OSCIP Trilhos do Jequitibá e o Projeto de Compostagem que hoje é empresa e referência em sustentabilidade
Matéria: Paula Partyka
Organização não governamental de Jaguariúna é referência em boas práticas e já recebeu prêmios importantes
O presidente, Hilário Argemiro, explica que a OSCIP Trilhos do Jequitibá é sem fins econômicos, pois lucro toda instituição tem que ter. “Os dirigentes da instituição não visam lucro. Querem fazer o bem, então não visam o bem econômico que move ele, mas sim a vontade de fazer o bem. E todos nós da Trilhos pensamos assim”.
Como uma instituição desse formato, a lei permite que o presidente e diretor recebam um salário, eles optam por não receber nada. Hilario não considera justo a instituição receber uma doação e ele receber o dinheiro, isso está documentado.
Ao trabalhar em um projeto dentro da Trilhos, é possível e justo receber. “Porque vou gastar gasolina, gastar meu tempo e buscar clientes. Então, o diretor que trabalha ganha pelo projeto, não pela ONG”, explica.
A instituição foi criada para ser uma incubadora de projetos. Ou seja, se você tem a vontade de implementar um projeto na cidade você deve apresentá-la para a diretoria da instituição que é composta pela presidente da OAB de Jaguariúna, psicólogos, engenheiro civil, engenheiro ambiental, nutricionista e outros.
Se o projeto for aceito, são abertas portas e você é conduzido até que seu projeto ganhe asas. Ao vingar o projeto, parte de 20% dos lucros são repassados para a instituição.
Atualmente, são quatro frentes na Trilhos. Um projeto de compostagem, um de hortas urbanas, um de combate a dengue e o projeto “Empresta o Batom” (matéria exclusiva na próxima semana com a responsável deste projeto). Hilário representa os projetos visitando as empresas. Quando há interesse ele passa o contato do responsável pelo projeto.
O idealizador do projeto de Compostagem, e também responsável técnico, é Cassio Silva. O produto dessa ideia é único em toda a região, com a grande ressalva que não possui nenhum produto químico.
Hilario conta que a ideia de Cassio apareceu na Trilhos em 2015. A partir de conversas foram realizados testes com o composto orgânico e com o bom resultado foi montado um espaço dentro da Associação Carisma para usar o adubo que estava sendo feito. Juntos são responsáveis pelo projeto.
Estão na Associação 32 homens dependentes que tem a oportunidade de trabalhar, se quiser, no projeto de Compostagem. “Só que depois vimos que dava para vender esse produto pois havia procura. Aí tivemos que abrir uma empresa”.
Com isso, foi aberta a empresa MudaVisão em Compostagem. HIilario explica que foi preciso buscar todas as licenças para atuar no ramo, sendo elas, licença na Prefeitura Municipal, no IBAMA e na CETESB. Esse processo demorou cerca de quatro anos.
Atualmente, com a licença, a empresa pode produzir 110 toneladas por mês de composto orgânico. E é pouco. “Porque como depende destas licenças, usamos apenas o resíduo gerado no Carisma e uma churrascaria próxima. Porque enquanto a Cetesb não nos envia o certificado, não podemos recolher resíduos de empresas. Quando estivermos com o certificado poderemos ir nas empresas pegar, e a Ambev, por exemplo, gera cerca de 15 toneladas de resíduos por mês. Imagina pegar a Motorola que gera 20 toneladas, e tantas outras empresas”. Por isso, o espaço que o MudaVisão utiliza hoje é pequeno, mas Hilario conta que já está sendo buscada outra área.
Para buscar a comida nas empresas, existe um custo, portanto as empresas precisam pagar. “Só que, existe uma Lei de Incentivo Fiscal. Então, quando a empresa paga imposto de renda ela pode destinar até 2% do seu imposto para o projeto. Por exemplo, para montar uma usina custa R$270 mil reais. A empresa vai tirar esse dinheiro do caixa dela? Não. Vai tirar do imposto que será pago para o governo, então para ela é lucro”, explica.
Com isso, o coposto orgânico é feito, vendido e dentro da empresa são realizadas algumas ações. Semana do meio ambiente, ações na comunidade, certificação a nível internacional por atuar nesse processo e outros benefícios o projeto gera para as empresas.
O composto orgânico, nada mais é, que restos de comidas. “Tudo aquilo que sobra nos refeitórios das empresas nós coletamos e misturamos com galho de árvore moído até a altura de um metro de vinte”, explica. Depois de 90 dias é feito a mistura disso e é necessário aguardar mais 15 ou 20 dias para peneirar e ter o produto final. Com os resíduos utilizados atualmente são feitos até quatro toneladas por mês.
Conquista
O projeto MudaVisão em Compostagem foi avaliado em São Paulo por uma banca na quarta-feira, 26, que contou com 12 especialistas de 7 diferentes países (Alemanha, Brasil, Estados Unidos, Itália, México, Portugal, e Reino Unido) que avaliaram os cases sem terem acesso ao nome das organizações, conforme determina a metodologia do Programa Benchmarking, reconhecida pela ABNT.
Trata-se da 17ª edição do Programa Benchmarking que apresentou os melhores cases e projetos selecionados por banca internacional que pontuou e definiu Score para que fossem certificados Benchmarking pela excelência de suas práticas. Os certificados Benchmarking (referências em boas práticas) presentes no XVII Bench Day, vieram de oito estados pertencentes a quatro diferentes regiões do país: RS, SC, PR, SP, RJ, MG, CE, MA, AM.
Este é um respeitado Programa de Sustentabilidade que reconhece, certifica e compartilha cases de boas práticas há mais de uma década. Até o momento aproximadamente 400 cases apenas da modalidade Senior, foram certificados por banca internacional com metodologia reconhecida, para depois serem compartilhados em publicações (livros, revistas, portais e bancos digitais) e eventos (encontros, seminários, fóruns e congressos). Os ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) estão inclusos na metodologia de seleção dos cases de sustentabilidade, e as metas e compromissos do Programa estão na plataforma Sustainable Development Goals (SDG) da Agenda 2030 da ONU.
Associação Carisma
30% do que é vendido pela MudaVisão é destinado para ajudar a manter a Associação Carisma. Um dos internos começou a trabalhar na produção do adubo, atualmente é o responsável desse processo.
Hilario salienta que o trabalho é totalmente voluntário. “Ele é o responsável por isso. E o que estamos fazendo? Estamos treinando essas pessoas para quando eles se sentirem aptos, deixaremos isso na mão deles. Aí abriremos um MEI para eles e eles terão um emprego”, explica.
Para trabalhar na empresa, serão empregadas pessoas em vulnerabilidade/dificuldade. “Queremos colocar ele lá dentro (da empresa) e dar uma chance para ele”.