O AGRONEGÓCIO NA ERA CRISTÃ: REFLEXÕES TEOLÓGICAS SOBRE SUSTENTABILIDADE E ÉTICA

Na era cristã, o agronegócio, um setor vital para a subsistência humana e a economia global, enfrenta desafios complexos que vão além da mera produção e comercialização de alimentos. A partir de uma perspectiva teológica, o agronegócio deve ser analisado à luz dos princípios e ensinamentos cristãos, que oferecem orientações sobre como gerenciar e cuidar da criação divina de maneira ética e sustentável.

A MORDOMIA DA CRIAÇÃO.

Desde a narrativa da criação em Gênesis, onde Deus designa o ser humano para “cultivar e guardar” a terra (Gênesis 2:15), a responsabilidade de cuidar do ambiente e dos recursos naturais tem sido um princípio central na teologia cristã. Esta mordomia não é apenas uma tarefa prática, mas uma vocação sagrada que envolve respeito e reverência pela criação. Na era cristã, o agronegócio, ao buscar a maximização de produtividade e lucro, deve equilibrar essas práticas com a necessidade de preservar e sustentar o ambiente natural.

Os princípios de sustentabilidade ambiental encontrados nas Escrituras, como o ano sabático e o ano do jubileu (Levítico 25), sugerem um ciclo de descanso e renovação para a terra. Esses princípios, embora oriundos de um contexto histórico específico, oferecem lições valiosas sobre a importância de práticas agrícolas que não esgotem os recursos naturais, mas promovam sua regeneração e preservação.

JUSTIÇA E EQUIDADE SOCIAL.

A justiça social é um valor essencial na teologia cristã, refletido em diversos ensinamentos bíblicos que enfatizam a dignidade humana e a necessidade de proteger os vulneráveis. Isso inclui assegurar condições de trabalho dignas e justas para todos os envolvidos na cadeia produtiva, desde os pequenos agricultores até os trabalhadores rurais.

Além disso, a teologia cristã destaca a importância de cuidar dos pobres e necessitados. Isso implica não apenas garantir que os alimentos produzidos sejam acessíveis para todos, mas também promover práticas agrícolas que não apenas visem o lucro, mas que considerem o bem-estar de todas as partes envolvidas, incluindo as comunidades locais e os pequenos agricultores.

A ÉTICA DA CONSUMO RESPONSÁVEL.

A ética cristã também nos chama a refletir sobre os nossos hábitos de consumo. O consumo responsável é um princípio que deve permear o agronegócio, incentivando práticas que minimizem o desperdício e valorizem os produtos de forma justa. Os cristãos são chamados a ser mordomos responsáveis, o que inclui a escolha consciente de produtos e o apoio a práticas agrícolas que respeitem tanto a criação quanto as pessoas.

PERSPECTIVAS FUTURAS.

À medida que avançamos na era cristã, é fundamental que o agronegócio adote uma abordagem integrada que respeite os princípios teológicos de mordomia, justiça e ética. Isso requer uma colaboração entre líderes religiosos, profissionais do setor agrícola e formuladores de políticas para promover práticas que não só maximizem a produtividade, mas que também honrem a criação e garantam a dignidade humana.

Uma visão teológica do agronegócio pode oferecer uma base sólida para a construção de um futuro mais justo e sustentável. Ao integrar princípios cristãos em suas práticas e políticas, o agronegócio pode contribuir para um mundo onde o cuidado pela terra e pelo próximo se entrelaçam harmoniosamente, refletindo os valores do Reino de Deus e promovendo o bem-estar de toda a criação.

Dr. Caius Godoy (Dr. Da Roça), Advogado e Presidente da Comissão de Agronegócios   e Assuntos Agrários da OAB Jaguariúna.
e-mail: caius.godoy@adv.oabsp.org.br