“Cenário de Guerra” em Petrópolis, relatam Bombeiros de Itapira que atuaram durante buscas por vítimas
Voluntários atuaram na cidade devastada pelas chuvas por uma semana até voltarem ao interior de SP nesta terça-feira (1°). Tragédia já deixou 231 pessoas mortas; cinco seguem desaparecidas.
Os trabalhos de buscas por desaparecidos e de ajuda aos sobreviventes da chuva catastrófica que atingiu Petrópolis, na Região Serrana do Rio de Janeiro, contaram com a participação de três bombeiros voluntários de Itapira (SP). Até a última segunda-feira (28), pelo menos 231 pessoas foram encontradas mortas na tragédia e outras cinco, ainda estavam desaparecidas, segundo a Polícia Civil.
Rômulo Pereira da Cruz, subcomandante, é um dos integrantes do trio, que voltou a Itapira na madrugada desta terça-feira (1°) após uma semana de trabalhos na cidade carioca. Na chegada, Cruz tentou resumir à EPTV, afiliada da TV Globo, o cenário que presenciou.
“O cenário que as gente viu quando chegamos lá foi um cenário de guerra. A cidade está em um caos muito grande ainda devido aos acontecimentos. Ao chegarmos à cidade, até chegarmos no nosso alojamento, no nosso ponto zero, a gente viu a tragédia nos nossos pés. Tinha muito barro, muito dejeto, muito entulho no meio das ruas. É uma coisa que deu para você parar, respirar e falar: ‘chegamos no local da guerra’. É uma visão bem perturbadora”, disse.
Já Jefferson Luis Onório destacou a lembrança de histórias de famílias destruídas pela tragédia. Na opinião dele, os relatos jamais serão esquecidos.
“Teve uma família que foi pai, mãe, sogra e duas crianças. […] Para a gente, vai ficar marcado para o resto da vida o pedido de ajuda dessas pessoas. Não consegue [segurar a emoção]. Costumo falar que a gente é um pouco robô, mas, naquele momento, o lado humano volta a aparecer e não tem jeito. O coração não aguenta”, destaca.
Rua em Petrópolis 2 dias depois do temporal — Foto: Marcos Serra Lima/g1
Trabalhos
Diante da fragilidade dos locais de busca e também dos cuidados com a possibilidade de haver sobreviventes soterrados, os bombeiros evitaram o uso de ferramentas, o que era um empecilho para os trabalhos.
Por outro lado, os voluntários contavam com ajuda de familiares das vítimas para identificar quantos ainda estavam desaparecidos.
“Locais que não tinha condição de usar nem as ferramentas, pá, enxadas, que era o que estávamos usando. Então as escavações foram feitas com a mão mesmo, retirada de galhos, de pedras, entulhos. Teve local que só conseguia entrar mesmo com um ou dois bombeiros para fazer a retirada, que foi feita com a mão mesmo”, relata Cruz.
Após jornadas de até 12 horas de trabalho, ao fim de cada dia, os bombeiros se abrigavam em uma igreja, onde também se alimentavam.
Apesar dos serviços exigentes, as equipes ainda encontraram tempo para momentos de descontração, como em cantorias para crianças que estavam no local e em abraços de agradecimentos por parte dos moradores, lembrados pelo também bombeiro voluntário Israel Aparecido Filisbino Fernandes.
“Eles viram que eram bombeiros de outros estados, então eles ficaram do lado e começaram a bater palmas, chorando, falavam: ‘obrigado por vocês estarem aqui’. Aquilo mexia com a gente um pouco, porque eles tinham pessoas que se foram naquele desastre.”
Bombeiros organizaram cantorias para crianças de Petrópolis — Foto: Reprodução/EPTV
Tragédia em Petrópolis
A chuva catastrófica que atingiu Petrópolis é considerada a maior tragédia da história da cidade, que já tinha sido atingida por temporais semelhantes nos anos de 1988 e 2011.
Segundo a Polícia Civil, os peritos ainda atuam na análise de DNA de despojos recuperados nas áreas afetadas.
Esta terça-feira é o 14° dia de buscas e as equipes contam com apoio de bombeiros de outros estados, voluntários e cães farejadores. Um grupo com 5 condutores e 5 cães chegaram da Argentina para auxiliar no trabalho. Ao todo, 58 cães farejadores estão na cidade.
Os trabalhos de buscas continuam no bairro Chácara Flora, onde há registro de duas pessoas desaparecidas. Já as buscas no Morro da Oficina foram encerradas neste domingo (27). O Corpo de Bombeiros informou que já encontrou todas as pessoas dadas como desaparecidas na localidade. Agora, além do trabalho na Chácara Flora, também há varredura pelos rios da cidade, onde três vítimas estão desaparecidas.
Bombeiros realizando remoção do corpo de vítima da tragédia de Petrópolis — Foto: CBM-AP/Divulgação