Moro, serviçal do império

Como a figura obscura do juiz de primeira instância Sérgio Moro tornou-se ministro da Justiça? Simples, ele prestou relevantes serviços aos interesses estadunidenses.

Ele foi o condutor do processo judicial que empunhava a bandeira combater a corrupção na Petrobras e punir corruptos. Mas o objetivo real não era esse…

Como dizem os senhores de Moro, era uma false flag, pois ele, na realidade, tinha por tarefas: (i) criar as condições para a privatização da Petrobras, (ii) destruir as grandes construtoras nacionais, (iii) criminalizar a esquerda, seus aliados e (vi)  prender lula, a qualquer custo.

O custo para o Brasil dos “bons serviços” prestados por Moro ao império foi a perda de 140 bilhões de reais no PIB nacional em 2015.

Serviçal exemplar. Segundo Moniz Bandeira, Moro começou a preparar-se para a tarefa em 2007, nos cursos promovidos pelo Departamento de Estado estadunidense, seguindo sua formação em 2008, quando participou de um programa especial de treinamento na Escola de Direito de Harvard, em conjunto com sua colega Gisele Lemke e,         em outubro de 2009, participou ainda da conferência regional sobre “Illicit Financial Crimes“, promovida no Rio de Janeiro pela Embaixada dos Estados Unidos.

Essa é a verdade que se revela.

Sabe-se que a Agência Nacional de Segurança (NSA), que monitorou as comunicações da Petrobras, descobriu a ocorrência de irregularidades e corrupção de alguns militantes do PT e, possivelmente, forneceu os dados sobre o doleiro Alberto Yousseff ao juiz Sérgio Moro, já treinado em ação multi-jurisdicional e práticas de investigação, inclusive com demonstrações reais de como preparar testemunhas para delatar terceiros.

Moro já cumpriu sua tarefa e ao Império ele, apesar de ser um peão útil no tabuleiro, é apenas um peão.

Tendo isso em perspectiva e lendo ou ouvindo Pepe Escobar sobre a tese da descartabilidade de Moro, concordo com ela integralmente. Aliás, artigo publicado, nominado: “Moro, o contínuo do Império?” trata disso. O artigo foi publicado em 26 de fevereiro de 2017, vão-se mais de dois anos…

No artigo comparei o então todo poderoso Juiz Sérgio Moro a um continuo (àquele auxiliar para serviços gerais, o office-boy) e afirmei que esse era o papel de Moro em todo mecanismo.

Em 2017 escrevi: “… não se trata aqui de firmar oposição às operações tão necessárias das policias, (…). A nossa obrigação é apoiar toda ação de natureza republicana e que represente um passo adiante na construção permanente de nossa nação, (…), mas Moro e os Golden Boys do MPF estão professando certezas de além-mar, como se o Brasil fosse uma colônia do império estadunidense. Temos de manter o olhar crítico, pois nos interessa o bem comum, a justiça social e o desenvolvimento humano, além do econômico.”.

As revelações do The Intercept Brasil mostram que a opinião acima não era delírio.

Acredito que a História reservará a ele, bem como aos procuradores da operação Lava-Jato, referências nada elogiosas, aliás, a História é serva da Verdade, esta prima-irmã da Justiça e o Tempo – eterno aliado da Verdade – fez emergir fatos incontestáveis, sem véus e sem a paixão presente no coração daqueles que vivem a dor pela quebra da institucionalidade, qual seja: tudo que envolve Moro e a Lava-Jato é uma fraude.

Além dos argumentos de Pepe Escobar, muito mais complexos e completos que os meus, sigo acreditando que Moro é mero contínuo e, portanto, descartável, pois esse é o modus operandi do deep state.

No livro “Quem pagou a conta? “, da historiadora britânica Frances Stonor Saunders, nos é revelada que a instrumentalização da “cultura” foi um dos mecanismos de dominação e força dos Estados Unidos em relação a artistas e intelectuais de todo o mundo durante a Guerra Fria. Fundações e o departamento de estado dos EUA financiavam todos que aceitassem trabalhar como multiplicadores da visão liberal do império.

Hoje, além dos artistas, políticos e acadêmicos, são cooptados: Juízes, Promotores, Policiais e funcionários graduados da burocracia estatal, gente como Moro e Dallagnol.

Moro e os Procuradores da Lava-Jato foram cooptados e domesticados, são servos do American way off life.

Os EUA não têm apreço pela democracia. Para ilustrar retorno ao intelectual Luiz Alberto de Vianna Moniz Bandeira que, citando o historiador John Coatsworth, lembrou que entre 1898 e 1994, os Estados Unidos patrocinaram, na América Latina, 41 casos de “successful“, de golpes de Estado para mudança de regime, “o que equivale à derrubada de um governo a cada 28 meses, em um século”, uma prova inexorável de que no país dos bravos não há amor pela democracia. E há incautos que chama fatos de teoria da conspiração.

Outro fato: após a Revolução Cubana, os Estados Unidos, em apenas uma década, a partir de 1960, ajudaram a derrubar nove governos, cerca de um a cada três meses, mediante golpes militares, como no Brasil.

Depois de 1994 os métodos de dominação prescindiram das armas, passou a ser usada a institucionalidade (Judiciário e Legislativo em especial), como nos casos de Honduras (2009) e Paraguai (2012).

No Brasil, o impeachment da presidenta Dilma Rousseff representou uma ruptura institucional sofisticada, cujo objetivo era atender interesses estrangeiros, da elite financeira internacional, das big oil dos aliados de setores do empresariado, apoiado pela mídia corporativa e por camadas das classes médias, sensíveis às denúncias de corrupção transformadas em reality show, sob influência dos Estados Unidos e estruturada no lawfare.

Moro e Dallagnol representam a parcela do Poder Judiciário e do Ministério Público que foi ideologicamente capturada por um sistema político e econômico no qual o poder é exercido pelo grupo mais rico, parcela que aceita, com naturalidade, a concentração de poder nas mãos da elite econômica, não se incomodando que essa concentração venha acompanhada de profunda desigualdade de renda e baixo grau de mobilidade social, desde que seus privilégios, travestidos de direitos adquiridos, sejam mantidos e ampliados.

Ainda bem que a Verdade, a Justiça e Tempo, são os únicos historiadores que sobrevivem a tudo.

Pedro Benedito Maciel Neto, 55, advogado, sócio da MACIEL NETO ADVOCACIA, autor de “Reflexões sobre o estudo do Direito”, ed. Komedi, 2007.

 

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