Jaguariúna recebe apresentação do espetáculo de dança “Mulheres de Arrimo”

Projeto realizado por dançarinas do Núcleo BPI apresenta trabalho
artístico desenvolvido a partir de encontro com mulheres de diferentes
realidades da região de Campinas/SP

As dançarinas Elisa Costa, Mariana Jorge e Nara Cálipo, do Núcleo BPI
de Campinas/SP, apresentam no dia 05 de outubro, quinta-feira, às 20h,
o espetáculo de dança “Mulheres de Arrimo” no Teatro Municipal
Dona Zenaide, em Jaguariúna/SP. Os ingressos são gratuitos e mais
informações podem ser conferidas no Instagram do grupo, em
@mulheresdearrimo . (Veja a programação abaixo).

Em “Mulheres de Arrimo” as três dançarinas convidam o público a
refletir e sentir, através do contato com a dança contemporânea,
sobre as diferentes maneiras pelas quais as mulheres estão inseridas
nas estruturas do patriarcado e do capitalismo – e como isso as afeta,
individual e coletivamente. Durante o mês de setembro, o grupo realizou
uma série de apresentações com plateias cheias em diferentes teatros
de Campinas e Hortolândia.
“De repente, nos vemos como arrimo de uma estrutura que não foi feita
por nós e nem para nós. Assumimos o desmanche para poder dançar
aquelas que são exiladas. Damos permissão para que bailem as nossas
partes rejeitadas, não aceitas e que não cabem nas realidades que nos
foram impostas”, conta o grupo. “Este é um convite ao delírio para
responder à urgência de transgredir normas enrijecidas, através do
corpo em movimento. Entre arrimar e desmoronar se faz o pulso de nós
três, para que possamos encarnar, a cada momento, a força truculenta
de estarmos vivas.”

Para a apresentação o trio conta com o apoio primordial do Núcleo
BPI, do qual fazem parte. Através de seu método criado pela profª.
Dra. e diretora artística Graziela Rodrigues, a equipe realizou
diversas pesquisas, rastreamentos e idas a campo que visaram um encontro
com as ‘mulheres de arrimo’ presentes nas ruas do centro da cidade,
em comunidades e acampamentos.
“O que se vê neste trabalho é uma força de se colocar em pé, que
se sustenta precariamente e desarrima, um movimento de destruição e
reconstrução constantes”, explica Mariana Jorge, uma das integrantes
do coletivo. “Queremos com este espetáculo provocar reflexões sobre
construções sociais, mas fazendo isso também com um certo humor, uma
ironia e uma ruptura”.

O projeto “Mulheres de arrimo: transgredir para amar” é uma
realização do Governo do Estado de São Paulo, por meio da Secretaria
da Cultura, Economia e Indústria Criativas.

Pesquisas de campo

Muitas mulheres – e suas vivências – compõem, de forma subjetiva,
o espetáculo “Mulheres de Arrimo”. Como parte do Método
Bailarino-Pesquisador-Intérprete, aplicado pelas dançarinas no
processo de construção desta obra, as idas à campo foram realizadas
com objetivo de deslocar dos ambientes normativos da dança e das
concepções estáveis de corpo e movimento. Assim, a feitura da dança
foi concebida a partir da relação com saberes situados em contextos
invisibilizados.

Tais visitas foram realizadas no Acampamento Marielle Vive, do MST
(Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), localizado em
Valinhos/SP, e também nas ruas do Centro de Campinas – mais
especificamente em contato com mulheres em situação de rua e em
vivência imersiva na tradicional lavagem das escadarias da Catedral
Metropolitana. Além disso, também foram estabelecidos vínculos com
cidadãs que passavam pelas ruas e no Mercado Municipal, local de
intenso fluxo de pessoas na cidade.
“O encontro com outras mulheres, em situações radicalmente
diferentes das nossas, nos acorda. Ressoa em nossas partes sufocadas e
escancara uma força de ruptura, de dizer ‘não quero’, de querer
fazer diferente, amar diferente, abrir o peito, estar mais viva. Temos o
direito de ser muitas, para além do que esperam de nós. Ressoar com
outras mulheres e com a diversidade delas acorda partes importantes de
mim”, afirma Mariana Jorge.

Arrimo em cena

Elisa Costa conta que o processo criativo tem permitido ao grupo dançar
as muitas mulheres que habitam cada dançarina. “Várias vezes a gente
se sente despedaçada e ficamos falando que temos que juntar os pedaços
e continuar. Nessa apresentação, nós nos permitimos estar
fragmentadas e reconhecer cada parte, aceitar o desmonte e fazer brilhar
cada caco no momento que for propício, possível ou necessário”, diz a
dançarina. “Existe uma generosidade no tanto que a gente se abre
emocionalmente neste espetáculo, com tudo o que somos – e nós somos
muito diferentes, mas em alguns momentos, de repente, a gente vira uma
só”.

Segundo Nara Cálipo, a apresentação mostra uma certa rebeldia, um
exercício de liberdade e de transgressão. “Há um conflito entre as
estruturas impostas e nossos desejos, e isso nos arrebata de forma
truculenta. Tudo isso precisa ser dito, e desta maneira. A sociedade nos
constrange constantemente e carregamos conosco várias trajetórias,
discutindo e dialogando com as realidades que a gente se propôs a tomar
contato”.

Sobre as dançarinas

Elisa Costa: Doutora em Artes da Cena pela Unicamp. Mestra em Artes da
Cena e graduada em Dança pela mesma Universidade. Praticante de Somatic
Experiencing (SE) em nível Avançado 2.
Atua como dançarina, intérprete-criadora, pesquisadora, direção e
orientação de trabalhos artísticos, dentre outras funções
relacionadas a processos criativos em dança.  É professora de Artes no
Ensino Médio da Escola Técnica de Hortolândia e professora no curso
Técnico de Dança da ETEC de Artes (São Paulo), Centro Paula Souza.
Integra o Grupo de Pesquisa “BPI (Bailarino-Pesquisador-Intérprete) e
Dança do Brasil” e o Núcleo BPI de produções artísticas, onde vem
realizando pesquisas e processos criativos diversos.
Realiza trabalhos voltados à Educação na OSC Centros Etievan, na qual
faz parte do time de educadores em formação contínua. Atua também
como terapeuta somática de SE.

Mariana Jorge: Dançarina, pesquisadora e professora. Doutoranda e
mestra em Artes da Cena pela Unicamp, onde também se graduou em Dança
(bacharel e licenciatura) e em Pedagogia. Desde 2010 integra o Núcleo BPI e o Grupo de Pesquisa e Criação em
Dança: Bailarino-Pesquisador-Intérprete (BPI) e a Dança do Brasil,
dirigido por Graziela Rodrigues. Com o Núcleo BPI desenvolve processos
criativos e performance de dança e pesquisas de campo no Brasil.
Esteve como arte educadora do Curso Profissionalizante em Dança da
Escola de Artes Augusto Boal – Secretaria de Cultura de Hortolândia.
Também atuou como orientadora artística da 6ª/7ª/8ª edição do
Programa de Qualificação em Artes – realizado pela Poiesis Gestão
Cultural em parceria com o Governo do Estado de São Paulo.

Nara Cálipo: Artista e pesquisadora da dança, doutora e mestra em
Artes da Cena pelo Programa de Pós-Graduação em Artes da Cena da
Unicamp e graduada em dança pela mesma Universidade. Ao longo dos 11
anos de formação acadêmica, sua investigação esteve nos processos
artísticos, sobretudo a partir do processo do
Bailarino-Pesquisador-Intérprete.
Desenvolveu inúmeras pesquisas de campo no Tocantins, junto às
mulheres quebradeiras de coco babaçu, à manifestação religiosa do
Terecô e também junto às artesãs do Capim Dourado, a partir das
quais elaborou também obras artísticas. Atuou em diversos processos
como bailarina e assistente de direção junto ao Núcleo BPI, dentre
eles “O Corpo como Relicário”, contemplado pelo ProAC.

Núcleo BPI

O Grupo de Pesquisa Bailarino-Pesquisador-Intérprete e Dança do Brasil
– Núcleo BPI é composto por um coletivo de artistas, educadores e
pesquisadores, com sede principal na cidade de Campinas, que possuem um
compromisso com a produção e disseminação do Método BPI.
Foi criado por Graziela Rodrigues e conta atualmente com um núcleo
estável de bailarinos-pesquisadores e também com estudantes em
formação no BPI. Possui vínculo institucional com o Departamento de
Artes Corporais do Instituto de Artes da Unicamp (Universidade Estadual
de Campinas), que se caracteriza como principal sede das produções.
Entretanto seus integrantes levam o Método BPI para seus outros
ambientes de atuação, ampliando o alcance e a disseminação das
ações do grupo.
As propostas artísticas do Núcleo BPI trazem uma estética
contemporânea diferenciada, na qual um Brasil periférico está
presente, sem haver uma apropriação, reprodução e estilização das
manifestações populares, mas sim, um corpo residual e afetivo. Todos
os espetáculos dentro do Método BPI estiveram ligados a pesquisas de
campo de segmentos sociais e/ou manifestações populares do Brasil.

Ficha técnica

Dançarinas-criadoras: Elisa Costa, Mariana Jorge e Nara Cálipo |
Realização: Núcleo BPI | Assessoria artística: Graziela Rodrigues |
Produção: Yasmin Berzin | Comunicação: Miguel Von Zuben | Figurino:
Warner Júnior | Iluminação: Francisco Barganian | Trilha sonora:
Rodrigo Hara |  Registro audiovisual: Pedro Spagnol | Design: Anna
Kelmer

Programação

Jaguariúna – Teatro Municipal Dona Zenaide

Data: 05/out (quinta-feira), às 20h

Endereço: Rua Alfredo Bueno, 1151, Centro

Ingressos: Grátis

Classificação etária: 14 anos | Duração: 50min