As microcasas de Campinas-SP: questão além de direita e de esquerda; questão de dignidade

Rafa Zimbaldi*

Há poucos dias, o jornal Folha de S. Paulo estampou em sua primeira página, na versão impressa, a imagem de uma microcasa, construída em 15m², no melhor estilo “puxadinho”. Esse tipo de moradia, também chamada de casa-embrião, foi instalado, em 2023, na comunidade “Nelson Mandela”, no distrito Ouro Verde, em Campinas-SP. Na época, em razão de seu modelo, digamos, franciscano, essa moradia popular foi destaque na Imprensa e causou polêmica, despertando a atenção das autoridades para o problema do déficit habitacional no Brasil.

Com a nova reportagem, a questão voltou ao cenário nacional – e, mais uma vez, de forma negativa, por dois motivos. Primeiro: o jornal revela as péssimas condições em que os moradores vivem nas tais casas-embrião, em Campinas – apertados, amontoados, e sem a dignidade necessária que se espera de projetos sérios de moradia popular. Segundo: porque o prefeito de Campinas, de forma hostil, concede um tom político-partidário ao tema, indo contra a Folha de S.Paulo e o jornalista que assina a reportagem. Dário Saadi (Republicanos) deu um jeito de arrumar um culpado para a situação, sem se preocupar em arrumar solução para o problema. Culpa o carteiro pelo teor da carta.

Em vídeo publicado em suas redes sociais, e em nota encaminhada à Folha de S.Paulo, o prefeito tentou desqualificar a notícia, via o repórter, expondo até mesmo dados pessoais do mesmo e suas possíveis preferências partidárias. Algo lamentável, perigoso e que coloca em risco a democracia. Em mesmo espaço do jornal, o jornalista derrubou a versão fantasiosa e ideológica de Saadi.

Você não leu errado: o atual mandatário campineiro, que está há pouco mais de um ano sem providenciar a ampliação dessas casas-embrião – conforme havia prometido, ainda em 2023, após toda a polêmica que contornou o lançamento do projeto -, preferiu colocar em xeque a credibilidade do repórter que conduziu a apuração.

Existem alguns pilares que norteiam o bom senso e o caráter político de um gestor público. Entre eles, estão, ao meu ver, a honestidade em admitir os próprios erros, a celeridade face a temas sensíveis, bem como a capacidade de entender a diferença entre cuidar de pessoas e construir edificações. Entregar obras vale muito. Entregar-se à missão de servir, vale mais ainda. Fazer é importante. Fazer certo é o que faz a diferença.

As microcasas não são uma questão partidária, de direita ou de esquerda, senhor prefeito! Não é questão de União contra a administração municipal, também. É questão de dignidade humana, de um direito social e universal à moradia, previsto, inclusive, na Constituição Federal, a Carta Magna do País.

Neste contexto, a Comissão de Habitação da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp) aprovou, na quarta-feira (12/6), o Projeto de Lei 1.120/2023, de minha autoria, que garante que as casas-embrião devam ser construídas em São Paulo, com, no mínimo, 30m² de área, e com possibilidade de expansão para 55 m². Espero, assim, evitar que famílias menos favorecidas, sejam campineiras ou provenientes de outras partes de nosso estado, sejam empurradas para esses “puxadinhos”.

No adágio da hipocrisia, dançam, ao som deste tema, a falta de gestão pública da Prefeitura de Campinas e a ausência de bom senso de quem foi eleito para resolver, não para reclamar. Apelar para a narrativa ideológica é, também, desrespeito à opinião pública e uma forma de minimizar o sofrimento de um povo! Menos, prefeito!

*Rafa Zimbaldi é deputado estadual pelo Cidadania e está no segundo mandato na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp); foi vereador por quatro mandatos em Campinas-SP e presidente da Câmara Municipal por duas vezes; é graduado em Relações Internacionais.