O DISFARCE DA INVEJA
A palavra “inveja” vem do latim “invidia”, deriva do verbo “invidere” e significa “não ver” ou “olhar mal”. A palavra sugere que o invejoso não vê a realidade como ela é, não enxerga a própria vida e ainda olha a vida do outro por uma perspectiva negativa.
No dicionário a inveja significa desgosto provocado pela felicidade ou prosperidade alheia. É o desejo irrefreável de possuir o que é do outro. Portanto, invejar é prestar atenção lançando um olhar negativo, normalmente em relação às posses, conquistas, estilo de vida, aparência ou qualidades de outra pessoa. É negativo por não existir nesse olhar algo bom como reconhecimento e empatia com a felicidade da outra pessoa.
O desejo de possuir o que o outro tem não pode ser considerado normal, inofensivo, nem confundido com um incentivo, uma motivação ou inspiração em algo ou alguém. A inveja é prejudicial e pode desencadear mais sentimentos ruins, como a sensação de desmerecimento, ansiedade, frustração e angústia. Ela anda de mãos dadas com a cobiça e uma retroalimenta a outra num verdadeiro espiral de mágoa e ressentimento, que pode “cegar” uma pessoa. Ou pior: pode torná-la escrava de desejos que nunca são saciados e geram um vazio existencial ainda maior.
Não à toa a inveja é considerada um dos sete pecados capitais. A Bíblia a apresenta em diversos momentos como uma força que motiva outros males. Por exemplo, foi pela inveja que a morte entrou no mundo, quando um anjo de luz desejou ser Deus e foi expulso do céu. No Antigo Testamento também encontramos a tragédia de Caim que, por inveja, matou o próprio irmão Abel. Em toda a história da humanidade encontramos pessoas motivadas pela inveja, se destruindo e destruindo o que tem em volta.
A questão é que provavelmente todos nós já experimentamos a inveja em algum momento. Portanto precisamos saber quando ela vem disfarçada de um outro sentimento mais brando. O marketing, por exemplo, é expert em maquiar a inveja, a embrulhar em papel de presente e nos apresentar situações, lugares, produtos e pessoas (que são os próprios produtos) como se isso fosse a fórmula para a felicidade.
Achei curioso quando vi um esmalte com o nome “inveja boa”. Comentei sobre isso no salão de beleza e ouvi pessoas dizendo que acreditam existir a inveja que não faz mal. Sinceramente, ou elas não entendem o que a inveja representa ou ficam desconfortáveis em admitir o que sentem. Realmente não é fácil reconhecermos em nós algo que não é bonito de se ver. Considerei um avanço, quando uma cliente minha, da terapia, olhou nos meus olhos e disse: “preciso te contar que eu dirigi o carrão de luxo de um amigo e me senti muito importante! Fiquei me achando! Depois fiquei mal e me senti diminuída ao voltar pro meu carro popular”. E continuou: “quando eu vejo nas redes sociais mulheres bonitas, eu sinto inveja das roupas, do cabelo e tudo mais. Fico pensando que eu deveria ser assim e não sou”. Perceba que reconhecer esse sentimento é o primeiro passo. Ela não só teve coragem de admitir, como concluiu que não pode continuar invejando porque lhe faz mal. Conversamos sobre se sentir o máximo no carro de luxo e, não vamos ser hipócritas, porque é natural gostar do que é bom, bonito e confortável. O problema é quando a gente precisa do carrão para se sentir importante. Quando nos sentimos o máximo também num carro popular, então entendemos o que importa: que a nossa essência não muda em função do lugar em que estamos.
Em relação à inveja diante do que a mídia nos apresenta, como a minha cliente relatou, tem sido cada vez mais comum. Muitos se espelham em belezas irreais e em estereótipos inatingíveis, desenvolvendo além da inveja, inúmeros transtornos mentais. Se você admira alguém e torce para que ela continue sendo feliz ou até se inspira nessa pessoa, você está emocionalmente saudável. Mas se você sente inveja e despeito a ponto de perceber que algo está errado, comece a trabalhar sua autoestima. Se olhe de frente. Entenda quem você é, o que poderia mudar para melhorar (se for o caso) e o que não é possível nem necessário. Atitudes simples surtem resultados incríveis se aplicadas constantemente. Algumas delas são:
– Observe seu biótipo, comece a valorizar seus traços e ressalte o que tem de mais bonito. Se seu cabelo for cacheado por exemplo, assuma os cachos, solte-os. Se gosta da sua boca, abuse do batom. Se os olhos são mais expressivos, destaque-os;
– Se preocupe menos com o que o outro pensa ou acredita ser a verdade. Assuma o que você gosta e corra atrás do que te faz feliz;
– Pare de olhar a grama do vizinho. De perto normalmente não é o que parece ser. Ela pode ser artificial, de plástico ou pode estar cheia de ervas daninhas por debaixo daquele verde aparentemente lindo;
– Se valorize. Nossa experiência de vida é o que nos faz singular. Ou seja, eu não sou como você e você não é como ninguém mais. Sempre haverá diferenças e isso faz o mundo ser diversificado e especial;
– Diminua sua ansiedade com exercícios, alimentação, práticas de respiração e meditação. Isso te fará focar no que importa: Você.
Caso seja difícil lidar com isso sozinha, busque ajuda profissional. Uma terapia te ajudará a resgatar seu amor próprio e amadurecer emocionalmente. E se esse texto ajudar alguém com quem você se importa, repasse. Um ótimo final de semana e até a próxima!