Carnaval 2023: Mancha Verde traz cultura cangaceira para carnaval do Anhembi

“Óia eu aqui de novo, xaxando!”, cantava Luiz Gonzaga, logo nos versos
de abertura de um de seus maiores clássicos. Ritmo que deu origem ao
baião, o xaxado transpira a cultura cangaceira e, em 2023, é o tema do
carnaval da atual campeã da folia em São Paulo, a Mancha Verde.
“Oxente – Sou Xaxado, Sou Nordeste, Sou Brasil” é o título do
samba-enredo da escola.

De acordo com a assessora de Arte do Sistema Positivo de Ensino,
Karoline Barreto, o tema escolhido segue uma tradição carnavalesca: a
de falar sobre patrimônios materiais e imateriais do Brasil,
apresentando um ciclo de reverência a muitos aspectos culturais
carregados de simbolismos. “Na sala de aula, costumamos tratar de
conteúdos relacionados ao cangaço, ao forró, aos alimentos e fatos
históricos da cultura nordestina. Na arte, privilegiamos o cordel, por
exemplo. Mas a dança pode ser uma excelente forma de usar a linguagem
corporal para vivenciar uma aprendizagem mais ativa e significativa”,
explica.

No caso do xaxado, muitas são as versões a respeito de sua origem. A
mais famosa delas conta que esse é um tipo de dança de comemoração
das batalhas travadas pelos cangaceiros no sertão do Nordeste
brasileiro. Praticada apenas pelos homens, a melodia era marcada pelo
som das alpercatas em atrito com a terra batida: xá-xá-xá. Como toda
boa manifestação cultural, o xaxado extrapolou o cangaço e, quando
este chegou ao fim, o ritmo seguiu firme. “O xaxado é alegre, vibrante
e com pisadas fortes. Suas vestimentas em apresentações tradicionais
são compostas de alpercatas, roupas cáqui, o tradicional chapéu de
Lampião e um objeto que aparenta ser um rifle de cangaceiro. Segundo o
próprio Luiz Gonzaga, grande pesquisador e divulgador do xaxado, na
época do cangaço, o rifle era a dama da dança, permitida somente para
os homens”, detalha Karoline.

No carnaval 2023 da Mancha Verde, o samba-enredo fala sobre vários
desses detalhes históricos envolvidos no nascimento e na manutenção
do xaxado como parte fundamental da cultura, principalmente de
Pernambuco. Um trecho da letra diz “O cangaceiro, na batalha triunfou/
Até Maria Bonita no bando comemorou/ “Olê, muié rendeira”/ Na
embolada dançando a noite inteira/ Vem violeiro, num repente ajeitado/
To “arretado”, a zabumba tá chamando”. Para a especialista, esse tipo
de referência é indispensável para construir, na escola e na
sociedade, um repertório cultural amplo. “Falar sobre manifestações
como o xaxado permite que todos nós possamos desenvolver o respeito à
diversidade de culturas e valorização das tradições para conhecer a
si mesmo e aos outros”, finaliza.