Problematizaram a Barbie

Nem bem o filme da Barbie foi lançado e já começou a ser bombardeado. Não me refiro às críticas especializadas, como em qualquer outra arte, onde avalia-se os pontos positivos e negativos, o que agrada e desagrada ao público. Problematizaram o filme com questões racistas e de gênero, além de grupos feministas que levantaram bandeiras sobre o “comportamento Barbie de ser”, linda, loira e perfeitinha. A questão é que Barbie é uma boneca, criada em 1959, numa época em que o contexto era outro, diferente do atual. Desde então ela sempre foi alvo de todo tipo, porém foi se moldando, conforme os costumes e avanços na sociedade também iam passando por transformações. O filme é uma expressão baseada na boneca, longe de ser motivo de “problematização”. Inclusive, se olharmos mais de perto, encontramos nela atitudes até bem à frente do seu tempo. Barbie é trabalhadora, assumiu cargos importantes quando a mulher mal tinha voz na família nem muito espaço no mercado de trabalho. Barbie dirige seu próprio carro e, para quem não reparou, em muitas versões seu namorado Ken é o cara que anda a pé (e tudo bem também). Poderia expor ainda mais detalhes, mas não é esse o propósito do texto. Quando digo que problematizaram o filme, é a crítica pela crítica, sem observar o contexto, as mensagens, os porquês. E, infelizmente, problematizar a Barbie é só um exemplo do que algumas pessoas têm feito com suas vidas, encontrando problemas onde não têm ou dando uma grande dimensão aos que realmente existem.
Em consultório observo a carga que alguns clientes colocam nas questões do dia a dia, transformando tudo em um grande problema que, movidos pelas emoções mal resolvidas, não conseguem enxergar uma saída. Entre os amigos, vez ou outra, é natural encontrar também aquele que faz de um probleminha um problemão e que, aos olhos de quem vê de fora, essa “nuvem escura” nem é tão feia assim. Todos estamos sujeitos a passar por isso porque somos humanos, mas o ruim é quando problematizar vira um hábito. Falando por experiência própria, também já problematizei questões que não mereciam mais do que um minuto do meu tempo e atualmente quando isso acontece faço a tal auto avaliação, que, se você me acompanha, sabe o quanto valorizo. Hoje, quando percebo que estou gastando um pouco mais de energia com algum problema, paro, penso e reavalio.
Não tenha medo de analisar a interpretação que você está fazendo dos fatos ou das pessoas. Se for preciso mude de opinião. Fazer isso é sinal de inteligência e maturidade. Nenhuma ideia, crença, costume ou percepção precisa ser eterno ou rígido. O mundo vive em constante transformação e nossa mente também, então é importante usarmos isso a nosso favor. Observar as nuances, procurar entender as informações que nos chegam, inclusive entender as atitudes dos outros e ver as coisas por outro ângulo considerando o contexto, nos traz novas experiências cerebrais. Falando de forma popular, é colocar a cabeça para pensar ao invés de ir na “onda” do que estão dizendo ou seguindo um padrão que te ensinaram, por costume. Deixar de problematizar é só uma questão de treino. Parar de olhar a vida pelo lado negativo e perder a mania de tentar achar “pelo em ovo” como se diz, já é um grande começo.
Muitos relacionamentos acabam com aquelas acusações: “você não era assim, tudo é um problema, é muita chatice”. São pessoas que passaram a problematizar a vida, o casamento, as ações do parceiro ou parceira. No ambiente corporativo também é comum as pessoas buscarem culpados em assuntos que seriam facilmente solucionados com leveza, compreensão e apoio mútuo. Posso até assegurar que, na grande parte das vezes, o problema nem é o que está ali apresentado, seja num relacionamento a dois, na família ou no trabalho. Se isso estiver acontecendo com você perceba se não existe alguma frustração relacionada às suas próprias escolhas, um descontentamento com a vida, com você mesma, com suas emoções. Muitas vezes é difícil reconhecermos a responsabilidade que temos nas decisões erradas que tomamos na vida, ou não sabemos trabalhar nossos sentimentos ou ainda não nos aceitamos, não nos amamos como deveríamos e então começamos a encontrar defeito nas coisas externas. Na casa, no marido, na esposa, no chefe, na colega do trabalho, na comida, no médico, nas situações inesperadas como uma doença ou um acidente de percurso.
Tenho um amigo que assumiu um cargo de chefia numa empresa e conseguiu, com sabedoria, mudar um clima hostil que existia na equipe. Ele fez isso “freando” atitudes negativas. Por exemplo, quando uma colega o procurava para fazer um comentário sobre outra colega, problematizando uma situação, ele dizia: “o que você veio me falar é positivo ou negativo? Porque se for negativo, pelo prazer de falar, nem venha”. Por vezes também ajudou as pessoas a pensarem, fazendo perguntas do tipo: “Isso que você está considerando tão ruim que a fulana te falou, será que é mais uma percepção sua ou realmente a outra agiu de má fé”? Fazendo isso ele tem percebido que muitos pararam com o “mi, mi, mi”. Se você puder colaborar com quem está a sua volta, ajudando-os a levar a vida de forma mais leve, assim como esse meu amigo fez, faça isso também. Quanto a sua própria história, ela pode ser mais colorida, pode ser um filme alegre e divertido, sem preconceitos, pode ser um drama cheio de superações, pode ainda ser uma comédia daquelas ótimas em que o protagonista ri de si mesmo ou uma história de inspiração. Portanto é uma escolha só sua. Decida você mesmo como é melhor escrever seu roteiro e dar o tom que você quiser pra sua vida, problematizando tudo e todos – ou não.