“Acorda, Pedrinho”

Por Gabriel Montenegro

Professor e psicólogo

Escrevo esse texto no fim de maio de 2022, o hit musical desse momento é “Acorda, Pedrinho” da banda curitibana Jovem Dionisio. A música chegou abalando as redes sociais e já conta com mais de milhões de reproduções nas plataformas digitais. O hit ou mais um hit? Conversando sobre isso com meus alunos, citei a eles sobre o sucesso de também 2022 o
garoto da “Luva de Pedreiro” que bombardeou as redes com seus chutes precisos e bordões originais, “RECEBA”, pouco a pouco fomos nos recordando de hits anteriores como o querido “Caneta azul”, diferente dos clássicos que ultrapassam gerações, esses hits de momento são passageiros e causam um grande impacto. Poderia eu me arriscar em entrar nesse debate sobre os artistas de um sucesso só, mas não seria justo comigo e tampouco com você que está me lendo.

Fato é que a redes sociais promovem a cada intervalo de tempo uma concepção nova do que é viral ou do que gruda, e naturalmente os que usam as redes se envolvem com isso. Mas a grande questão, que quero refletir com você aqui é: e o que de fato fica? Porque se já descobrimos que os virais que explodem o sucesso, dão milhões de visualizações e desaparecem ou se escondem, o que fica em nós? O que de fato se mantém? Recebo muitos casos no consultório de pessoas extremamente tristes com fim de seus relacionamentos, perdidos porque as coisas foram mudando durante a relação e tudo se acabou. Esse exemplo é muito comum, a explosão de sentimento do início do namoro se foi e agora a forma de tratar mudou, e então o que de fato é nosso? Porque sentimos medo de perder? A resposta está na ideia do quanto se entende sobre você e em que sentido sua vida te leva a viralizar ideias individuais. Você consegue reconhecer hoje o que te faz bem? Seja tomar um sorvete em um dia quente ou conversar sobre aquele assunto que você domina. Só temos medo de perder aquilo que não é nosso, quando já nos perdemos de nós mesmos. Talvez você já tenha ouvido aquela frase da música “borboletas sempre voltam e o seu jardim sou eu”, frase impactante; deixa ir porque se for seu retorna. Mas ainda te convido a pensar o que de fato é seu? Afeto, convívio, sentimento, relação? Você é o único de dizer o que é seu, e tudo o que você carrega se torna seu, e digo a você, não se pode ter pessoas. Mas dividir com elas o sentimento. A escritora Ana Suy¹ diz que o amor é o resultado entre paixão e solidão, a paixão é algo louco, a solidão algo real, e no fim nos dividimos. Então nos resta amar aquilo que somos, sozinhos, mas que dividimos.

Não quero trazer respostas sem sentido ou ideias ao vento, mas quero te dizer que a felicidade está em você e é aquela que fica, ser feliz é decisão diária, e quem é feliz não atrapalha a jornada de ninguém. E se tudo é incerto, o que é seu o que não é, o que fica o que não fica? O pensador Immanuel Kant² dizia: “Mede-se a inteligência de um indivíduo pelo número de incertezas que ele é capaz de suportar”. Suportar não é ser derrotado, não é se dobrar pela incerteza. Nesse mundo veloz onde vivemos, de transformação constante, as incertezas são muitas, incerteza está em nossa história pessoal, em nossos amores, em nossas escolhas, mas ela não pode nos vencer. A maneira mais adequada, quando temos incerteza sobre o que é nosso e que desejamos ser nosso, mas, ainda assim precisamos seguir, é persistir diante da incerteza. O conhecimento nos traz varias incertezas, mas as superamos e vamos adiante. Nesse exato momento já é junho e “Acorda Pedrinho” já passou, mas assim como outros hits ele ficará armazenado em sites, em apps, em nuvens, sempre estará lá, a lembrança se manterá, como uma manchinha de nascença que você percebe quando toma sol e ela se destaca, está lá mas algo precisa acontecer para retornar, o que é seu continua sendo seu, mas você precisa fazer algo, então bora seguir buscando o que é nosso, a certeza ou a incerteza, seja a dor ou seja o amor, mas seguindo e felizes.

¹ Ana Suy, psicanalista, doutora em pesquisa e clinica em psicanalise, professora
universitária, escritora do livro “A gente mira no amor e acerta na solidão”
² Immanuel Kant (1724 – 1804), é um dos filósofos mais estudados na modernidade.

 

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