VOCÊ TEM FOME DE QUE?

Adriana Cruz

Terapeuta, Jornalista e Palestrante

– Especialista em: Transtornos Emocionais, pelo método TRG; Leitura Corporal; Técnicas de Neurociência

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Você foi a uma festa e exagerou nos doces. Teve aquele almoço especial com a família, com seu prato preferido e quando percebeu estava repetindo pela terceira vez. Isso significa que você tem compulsão alimentar? Logicamente que não. Muita gente confunde episódios de exageros eventuais com compulsão. A compulsão alimentar é um transtorno. Caracteriza-se principalmente pela ingestão muito rápida e muito maior do que a maioria das pessoas comeria. Os compulsivos nesses casos, têm a sensação clara de que estão perdendo o controle por não conseguirem parar de comer nem controlar a quantidade do que estão comendo.

De acordo com a Associação Brasileira de Psiquiatria, estima-se que mais de 70 milhões de pessoas no mundo sejam afetadas por algum transtorno alimentar, incluindo anorexia, bulimia e compulsão alimentar. No Brasil a questão também é preocupante. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 5% da população brasileira sofre com essa doença – cerca de 10 milhões de pessoas.

Algumas características que definem um compulsivo alimentar são:

– Comer mais rápido do que o normal nas refeições;

– Só parar de comer ao se sentir cheio e desconfortável;

– Comer muito, mesmo fora das refeições e sem ter fome;

– Ter pensamentos obsessivos focados nas próximas refeições que poderá fazer;

– Comer sozinho por vergonha do quanto está comendo;

– Assaltar o armário ou geladeira sem que o vejam, ou negar o que comeu;

– Sentir culpa, tristeza ou arrependimento depois de exagerar na dose;

– Comer demasiadamente impulsionado por sentimentos, sejam negativos ou positivos;

– Sentir conforto emocional e alívio no ato de comer.

Mas por que isso acontece, você sabe? Bom, primeiro precisamos lembrar que comer é gostoso, dá prazer. Se fosse ruim, seria fácil se conter e não haveria tanta gente viciada em comida. A Neurociência já sabe que quem sofre de compulsão alimentar apresenta atividades semelhantes e nas mesmas regiões cerebrais que os dependentes do álcool e das drogas. Quando comemos, disparamos glicose no nosso corpo nos dando energia e satisfação, mas esse nível de glicose também cai rapidamente. Então sentimos falta disso e buscamos novamente nos saciar. Nessa hora também entra em ação a dopamina (uma substância liberada numa área chamada Centro de Recompensa ou Centro de Prazer, no cérebro) além de outros neurotransmissores. Mas, como em qualquer outra compulsão, nos dá um prazer momentâneo e depois buscamos mais e mais e mais…

Não podemos descartar que existem os fatores genéticos que influenciam, por exemplo, o paladar e o olfato e por isso há pessoas que encontram uma satisfação ainda maior na hora da refeição, que realmente saboreiam o que comem (os chamamos “bons de garfo”). Cada qual com suas particularidades, como os que metabolizam mais, outros menos, alguns nutrientes, enquanto que uns têm mais facilidade para engordar e outros perdem peso mais rapidamente, sem falar nas questões hormonais nas fases da vida. Mas a genética, por si só, não determina a forma como uma pessoa se relaciona com a comida, como ela busca saciar ou preencher um vazio, pois essa é uma questão muito mais relacionada às emoções.

Partindo do princípio que por trás de todo excesso existe uma falta, faz sentido pra você que possa existir uma raiz emocional bem guardadinha no seu íntimo e que talvez você nunca quis desenterra-la? Observe e pense que fera é essa, ferida, pronta a atacar a geladeira todas as vezes em que algo te frustra, ou na tentativa de diminuir a ansiedade ou ainda tapar um buraco deixado por uma emoção mal resolvida?

Recorrer a remédios controladores de apetite, laxantes, diuréticos ou inibidores, é uma atitude desesperada, paliativa e que pode desencadear sérios problemas de saúde. A compulsão alimentar é uma questão complexa e deve ser tratada com um médico e um nutricionista para investigar as necessidades ou deficiências no organismo, além de possíveis doenças.

Atividades prazerosas são fundamentais já que a dopamina também é liberada nesses momentos. Exercício físico é uma excelente opção e proporciona o prazer que a mente do compulsivo tanto necessita. Esportes competitivos podem surtir mais resultados, pois desencadeiam um sentimento de superação (também reconhecido na mesma área de recompensa no cérebro, como mencionei acima).

E a ajuda de um terapeuta é de extrema importância já que compulsão e ansiedade andam de mãos dadas. Tratando essa ansiedade é possível enfrentar o que nem a comida consegue preencher. Então, caro leitor(a), responda para você mesmo se souber: Afinal, você tem fome de que?