A ILUSÃO DO CONTROLE
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A vida é uma verdadeira inconstância, tudo muda, nada é permanente, porém, vivemos nos iludindo crendo erroneamente que detemos algum controle sobre o que fica e sobre o que se vai de nossa vida.
Agimos como se o nosso desenvolvimento fosse uma LINHA RETA quando na verdade a evolução mais se assemelha a uma ESPIRAL. Traçamos planos para nos afastar do sofrimento, criamos receitas para evitar a saída de nossa ZONA DE CONFORTO.
Erguemos muros imensos e investimos alto em aparelhagem contra a invasão de criminosos, seguimos minuciosamente os preceitos de determinada religião acreditando que evitaremos O MAL, nos cercamos de maneirismos cotidianos no convívio amoroso crendo que será garantia de continuidade dos laços conjugais, enfim agimos como sendo possuidores do CONTROLE de tudo que nos diz respeito criando uma realidade que nos aprisiona em nosso mundo fantasioso.
Quando algo sai do nosso controle é como se o mundo desabasse sobre nossa cabeça, como se a realidade na qual acreditamos durante tanto tempo simplesmente desaparecesse diante de nossos olhos.
Grande é o sofrimento quando isso acontece, a perda daquilo que nos era tão importante como uma condição financeira, um trabalho que gostávamos, o ser amado que nos deixou, um ente querido que mudou-se para longe ou veio a falecer, a beleza física que já não nos pertence mais podem realmente nos tirar o chão, também a apresentação de algo inesperado pode afetar a falsa realidade vivida de modo traumático como é o caso da instalação de uma doença grave, a experiência desagradável de ser vítima de violência física, roubo entre outras tantas situações que podem se apresentar e destruir a nossa fantasia de controle e consequentemente desestruturar a nossa realidade interior e a nossa consciência do mundo.
Nada é permanente, tudo muda e nós também devemos mudar para nos adaptarmos às mudanças que a vida nos traz, pois a falta de flexibilidade diante do novo se estabelece como um grande obstáculo para nosso crescimento. A dificuldade de aceitação de uma realidade que não é possível mudar acarreta sério entrave em nosso desenvolvimento enquanto seres humanos.
Quando somos crianças e começamos a ser introduzidos no ambiente social somos levados a assumir papéis sociais que nem sempre condizem com o que realmente somos em nosso íntimo e o apego demasiado a esses papéis que vão sendo assumidos por nós, com o passar dos anos, em nossa vida em sociedade, acaba por nos tornar alheios ao que somos em essência e diante da nossa falsa noção da realidade interna acabamos por viver também desatentos à constante transformação cotidiana a que a vida nos sujeita.
Perder um papel social sobre o qual depositamos tudo de nós é sem dúvida uma experiência extremamente dolorosa, por isso, é preciso um novo olhar sobre a nossa realidade e aceitar que o controle que acreditamos possuir não passa de uma defesa inútil contra a nossa angústia diante da efemeridade das coisas materiais.
A inconstância acarreta insegurança e para superar a insegurança é que se deve dar o devido valor às coisas IMATERIAIS, permanentes, isso sem deixar de viver o aqui e agora, aproveitando plenamente cada momento sabendo que eles passam e não voltam mais, sendo responsável por cada escolha feita e respeitando as escolhas dos outros, cientes que quanto mais conhecemos a nós mesmos melhores escolhas faremos e mais fácil se torna nos desapegarmos da falsa ilusão de controle sobre o por vir.
É comum na clínica psicológica nos depararmos com pessoas que passaram a vida toda acreditando que POSSUIAM algo ou alguém e que tiveram suas vidas totalmente desestruturadas quando um infortúnio obrigatoriamente lhes colocou diante de uma realidade bem diferente daquela que criaram e viveram por anos a fio. O desafio ao se lidar com tal situação reside na necessidade de “reconstrução da realidade” utilizando para isso de uma visão mais autêntica do mundo interno da pessoa e da sua relação com o mundo externo em que está mergulhada.
Através do autoconhecimento essa reconstrução certamente se dará de modo mais verdadeiro, sem a dependência de papeis sociais que mascaram o que realmente somos, sem nos isolarmos em um mundo fantasioso por medo de enfrentar o desconhecido.