CASA DA MEMÓRIA: Arquitetura da Esquina Ferrari

Em frente à Padaria dos Irmãos Gothardo, no encontro das ruas Alfredo Engler com Cel. Amâncio Bueno, está a “Esquina do Ferrari,” denominação costumeira dos tempos da Vila de Jaguary. Prédio comercial e residencial, construído na década de 1910, arquitetura eclética. Coexistiam traços de vários estilos, mais influência de pedreiros europeus. Espelha as décadas próximas do século XX (1910). Dona Teresinha Machado de Almeida, uma piedosa viúva de família bandeirante pioneira, mãe de dez filhos, construiu-o com a indenização do marido, Augusto José de Almeida. Ele era administrador da grande Fazenda São José, da tradicional família Aranha.

Na década seguinte, segundo atesta o semanário de Mogi-Mirim, “A Comarca”, o imóvel foi adquirido por João Ferrari, imigrante italiano, que ali manteve por décadas um grande Armazém de Secos e Molhados. A residência de João e Eugênia Bodini Ferrari ficava ao lado e hoje foi transformada em conjunto comercial. A fachada foi em parte danificada por constantes intervenções dos novos lojistas. Porém a fachada do antigo empório na Rua Alfredo Engler manteve-se. A construção tem testada alinhada com a calçada e na época era muito utilizado o sistema de “amarração em pedras.’ O arcabouço principal é feito de tijolos de barro com amarração. A argamassa de assentamento era também feita com barro. As paredes externas são de um tijolo. Na esquina o edifício apresenta elegante curva de parede arredondada por duas colunas em relevo, formando um bonito conjunto, nas palavras da arquiteta do CONPHAAJ, Eloísa Wadt.

Os vãos das portas são encimados por um arco no estilo romano clássico. As portas de duas folhas dobráveis são muito altas no antigo salão comercial de João Ferrari que passou para o filho Abel Ferrari. Há quatro portas intactas, em madeira de lei, com seus arcos adornados por grades de metal, todas trabalhadas em arabescos, piso hidráulico, na Rua Alfredo Engler. As esquadrias de madeira ainda existentes são em parte originais, provavelmente executadas em madeira de lei, pintadas com tinta a óleo. Felizmente os elementos mais característicos das fachadas do imóvel encontram-se preservados. Há faixas e molduras que ornamentam a construção seguindo os padrões da época. Há frisos que se destacam em forma de pequenos quadradinhos, além de adornos dos arcos e as grades dos mesmos, feitas de ferro trabalhado. Percebe-se uma simetria no posicionamento dos elementos da fachada .Todos as contornos das portas e antigas janelas apresentam molduras e contam com as chamadas “ombreiras.” As colunas entre as portas são destacadas na alvenaria. A platibanda é decorada com elegantes frisos e faixas.Seu telhado em duas águas não fica aparente, fica atrás da platibanda, recurso muito em voga na época da construção, chamado “republicano”.

É um imóvel que retrata sua época de construção e ainda mantém grande parte de sua estrutura original, não houve intervenções estruturais que possam tirar seus pontos positivos. Sua restauração é possível, com exceção de seu interior, já bem diferente do que foi construído originalmente, segundo a equipe de arquitetos do Conselho Municipal do Patrimônio Histórico. Este prédio todo já integra o Cadastro do Patrimônio Histórico Municipal pelo CONPHAAJ. Toda a frente e lateral externa de todo o imóvel será mantida, sua fachada será preservada; ainda que por detrás das paredes externas possa subir um novo edifício, futuramente. Isto poderá acontecer com vários casarões deste Centro Histórico, cuja riqueza arquitetônica esteja reduzida à sua fachada frontal e lateral. O restauro da sua fachada valorizará o ponto histórico e o valor financeiro do imóvel tanto quanto o “casarão do café” da Andrade Neves valorizou o edifício que subiu atrás daquele importante Patrimônio Histórico.
Tomaz de Aquino Pires/ Casa da Memória Padre Gomes

 

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