescem sem serem semeadas. Mesmo depois de ceifadas, as raízes vitais da árvore-mãe permanecem abaixo da terra, empurrando a energia para cima, empurrando o seu espírito essencial em busca da vida. Da árvore-mãe que foi ferida, começam a nascer os brotos de novas árvores, porque a vida está armazenada em suas raízes e essas os homens não podem destruir.

E eu pergunto: de onde vem essa força, senão das raízes entrelaçadas de muitas árvores-mães que vivem desde tempos imemoriais aqui em nossa terra? Delas, da natureza, é que vem o ensinamento de resiliência que nosso corpo encontra, e que nos faz resistir e encontrar saídas, mesmo quando nos sentimos fraquejar. Em nossas raízes se encontra o território de nossa alma, abrigo de nossa essência.

Assim também acontece com o ser humano. Nossa alma é o abrigo de nossas raízes. Qualquer ferimento que possamos sofrer na vida não tem o poder de nos abater nem destruir, porque é pelas feridas que entra a luz.

É este o significado oculto no conceito de ‘cura’. São os ferimentos que nos fazem resgatar nossos recursos de cura. É uma força que brota de nossas raízes entrelaçadas, que sobe vibrante em busca de vida, seja no corpo, seja no espírito. É essa força que nutre nossa esperança para 2021.

Somos os sobreviventes de uma epidemia global, e tanto a nossa vida como a vida do planeta, no futuro, vai depender do sentido que conseguimos assimilar desses acontecimentos. O sofrimento costuma ser um educador severo, mas sempre saímos transformados depois da dor.

As luzes de 2021 apontam para uma mudança em nossa visão de mundo: de uma sociedade egocêntrica e individualista, competitiva e inconsequente, estão brotando as raízes-irmãs de uma humanidade consciente de sua responsabilidade pessoal e comunitária. E eu diria, também, cósmica!

Mani Alvarez é diretora do CLASI – Instituto de Transpessoal e coordenadora do curso de pós-graduação em Naturologia Transpessoal. É mestre e doutora em Filosofia da Educação pela Faculdade de Educação da UNICAMP; Especialização em Psicologia Transpessoal e diretora do CLASI – Instituto de Transpessoal.

 

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