Autista ou apenas diferente?

Alunos de escolas japonesas e que são filhos de brasileiros têm o triplo de possibilidade de serem diagnosticados como autistas, do que os filhos de japoneses. O Instituto para a Engenharia do Futuro – Infeng, vai estudar o motivo pelo qual isso acontece. A questão já era objeto de preocupação da Embaixada do Brasil em Tóquio, que provocara o Ministério da Educação Japonês para atentar e explicar a razão desse diagnóstico.

Existe, sim, o autismo. Sob inúmeras formas e níveis. Mas nem toda criança com dificuldade de aprendizado é autista. Aqui em São Paulo, detectou-se também um excepcional crescimento das taxas de autismo nas Redes Públicas e certa pressa em diagnosticar as crianças e entrega-las a entidades especializadas.

Uma internação nessas instituições equivale a estigmatizar a criança para sempre. Ela nunca mais conseguirá acompanhar uma classe regular. E a lei é muito clara: a inclusão é um dos compromissos da educação brasileira.

O pior é que muitos dos “diagnosticados” apenas têm ritmo diferente de aprendizado. Um pouco de atenção a mais, muito de carinho e de vocação da professora e ele alcançará o restante da classe. Um ganho para a cidadania. Pois crescerá sem traumas e sem o carimbo do autismo.

É óbvio que o filho de estrangeiro, mesmo sendo decasségui, terá mais dificuldades de adaptação à sociedade japonesa. O japonês é muito discreto, fechado, ensimesmado. Bem ao contrário do brasileiro, às vezes expansivo demais. A dificuldade com o idioma, certa resistência de quem se sente ameaçado quando vê chegar concorrentes brasileiros para o mercado de trabalho e, com isso, transmite aos filhos o seu desagrado, pode influenciar o comportamento dessas crianças diagnosticadas. Podem estar acuadas, assustadas, vítimas de bullying discreto ou não, consciente ou não.

Antes de condenar a criança a uma classe especial, onde conviverá com hipóteses reais de patologias que na verdade ela não tem, é preciso muita cautela. Ninguém imagina o que a vontade de se livrar do “diferente”, de exercer uma seletividade para trabalhar numa classe apenas com os super dotados e a xenofobia disfarçada podem fazer.

*José Renato Nalini é Reitor da Uniregistral, palestrante e docente universitário da Unianchieta e Uninove.

 

Comentários