Como não tornar a crise financeira um caos psicológico?
“A crise é a maior benção que pode acontecer às pessoas e aos países, porque a crise traz progressos”, disse Einstein. Acredito que soe um tanto contraditória essa frase, na medida em que não opõe crise x benção. A equação, segundo Einstein, é crise = progresso.
Podemos afirmar que crise é uma questão de interpretação. Diante dela, há, no mínimo, três interpretações: há quem queira sair correndo, que responde pela via do desespero; há quem paralisa, aquele que acredita que, se ficar quietinho, esperando o problema passar, não precisará ter “trabalho” e ainda terá se poupado dos riscos; e há quem vê na crise uma oportunidade de, criativamente, construir saídas originais.
Do ponto de vista analítico, há dupla referência: tanto a crise abre para a mudança, como, também, é um convite à criação. Mesmo não querida, uma vez ocorrida, a crise é uma oportunidade para se inventar um jeito diferente de se fazer o que não está dando certo. Lacan dizia que não há momento melhor para se iniciar uma análise do que quando tudo dá errado.
Toda crise inscreve uma mudança. É essa a sua essência. E, para que essa mudança não seja para o pior, há que o ser humano utilize o que, de fato, é o maior patrimônio humano: a criatividade.
O ser humano tem a criatividade como uma das maiores possibilidades de adaptação e invenção do novo. Conseguimos cultivar a criatividade, na medida em que, duvidamos das nossas próprias paranoias e da aprovação dos outros e deixamos fluir as novas ideias.
Os filósofos afirmam que a única saída que se pode ter diante de uma crise é a ação, ou seja, a tomada de uma decisão. Frente a ela, colocar-se como refém ou paralisar não é a melhor resposta. Quando as pessoas acham que não vai dar certo, elas nem tentam, e assim deixam de realizar as maiores coisas da vida.
Esperança é aquilo que você faz, não por que dará certo, mas por que vale a pena. No caso, não estou utilizando a palavra “esperança” no sentido de ficar à espera, mas, sim, refiro-me ao verbo “esperançar”, aquele que te impulsiona, te faz agir. Orientar-se pela pergunta “será que vai dar certo?” é querer uma resposta pronta e garantida, mas só se pode saber verdadeiramente, na medida em que se faz, incluindo aí, o risco da aposta.
Walter Elias “Walt Disney” foi alguém que apostou todas as suas fichas na sua ideia. No início de sua carreira, foi demitido de um jornal pela “falta de imaginação e boas ideias”. Sem teto, chegou a passar fome e necessidades básicas. Apesar da situação em que vivia, tomou a decisão de romper com o seu único contrato de trabalho, por uma questão de honra. Colocou em jogo sua carreira, e foi nesse momento que surgiu a grande ideia do personagem-ícone Mickey Mouse.
Diante da crise, Walt Disney conseguiu interpretá-la de uma forma que não foi nem derrotista, nem fatalista, mas, sim, inovadora! Existe uma tendência em olhar para pessoas como ele, como seres de outro planeta, que “já nasceram prontas”, e que a ascensão ao sucesso, foi uma estrada lisinha, sem buracos, curvas perigosas e pedágios. Ao contrário, para tal, faz-se necessário pagar um alto preço pessoal.
“Frente às incertezas da vida, apoiar-se na certeza do pior não é a melhor certeza”, afirma Jorge Forbes. Não importa onde você more ou o ambiente externo ao qual esteja inserido; importa o que habita dentro de você e aonde você quer chegar. Justificar os seus fracassos pela situação externa não é se haver consigo mesmo e com suas escolhas.
Patricia Furlan. Psicóloga no Programa da Medicina Preventiva Unimed – Corpo e Mente. Psicanalista em formação pelo Instituto de Psicanálise Lacaniana – IPLA. Articulista do Alô Psicanálise IPLA-SP.