Afasia: quando o paciente perde o domínio sobre a linguagem

Matéria: Paula Partyka

 Junho é o mês de conscientização da Afasia. Clinicamente, existem dois tipos dessa disfunção: motora e sensorial, porém, ainda desconhecidas pela população

 Estreitando a parceria entre as duas entidades representativas da Fonoaudiologia, o Conselho Federal (CFFa) apoia e divulga, durante todo o mês de junho, a Campanha da Sociedade Brasileira (SBFa) sobre a conscientização sobre a Afasia. Um distúrbio de linguagem que afeta a habilidade de se comunicar.

A Fonoaudióloga Clinica, formada pela PUC-SP, Patrícia Amendola Martins, de Jaguariúna, explica, de maneira simples, que sofre de afasia a pessoa que passa por um Acidente Vascular Cerebral (AVC), traumatismo craniano e até outras causas que lesionam o cérebro. “Geralmente do lado esquerdo do cérebro, que é onde temos a área da fala e da linguagem”.

Um tumor ou uma hemorragia também podem causar a perda de um pedacinho do cérebro. “Na verdade, tirar um pedacinho é uma fala comum. É uma lesão, um machucado cerebral, que afeta a área da fala”, simplifica.

Problemas de articulação de fala não são caracterizados como Afasia, pois é a inabilidade de produzir algo. “Problema motor, língua presa ou flacidez que não possibilita o indivíduo falar direito, isso é problema de articulação. Afasia é uma lesão cerebral, que afeta a produção da fala”, frisa a fonoaudióloga.

O grau, da perda da linguagem condiz com o tamanho da lesão. Pode ser um pedaço pequeno ou grande, depende da gravidade do acidente. Além disso, existem tipos de afasia, caracterizadas pelo local da lesão.

O paciente fala fluentemente, mas sem sentido para quem ouve, porém acredita estar falando corretamente. Essa é Afasia de Recepção, ou de Wernicke, onde há dificuldades na expressão e na compreensão e podem ser ditas palavras sem significado lógico.

A Afasia de Expressão, ou de Broca, o paciente apresenta boa compreensão, tem dificuldades para falar por falta de palavras (anomia) e pode apresentar dificuldades de escrita.  Enquanto a Afasia Global apresenta uma mistura das duas afasias anteriores tendo dificuldade de compreensão, fala, leitura e escrita. Geralmente apresenta perda de força do lado direito do corpo.

A sequela de alguns problemas neurológicos exige terapia fonoaudiológica para a reabilitação do paciente. O diagnóstico é feito por meio de avaliação sensorial, de linguagem, leitura e escrita.

Primeiramente o paciente passa por um neurologista que identifica onde está localizada a lesão no cérebro. É importante ressaltar que é necessário buscar tratamento imediato.

Ao chegar à fonoaudióloga, o indivíduo já tem um quadro característico de Afasia. Conforme Patrícia, o tratamento depende da extensão da lesão, da idade e da motivação do paciente e de suas condições gerais de saúde. “É feita por meio da estimulação de linguagem visando estabelecer novas ligações entre os neurônios, através neuroplasticidade cerebral que é a capacidade de o cérebro se adaptar a mudanças por meio do sistema nervoso, moldando-se a níveis estruturais por meio de aprendizagem e vivências”.

O trabalho fonoaudiológico é realizado a partir do diagnóstico, onde realiza atividades guiadas para cada paciente. “Tem paciente que não consegue nomear os objetos. Então a gente trabalha assim: vamos fechar os olhos e pensar na imagem das coisas. Pensou na imagem da coisa? Então eu quero que você pense em frutas. Ela vai dizer várias e chega um determinado momento que ela tem a imagem mental da fruta, mas não sabe nomeá-la. E perguntamos as características, se é pequena ou grande, tem semente ou não, tem bala desse sabor? São feitas associações para evocar a palavra”, exemplifica Patrícia.

Os afásicos podem se comunicar por gestos. Alguns não têm problema de leitura e escrita então podem escrever coisas. “Tem que fazer um tratamento para uma qualidade de vida melhor. Porque a pessoa vai se sentir inferiorizada se tudo que tiver que pedir, tiver que fazer um gesto”, disse Patrícia.

Ela diz que o sucesso do tratamento depende de algumas coisas. “Por exemplo, a pessoa tem que estar motivada a se tratar. Muitas pessoas tem um AVC e entram em um quadro depressivo, então é preciso que família motive. Dependendo do tamanho da lesão, há melhoras, ou não. Um pouco: sempre, total: nem sempre”.

Portanto, o papel da família é fundamental no tratamento, principalmente, pela questão da desmotivação. “Eu converso com as famílias e peço ajuda no tratamento e dou exercícios para fazer em casa. Quanto mais pessoas participarem disso, melhor”, explica.

O mais importante com isto é dar a compreender que a Afasia é uma consequência de perturbações neurológicas e, infelizmente, pode acontecer a qualquer pessoa. A Afasia é real e surge em pessoas reais, por isso não a vamos ignorar ou fazer de conta que não existe.

Dicas para comunicar com Afásicos

O Instituto Português de Afasia fornece no seu site uma série de dicas importantíssimas para quem comunica com pessoas com Afasia. Aqui, apenas cinco:

Não fale mais alto, pessoas com Afasia não são surdas, têm apenas dificuldades de compreensão.

Não infantilize o discurso, lembre-se que tem adultos à sua frente e não uma criança.

Não ignore quando tentam falar.

Tenha paciência, o discurso pode demorar mais a surgir e é preciso dar tempo à pessoa.

Use gestos, expressões faciais e objectos, se necessário for para ajudar na comunicação.

 

 

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