Os desafios das mulheres (na advocacia): como se diferenciar no mercado de trabalho?
Por dra. Lisiane Schmidel
Os desafios das mulheres advogadas são semelhantes aos desafios da maioria das mulheres que estão no mercado de trabalho, com a diferença de que na advocacia, assim como se percebe na política, temos baixa representatividade.
As políticas de valorização da mulher na OAB se limitam a criar um conselho e algumas campanhas ligadas à violência contra a mulher, já que ainda hoje, não existem iniciativas práticas como a criação de creches ou mulheres na diretoria nacional, aliás, jamais houve uma mulher advogada a ocupar a diretoria nacional, e essas constatações não espelham de maneira justa os desafios da mulher advogada, que vão muito além de representatividade no topo da pirâmide coorporativa.
As advogadas já representam a maioria dentre os profissionais de até 40 anos, mas na prática, isso não significa muita coisa, pois a advocacia tem um mercado altamente competitivo, com inúmeras universidades formando bacharéis todos os anos, o que já representa um desafio por si só.
Contudo, estatisticamente, mulheres investem muito mais em aperfeiçoamento, como pós-graduações e cursos de extensão, embora, nas formações acadêmicas, como mestrado e doutorado, ainda não sejam maioria.
Na verdade, a mulher busca aperfeiçoamento constante, muitas vezes motivada por insegurança. Em geral, podemos acreditar que precisamos ter um maior conteúdo para podermos competir com igualdade no mercado de trabalho, inclusive protelando o início da atividade na advocacia, a fim de nos “sentirmos” preparadas.
Percebo muito em minhas mentorias essa insegurança, um demasiado senso crítico consigo mesma, que muitas vezes reflete em uma autossabotagem involuntária.
Muitas advogadas, na realidade, não acreditam em seu potencial, além disso, é claro que existe o fator biológico que para as mulheres que desejam ter filhos, pode, sem dúvidas, estagnar por um período, a curva de ascensão profissional, mas ver a maternidade como um problema não traz nenhum benefício a essas profissionais, e não podemos admitir que um anseio legítimo e natural para muitas mulheres, seja problematizado como uma opção excludente de outro anseio ligado ao profissional.
A maternidade passou a ser encarada como um problema para muitas pessoas, inclusive por clientes e colegas, a ponto da própria profissional ter dificuldades em aceitar sua condição materna.
Lembro-me de cair doente uma semana após o parto da minha primeira filha, por não dormir durante os sonos dela, pois ao invés disso, eu me forçava a manter uma rotina “normal” na advocacia, mesmo estando em casa, e o esforço de ter gerado uma criança, aliado à privação de sono, me fez ter uma febre e uma fraqueza que me faziam não conseguia ficar em pé. Ali percebi que era uma loucura querer negar a nova realidade.
Temos que reconhecer a maternidade como algo muito positivo, e que na verdade, a curva de ascensão até pode se estagnar, mas depois torna a crescer, e muitas vezes com mais estabilidade, é uma mudança de paradigma necessária ao bem-estar emocional dessas mulheres.
Fora isso, as mulheres muitas vezes aguardam por uma oportunidade ao invés de se prostarem em uma posição mais ativa, ou seja, muitas advogadas aguardam um reconhecimento espontâneo por um feito profissional, como uma promoção e esperam que, após algum tempo de dedicação, haja uma oferta de inclusão na sociedade.
Isso pode acontecer, mas se não acontece no tempo em que se espera, deve haver uma proatividade dessas mulheres. Aprender a tomar iniciativa é imprescindível, e percebo que nós advogadas, em geral, preferimos áreas ligadas mais à proteção do outro, como previdenciário, família e trabalhista, e não há problema algum nisso, mas dado o nosso instituto natural, podem ser áreas pouco desafiadoras em um modo geral.
Buscar áreas que tragam um desconforto inicial pode ser um desafio interessante e de diferencial, como áreas ligadas à tecnologia e inovação. Desenvolver também a inteligência emocional é uma necessidade premente na advocacia em termos gerais, e nós mulheres devemos aprender o quanto antes a lidar com nossas emoções, e desenvolver ainda mais nossas habilidades naturais para realizarmos boas negociações, parcerias e sociedades.
A inteligência emocional desenvolvida faz com que saibamos lidar melhor com situações de estresse tão presentes na advocacia, a ter um desempenho diferenciado em debates técnicos, e assim, obter resultados expressivos na sua atividade, bem como, desenvolver uma comunicação assertiva.
A advogada de hoje não quer apenas ter sucesso na carreira, mas também quer ter qualidade de vida, o que apenas é possível, se a profissional tiver clareza de seus objetivos e uma boa organização da agenda, que embora não impeça que alguns imprevistos aconteçam, certamente fará com que possa desempenhar suas atividades profissionais sem abdicar de oportunidades na carreira, e ainda, ter uma vida pessoal satisfatória.
Então, para que a mulher advogada possa finalmente ocupar o seu lugar de destaque na advocacia, precisa desenvolver a inteligência emocional, uma comunicação assertiva e ter segurança e confiança em sua atuação, e por fim, a advogada precisa estar presente e se expor com maior frequência e, sobretudo, procurar sair de espaços que sejam já conhecidos e confortáveis, criando uma rede de contatos diversificada, usando dos meios éticos para criar sua autoridade e mostrar-se mais, além disso, manter-se atualizada é imprescindível, mas é necessário aplicar o conhecimento e buscar desafios constantes.
Artigo da advogada Drª. Lisiane Schmidel, sócia da Schmidel e Associados Advocacia (MT). Especialista em Direito Empresarial e do Consumidor e em Direito do Trabalho e Processo do Trabalho. Mestranda em Direito pela FADISP. e-mail: lisiane.adv@schmideleassociados