Quando os sonhos mudam!

Uma pessoa com quase sessenta anos. Estável, equilibrada, é tida como uma pessoa resolvida na vida, esta é a expressão que a define bem. Separada há uns quinze anos, realizada em sua atividade profissional, possui bom relacionamento com seus filhos e inclusive estabeleceu novo relacionamento afetivo, que lhe é muito satisfatório.

Apesar de reconhecer todos os motivos para ser uma pessoa alegre e feliz, trazia consigo uma certa tristeza que deixava opaco os momentos que deveriam ser apenas de brilho. Tristeza essa que repentinamente a fazia ficar introspectiva, aparentemente distante de tudo que a cercava.

Foi em uma sessão onde o assunto girava em torno de suas novas aspirações e conquistas que teve seu maior insight: Sua vida havia mudado, mas seus sonhos antigos permaneciam. Sentiu intensamente o motivo de seus momentos de quietude sem explicações, que despertavam certa nostalgia, até então incompreensível e não justificada.

Crescido e formado em época onde os valores de família e de casamento eram “para sempre”, apesar de uma separação consciente e consensual, o fato afetou grande parte de seus sonhos, sonhos que alimentaram expectativas que já não mais poderiam ser mantidas.

Ele tinha toda a consciência de que fizera o melhor, mas inconscientemente prevalecia o estabelecido no início de sua vida, isso fazia com que seus sonhos antigos ficassem a cobrar realizações que não mais tinham chances de acontecer.

A percepção desse fato lhe foi muito dolorida, mas simultaneamente aliviadora. Segundo suas próprias palavras: “está sendo a abertura de espaço para que eu possa dar vida a meus sonhos atuais”.

Sempre falamos do “viver o momento presente”, do desligar-se do passado e não se agarrar ao futuro, pois ele ainda não chegou. Porém a pratica do “aqui e agora” é um grande exercício, que requer disponibilidade e humildade. Estar disponível para tudo que nos acontece e humildade para vivermos exatamente o que se apresenta, pois não se pode controlar e determinar tudo.

Vejam quantas mudanças já ocorreram em suas vidas. Não só de relacionamentos, mas em todas as áreas de suas vidas. Aquele emprego que parecia ser o que ficariam até suas aposentadorias e que de repente, deixou de existir. Sonhos se formaram considerando aquela realidade. Quantos desses sonhos se transformaram em objetivos e cujos planos foram feitos baseados no que era vivido na época?

Hoje, não mais possíveis. Eis aqui o ponto de reflexão: Conscientemente existe a compreensão de que as condições mudaram. Racionalmente ocorre o estabelecimento de novos objetivos em novos caminhos. Mas, e o que ficou dentro de si? Inconscientemente há tantas situações não sabidas. No exemplo acima, ele constituiu novo relacionamento, uma nova e feliz família se estabeleceu e mesmo assim ele tinha momentos nostálgicos, apenas porque tinha dentro de si que não fora feito para se casar e depois se separar. O para “todo sempre” se fazia vivo e forte, presente e em contraste com cada momento vivido.

A descoberta desses desencontros internos propicia o “encaixar das peças” de nossas vidas de forma leve e harmoniosa, sem a existência de mal-estares, de culpas ou remorsos. Implica na real aceitação da própria condição de sua vida, onde todas as opções e conseqüências passam a ser completamente assumidas.

Quando as situações mudam, sonhos podem mudar. Permanece a essência do ser humano que é o buscar se realizar e se satisfazer com as conquistas atingidas. Não significa apagar sonhos antigos como se não tivessem existido, mas dar espaço aos sonhos que podem e devem ser buscados.

A compreensão e aceitação de nossa vida tal qual ela é propicia, em primeiro, a paz interior e em seguida a consciência do que podemos fazer para melhorá-la. E então fazer.

Paulo Antolini é Psicólogo, Psicoterapeuta, Practitioner Programação Neurolingüística, Administrador e Consultor de Empresas. | Fones: 019-3834-8149 / 019-99159-2480 / 011-97452-8262 Email – paulo.salvio@terra.com.br

 

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