Estudo detalha caminhos para a agricultura de Valinhos

Foto: Arquivo Embrapa

Estudo realizado pela Embrapa em 2024 mostrou que o avanço urbano, disputas por mão de obra e redução das áreas permeáveis ameaçam a sustentabilidade da fruticultura em Valinhos, cidade do interior de São Paulo, com a diminuição de recarga de aquíferos e perda de áreas verdes, que podem impactar tanto a agricultura quanto a qualidade de vida urbana.

De acordo com Ivan Alvarez, pesquisador da Embrapa Meio Ambiente, o estudo recomenda a ampliação de políticas de incentivo, como a Lei de Pagamentos por Serviços Ambientais (PSA). O ICMS arrecadado pela produção agrícola local pode ser utilizado para fortalecer a fruticultura, desde que haja emissão de notas fiscais pelos produtores, garantindo retorno financeiro ao município.

“O diagnóstico aponta para o potencial da agricultura familiar de Valinhos como um pilar estratégico para o desenvolvimento econômico, social e ambiental, acredita Alvarez. A articulação entre produtores, gestores públicos e a população é essencial para implementar ações que atendam às demandas do setor. Iniciativas focadas no fortalecimento da agricultura periurbana e no engajamento da juventude rural são fundamentais para garantir a continuidade e inovação no campo”, destaca o pesquisador.

“São necessárias medidas que valorizem a terra, promovam a agroecologia e incentivem a sucessão familiar, integrando desenvolvimento rural e sustentabilidade”, explica Alvarez.

Circuito das Frutas
Localizada estrategicamente entre as regiões metropolitanas de Campinas e São Paulo, Valinhos integra o Circuito das Frutas, um conglomerado de dez municípios reconhecidos por sua produção agrícola. Apesar de sua história como polo de fruticultura, a cidade enfrenta crescentes desafios decorrentes da urbanização e de mudanças no perfil socioeconômico rural.

Por meio do projeto Agrival, em parceria com a Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Turismo e Inovação de Valinhos, foram realizadas ações para diagnosticar e planejar o fortalecimento da agricultura local. Entre as atividades, destacaram-se o mapeamento do uso da terra, com identificação de áreas agrícolas, pastagens e vegetação natural com imagens de satélite de alta resolução, o agrupamento de propriedades com definição de clusters de produtores para otimizar logística e escoamento, promoção da agroecologia, com análise do potencial para expandir a agricultura sustentável e criar novos mercados e engajamento de jovens rurais, com a realização de um workshops e pesquisas para entender os desafios da sucessão familiar e fomentar a participação de jovens no campo.

Embora Valinhos possua legislação para pagamentos por serviços ambientais, a falta de regulamentação impede sua implementação. Experiências em Louveira, cidade vizinha, mostram que incentivos financeiros às boas práticas agrícolas podem frear o abandono rural e fortalecer a economia agrícola.

Para o pesquisador, a agroecologia emerge como alternativa viável, promovendo práticas sustentáveis que agregam valor à produção. Áreas de pastagens degradadas foram identificadas como potenciais para conversão agrícola, com possibilidade de aumento da produção e recuperação ambiental. Estudos também apontam a importância de preservar fragmentos de vegetação nativa para equilibrar a relação entre urbanização e conservação ambiental.

Alvarez explica que o envelhecimento da população agrícola e a evasão de jovens do campo exigem políticas públicas integradas, como capacitação técnica, crédito facilitado e inclusão digital. A criação de mercados locais, por exemplo, direcionados a condomínios residenciais, e a implementação de rotas logísticas otimizadas são apontados como estratégias promissoras para viabilizar a agricultura familiar.

Diagnóstico e caminhos para o fortalecimento da agroecologia
Uma outra pesquisa realizada na cidade em 2024, revelou dados significativos sobre os hábitos de consumo de frutas e hortaliças dos moradores, indicando oportunidades para o fortalecimento da agricultura local. A pesquisa, aplicada a 82 moradores de 12 condomínios, investigou preferências de consumo, percepção de preços e interesse em produtos orgânicos e iniciativas agroecológicas.

Quase 90% dos entrevistados adquirem frutas e verduras em hortifrutis, varejões e quitandas, enquanto apenas 20% frequentam feiras e mercados do produtor. A banana, a maçã e o mamão são as frutas mais consumidas, enquanto manga, uva e figo, produzidas localmente, também demonstraram grande potencial de mercado.

Quanto ao consumo de orgânicos, 60% dos entrevistados não os consomem, sendo o preço elevado a principal barreira (70%), seguido pela dificuldade de acesso. Apesar disso, mais de 90% dos moradores se mostraram interessados em adquirir produtos diretamente de produtores locais, destacando frescor, qualidade e apoio à agricultura regional como fatores motivadores.

Os resultados apontam para uma demanda crescente por iniciativas que promovam a compra direta, a inclusão de orgânicos e o fortalecimento da agroecologia, destacando o papel estratégico do consumo consciente para alavancar a produção familiar.

Outro estudo identificou três cenários na agricultura familiar local, com perfis distintos de gestão e mercado com produções extensivas e estruturadas com famílias com mais de 20 hectares, gestão empresarial e parte da produção voltada à exportação, produções pequenas e familiares, com propriedades de até 3 hectares, mão de obra predominantemente familiar e atuação no mercado interno, especialmente via Ceasa/Ceagesp, produções em transição, com famílias com aumento de mão de obra contratada, tecnificação crescente e busca por novos mercados, como indústria e exportação.

A pesquisa destacou a importância da união familiar na sucessão rural, mas apontou desafios específicos para os jovens em cada cenário. Em propriedades mais estruturadas, os filhos têm maior liberdade para inovar, enquanto nas menores, participam de todas as etapas produtivas sem nicho definido. Nos cenários em transição, há tensão entre inovação e resistência dos pais.

As soluções prioritárias para o futuro da agricultura familiar incluem educação e extensão rural, cooperativas e subsídios financeiros, ajustados às necessidades de cada perfil produtivo.

O levantamento de fragmentos de vegetação nativa identificou 795 áreas prioritárias, considerando critérios como proximidade de corpos d’água, áreas urbanas e zonas de conservação. Os dados permitem nortear políticas públicas de preservação, incluindo ações integradas com a agricultura familiar, reforçando sua importância na manutenção do equilíbrio ambiental.

Caminho para o Futuro
Valinhos, com sua vocação agrícola e localização privilegiada, tem potencial para ser forte no Circuito das Frutas. Para isso, acredita Alvarez, é preciso investir em planejamento territorial, políticas de incentivo e práticas sustentáveis, para preservar a identidade rural, aumentar a competitividade agrícola e assegurar a sustentabilidade ambiental no município.