Governo destina R$ 1,4 bilhão para financiar armazéns nas fazendas

A partir de 1º de julho, os agricultores terão à disposição R$ 1,4 bilhão em crédito, por meio do Programa para Construção e Ampliação de Armazéns (PCA), para a gestão da propriedade rural. Com a armazenagem na fazenda, os produtores também poderão esperar o momento mais oportuno para vender a produção, ou seja, aquele em que o preço para comercialização está mais atraente.  Na época da colheita, a oferta é maior que a demanda, e o preço, menor. Na entressafra, quando a oferta é menor, o produtor pode vender a produção por uma cotação mais alta.

O financiamento do PCA, com juros anuais de 8,5%, terá prazo de pagamento de 15 anos, com três anos de carência. A linha de financiamento faz parte do Plano Agrícola e Pecuário 2016/2017, lançado no início deste mês pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).

A construção de armazéns na propriedade é relativamente recente no Brasil. A capacidade de estocagem do país, em 2000, era de 87,8 milhões de toneladas. Do total, apenas 4% (3,5 milhões de toneladas) era de propriedade dos agricultores. Hoje, a armazenagem brasileira é de 153,1 milhões de toneladas de grãos. Do montante, cerca de 23 milhões de toneladas estão estocadas em fazendas, o que representa em torno de 15% da capacidade do país.

De acordo com Ricardo Thomé, técnico do Departamento de Infraestrutura, Logística e Geoconhecimento para o Setor Agropecuário do Mapa, a armazenagem na propriedade cresceu 6,5 vezes em 16 anos no Brasil. Contudo, avalia, a estocagem nas fazendas brasileiras é relativamente pequena se comparada a outros países. Na Austrália, a armazenagem na propriedade rural é superior a 35% da capacidade do país, enquanto na Argentina varia de 35% a 45%. Nos Estados Unidos, está entre 55% a 66%. Esse valor é superior a 85% no oeste do Canadá.

“Esses dados nos levam a concluir que os produtores dos principais países agrícolas estão em condições de negociação e financeiras bem melhores que do que a dos agricultores brasileiros”, disse Thomé. “Os nossos produtores se esforçam em aumentar a produtividade e a safra, mas continuam perdendo em lucratividade para outros países menos expressivos na produção de grãos.”

Cadeia produtiva

Para Thomé, a armazenagem na propriedade rural deve ser encarada como um elo da cadeia produtiva, agregando valor à produção. “Quando tiver o armazém em sua unidade produtiva, independente do seu tamanho, o produtor terá como planejar uma melhor logística para a colheita. A safra abrigada na própria propriedade também terá os benefícios do aproveitamento dos subprodutos oriundos do processamento da colheita, como, por exemplo, quirela de soja e de milho”.

A armazenagem também pode incluir as etapas de limpeza – retirada das impurezas, como detritos da própria planta, ervas daninhas etc, e de secagem – e de remoção da umidade dos grãos. Esse processamento na fazenda resulta em maior lucratividade por agregar valor ao produto no momento da venda.

Thomé citou como exemplo a estocagem e o processamento de 100 toneladas de soja na propriedade. Segundo ele, cerca de 11% desse total seriam retiradas devido à limpeza (5%) e secagem (6%) dos grãos. As impurezas seriam aproveitadas como adubo orgânico, cama de animais ou combustível para a fornalha. Já a água retirada dos grãos deixaria de ser transportada para o armazém de destino, ou seja, com menor peso no transporte e menos despesas.

Além disso, acrescentou o técnico do Mapa, haveria a vantagem de evitar o tráfego de muitas carretas nas estradas em direção às zonas de beneficiamento e agroindústrias ou para os portos durante a safra. Em consequência, o transporte ficaria mais bem distribuído durante a entressafra e o preço do frete tenderia a cair.

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