Espetáculo sensorial reforça inclusão de crianças com TEA em Jaguariúna

O Jardim das Gentilezas” foi criado especialmente para o público autista e proporcionou um ambiente acolhedor e acessível
O Teatro Municipal Dona Zenaide recebeu, na última quarta-feira, duas sessões do espetáculo O Jardim das Gentilezas, voltado especialmente para crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA). A proposta foi desenvolver uma experiência sensorial inclusiva, respeitando os limites e as necessidades específicas desse público. O resultado foi aprovado pelas famílias presentes.
Idealizada pela diretora teatral Ana Taglianetti, professora da Escola das Artes de Jaguariúna, a montagem nasceu da percepção de que o excesso de estímulos — comum no teatro e no audiovisual — dificulta a fruição para pessoas com hipersensibilidade sensorial. “No mundo em que tudo é tão exacerbado sensorialmente — luzes fortes, sons altos — percebemos que muitas pessoas, como as do espectro autista, não conseguiam fruir com tranquilidade de uma obra de arte”, explica a diretora.
A partir dessa constatação, a equipe desenvolveu um espetáculo de baixa sensorialidade, com sons suaves, iluminação controlada e ritmo adaptado. A trilha sonora foi composta com base nos princípios da musicoterapia, em colaboração com o músico-terapeuta Diogo Camargo e a atriz e também terapeuta Andressa Estrela, que interpreta a protagonista.
Ambientação acolhedora
O cuidado com o ambiente e a linguagem da peça foi um diferencial, como apontou Carla Mugero, professora de ioga e mãe da pequena Madu. “Foi tudo muito preparado com atenção ao sensorial. A natureza foi trazida de forma sutil para dentro do teatro, por meio dos sons e da ambientação. Isso é muito rico para nossos filhos”, comentou.
Para Angélica Donetti, mãe do Isaac, de 5 anos, diagnosticado com autismo nível 1, o espetáculo representou uma oportunidade rara: “Já levei o Isaac ao shopping e a outras atividades culturais, mas o excesso de estímulos o deixa muito agitado. Hoje foi diferente. Tudo foi pensado para acalmá-los, e ele conseguiu assistir tranquilo. Isso também traz conforto para nós, pais”, afirmou.
Ela destacou ainda a importância de mais iniciativas como essa, diante da escassez de atendimento especializado. “Atualmente, ele faz psicologia e fisioterapia no CAJ (Centro de Referência do Autismo de Jaguariúna), mas faltam outros profissionais essenciais, como fonoaudiólogo, terapeuta ocupacional e psiquiatra. Eventos como esse ajudam a preencher um pouco desse vazio, principalmente no acolhimento emocional”, completou.
Cultura como ferramenta de inclusão
Segundo Ana Taglianetti, o espetáculo também foi criado para ser apresentado em ambientes menores, como clínicas e centros terapêuticos. Uma sessão especial já está marcada para o dia 7 de agosto, no Centro de Referência do Autismo de Jaguariúna (CAJ).
A produção foi viabilizada com recursos da Lei Aldir Blanc, com apoio da Secretaria Municipal de Cultura de Jaguariúna, que tem incentivado ações voltadas à inclusão cultural. “A Secretaria nos deu total apoio em todas as etapas”, reforça Ana.
Sobre o espetáculo
O Jardim das Gentilezas narra a história de Miguel, um menino autista não verbal que adormece aos pés da árvore dos desejos, chamada Kalpa. Em seus sonhos, é guiado pela Fada do Som em uma jornada sensorial através dos cinco elementos da natureza: água, terra, fogo, ar e éter. A travessia é silenciosa, poética e cuidadosamente construída para estimular a percepção, a calma e o encantamento de forma acessível.
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