A VILA DE JAGUARY – COMO ERA HÁ CEM ANOS ATRÁS?

Faz cem anos que os fazendeiros, comerciantes e industriais, aqui residentes, solicitaram por ofício ao Sr. Dr. Secretário de Agricultura, a construção do Ramal de Amparo, Estrada Estadual Campinas-Cascata, no trecho entre a ponte do Rio Jaguary (antes da rotatória da Roseira) e esta Vila. E assim se expressa o correspondente do jornal “A Comarca” de Mogi Mirim, município a que pertencíamos. A construção da referida estrada, grandes serviços trará a esta localidade, mormente depois de executada a modificação do traçado da Cia Mogiana, que terá a sua futura Estação no trecho da Estrada de rodagem. Havia com segurança o transporte ferroviário, eram raras as rodovias e quando havia não eram pavimentadas, eram as estradas de terra.
O anseio da época era, simplesmente, por uma estrada chamada de rodagem. Ela chegou no ano seguinte. Padre Guilherme Bruchhäuser era o piedoso pároco que aqui permaneceu por dezessete anos e cativou o povo de Jaguary. Aquele que organizava belíssimas e fervorosas Semanas Santas, como era praxe de todos eles, cuidando sempre como o Bom Pastor de seu rebanho, envolvendo a todos em vigorosa formação cristã. Aberto às necessidades do povo. Foi o padre que colocou o primeiro sino e relógio na torre da igreja. Fazia a Reza mais cedo para o povo ir ao Baile, após a Quermesse.
A instrução pública acontecia principalmente nas Escolas Reunidas de Jaguary, prédio construído para esta finalidade e arrendado ao Estado desde 1919. Ficava na rua Cândido Bueno, nº 1079, onde hoje se ergue o Prédio Fiorindo Granchelli. Havia Escolas Isoladas, duas localizavam-se na Estação de Guedes, precisamente na Fazenda da Barra, outra na Fazenda Santa Francisca do Camanducaia e outra na Fazenda Saint Cloud, o povo dizia São Cru. Os filhos dos Barões do café estudavam nas grandes universidades. Nestes anos era frequente o Coronel José Alves Guedes e sua Sra. Siomara Penteado Guedes visitarem os filhos gêmeos Mário e Alfredo que estudavam medicina na Capital Federal: Rio de Janeiro.
Apenas Mário formou-se médico. No centro histórico da vila os negros comemoravam o 13 de maio, Dia da Liberdade concedida a eles pela Princesa Isabel. Nestes anos na tardinha e noite de 12 chegavam famílias negras que cantavam e sambavam no trecho da Cel. Amâncio Bueno, diante da Igreja e desciam e tomavam a rua Alfredo Engler. Era chamado “O grande Samba” aos homens de cor, a festa durava toda a noite até o raiar do novo dia. Neste ano houve uma comissão organizadora composta dos senhores Hermínio Poltronieri, Alberto de Almeida e Primo Dester. Acrescenta o correspondente: “a festa decorreu no meio da melhor ordem e sem incidente”.
Os filhos do Cel A. Bueno com D. Ermelinda Romanini em união estável eram dez. Ele deixou após a sua morte o casarão da Pousada Vila Bueno e os terrenos das quadras onde fundara a Vila Bueno. Nesta época havia ainda lotes à venda oferecidos por Amâncio Bueno Jr. Um dos destaques deste ano pela imprensa escrita é a figura do Capitão Ulisses Masotti. Ele foi o 1º tabelião. Seu cartório e casarão residencial localizava-se no atual Casarão Imperial do Berlim. Construído pelo fundador da cidade em 1894, com planta de Wilhelm Giesbrecht. Está restaurado externamente e já se encontra preservado tal patrimônio Histórico. Ali exerceu seu tabelionato, o imigrante italiano até próximo de 1923.
Agora aposentado recebe homenagem dos moradores locais em seu natalício junto com amáveis palavras de “A Comarca”. Ela afirma que o tabelião conquistou o povo com sua culta inteligência, exemplo vivo de correção e da bondade. Era considerado pelo povo o Patriarca de Jaguary por todas estas virtudes que trazia consigo. E continua que a população da próspera Vila admira e venera o ancião caracterizado pelo amor ao trabalho, pela dedicação ao bem do próximo, pelo elevado prestígio de que goza.
Democrata e progressista, é utilíssimo ao meio onde mantém a sua tenda de lavores – o seu nome está ligado a todas as boas obras, iniciadas e realizadas com o seu conselho sempre solicitado, e a sua orientação, criteriosa e firme: grande coração, vive feliz, vivendo para a coletividade. Assim “A Comarca faz suas saudações ao ilustre 1.º tabelião, Capitão Ulisses Masotti. Recursos humanos de passados tempos devem ser relembrados, como exemplos!
Tomaz de Aquino Pires