JUVENTUDE

Por Gabriel Montenegro, professor e psicólogo

 

Quando a cantora Sandy, da ex-dupla Sandy & Júnior lançou em 2013 sua música single “Aquela dos 30”, foi um espetáculo. Os brasileiros mais aficionados por música popular brasileira/sertanejo não queriam acreditar que aquela garotinha que encantou o Brasil com seu irmão já estaria completando 30 anos. De lá pra cá, já se foram 9 anos e quem sabe Sandy esteja programando lançar ano que vem o hit “Aquela dos 40”. Um ponto alto da letra, me chama muito a atenção, “sou nova pra ser velha e velha pra ser jovem.” Quando nos tornamos jovens e quando deixamos de ser jovens?

Esse dilema é mais comum do que muitos imaginam, a saída da adolescência pode ser algo muito esperado, mas a retirada da juventude tem sido um árduo e penoso trabalho para alguns adultos. Somos acostumados com ideias de ritos de passagem, comemoração de aniversário, iniciar um novo ano, formaturas pra novos ciclos escolares e etc… mas quando pensamos em envelhecer e criar novas responsabilidades por vezes nos vemos deslocados ou incomodados. De modo geral existe uma expectativa alta para os 18 anos, essa idade está muitas vezes relacionada a liberdade, a adolescência com suas inúmeras transformações já vai se findando, e o mundo da juventude chega com muita energia e desafios, o jovem por si só pode ser reconhecido com um alguém de espírito livre, de transformação, se o adolescente questiona tudo e todos, o jovem transforma a questão teórica em ação, e tem energia para se aventurar. A origem da palavra juventude está associada a uma deusa de nome Juventus¹, que tinha o dom de eterna juventude, e proteger os jovens, juventude diz sobre vigor, sobre o novo.

Muito se discute sobre a idade correta da juventude, alguns dizem sobre 18 a 30, outros até 35, fato é que a juventude tem um limite, e esse limite é importante para que novas direções e responsabilidades surjam. As buscas e transformações da juventude mudam, e com o tempo deveria surgir também a maturidade, porém muitos em sua juventude precisaram exercer funções de extrema responsabilidade, sustento da família, gravidez e casamento na adolescência, traumas infantis, funções de chefe de família… tendo assim passado por um processo de adultização² precoce, quando então se tornam adultos, e agora (talvez) estabilizados de suas funções sociais, buscam retomar o vigor da juventude a qualquer custo, considerando nunca envelhecer ou se dar por vencido do cansaço da vida. 

Importante dizer que adultos, principalmente a galera dos “enta” (40, 50, 60, 70, 80, 90) dispostos, saudáveis, aventureiros, dinâmicos, cabeça aberta e afins, são pessoas maravilhosas, que deveriam existir aos montes e fazer parte do nosso ciclo social e sempre são muito bem vindos, porém essas pessoas não são JOVENS. E portar-se como, querer ser não e buscar todos os louros impetuosos da vida jovem, não é algo necessariamente saudável para a saúde física e mental, entender nossos limites, entender novos rumos, novas posições sociais é uma das mais belas condições da vida em sociedade. Tornar-se tutor, conselheiro e espelho de bons hábitos para novas gerações é imprescindível para melhor compreender a vida adulta também. Apresentar empatia e compaixão com o jovem da geração imediatista, entender que todos amadurecem em seu tempo e que experiências mesmo que negativas fazem refletir. Jovens conversam com jovens, mas podem ter afago e conforto em adultos, somar gerações é viver em sociedade. E como diria uma das músicas icônicas do seriado mexicano Chaves, “se você é jovem ainda, amanhã velho será”. 

Um coração jovem e uma mente adulta, união perfeita da busca por um vida emocional saudável. Vida longa meus queridos!

 

¹ Juventus para os Romanos e Hebe para os gregos, deusa que protegia os jovens e foi abençoada a ser jovem para sempre.

² Adultização é um processo também infantil onde crianças, adolescentes e jovens tornam-se adultos antes do tempo previsto, por condições externas muitas vezes traumáticas.

 

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