Mulheres ocupam profissões de risco, antes ocupadas somente por homens

(Cabos Marlei, Izabel e Adriana)

Elas são guerreiras, bonitas, mães, corajosas, firmes e educadas. Por todos os cantos da cidade, as mulheres exercem profissões antes consideradas apenas para homens, e chamam a atenção pela competência profissional e seriedade.

É comum ver mulheres nos tribunais, exercendo com maestria a profissão de advogadas, promotoras, juízas, profissões que eram antigamente, exclusivamente para os homens. Vemos hoje mulheres ao volante de enormes carretas e ônibus, executando o serviço com mais habilidade e segurança do que muitos homens. Há presença feminina em todos os níveis executivos das empresas e do governo.

Em comemoração ao Dia das Mulheres, datado do dia 8 de março, o Jornal de Jaguariúna entrevistou algumas mulheres que hoje fazem a diferença em suas profissões.

A sessenta anos, a primeira policial brasileira integrou a corporação de São Paulo. Anos depois, outra mulher conquistou o posto de coronel em Minas Gerais e depois outras vieram. Três mulheres integram o pelotão da polícia militar de Jaguariúna, são elas cabo Izabel, cabo Marlei e cabo Adriana.

Confira seus depoimentos e percepções em relação ao espaço da mulher no mundo.

A policial Izabel Cândido, a 24 anos na profissão, ressaltou a importância da mulher em cargos tradicionalmente masculinos.

Hoje ainda há um pouco de preconceito. No início sofri, não dentro da corporação, mas em atendimento de ocorrência, no qual já me falaram, acho que você não vai dar conta, era bom que fosse dois homens, ou vai me multar, porque não vai pilotar um fogão. Quanto ao salário, essa é uma das poucas profissões em que a mulher ganha igual ao homem. Hoje os tempos são outros, embora ainda há muita coisa para mudar.

Eu acho se você tem um sonho, corra atrás, mesmo que várias pessoas te digam que isso não é para você, ou é melhor escolher outra coisa. Eu persisti no meu sonho que despertou dentro de mim desde os meus 12 anos de idade e como tudo na minha vida, nada foi fácil, mas com fé e persistência tudo é possível. Em qualquer profissão que escolher, dê o seu melhor sempre.

Para a policial Adriana Santos, a 21 anos na profissão, preconceito existe em qualquer lugar.

Nós superamos e mostramos para que viemos. Nunca desista, acredite em você porque todas nós temos capacidade de vencer.

Para a cabo Marlei, 26 anos, chamada carinhosamente como a mãe do pelotão os preconceitos são inúmeros e vem de diversas categorias as quais está inserida.

Vão muito além das desigualdades salariais, além de policial, sou mulher e sou mãe. Principalmente por ocupar um espaço profissional o qual é predominantemente masculino, designado a homens fortes e visualmente provedores de uma proteção, colocando assim em dúvida o êxito profissional das policiais mulheres para muitos. Mas quando trabalhamos visando melhorar a cada dia não só como profissional, mas também como pessoa e mulher, os preconceitos acabam ficando tão pequenos. É difícil transmitir em uma mensagem curta tudo que todas nós precisamos ouvir em determinados momentos da vida. Mas acho que o principal, é nos lembrarmos umas às outras que independente do que o mundo espera de você, o que você espera de si própria deve prevalecer sempre, pois ao chegar a conclusão de suas decisões, a única coisa que fica é o amor pelo que se fez.

Ana Paula Colabono Arias – Juíza de Direito: As mulheres vêm aumentando sua importância no mercado de trabalho e no funcionalismo público, já sendo maioria em muitas carreiras, no entanto a desigualdade salarial ainda existe na iniciativa privativa, o que mostra que ainda temos que lutar pela igualdade de direitos. Na magistratura, o número de mulheres vem crescendo a cada ano, tanto que o meu concurso de ingresso, realizado em 2006, teve maioria de mulheres, mas infelizmente nos Tribunais o número de mulheres é muito inferior ao número de homens, o que acredito que decorre da jornada dupla da mulher, ou seja, no trabalho e em casa, de forma que não pode deixar muitas vezes marido e filho para aceitar uma promoção para cidade distante, o que faria com que chegasse ao Tribunal de forma mais rápida. Apesar dessa desigualdade no número de mulheres no Tribunal nunca sofri qualquer tipo de preconceito na carreira e vejo que as mulheres que são partes nos processos, advogadas, promotoras se veem bem representadas quando tem o processo conduzido por uma juíza.

A Lei Maria da Penha foi de suma importância para a legislação do nosso país, permitindo que mulheres vítimas de violência física e psíquica sejam protegidas de forma mais céleres e eficaz, por meio, por exemplo, de medidas de afastamento do agressor do lar e de proibição de aproximação, sob pena de decretação da prisão. O número de denúncias vem aumentando sim, o que só mostra que a lei Maria da Penha vem sendo usada, sendo conhecida popularmente como um instrumento de proteção da mulher vítima de violência. Acredito que o caminho para reduzir esse número de mulheres vítimas de violência é através da educação de homens e mulheres acerca da igualdade de direitos e deveres e a implementação de outros mecanismos de proteção das vítimas.

(Ana Paula Colabono Arias – Juíza de Direito)

Flavia Travaglini Zulian- Promotora de Justiça de Jaguariúna: Num país onde a desigualdade salarial é grande entre homens e mulheres, sendo resultado de uma cultura patriarcal que coloca o homem em posição de superioridade e dominação em relação à mulher. Isso se reflete em muitas áreas, na publicidade, nas relações familiares, na cultura e claro, nas relações de trabalho. Em muitas situações a mulher é objetificada e colocada em posição de inferioridade em relação ao homem, ou valorizada somente por seus atributos físicos, como se não fosse capaz de ser inteligente. Hoje, refletindo sobre esses temas, percebo que fui vítima de machismo em alguns momentos da minha profissão. Por vezes somos interrompidas pelos homens quando estamos falando, ou somos desconsideradas em um debate onde a maioria é composta por homens. E, no exercício da profissão, também já vi muitas mulheres serem vítimas de machismo; vítimas, testemunhas, colegas e juízas. Enfim, há muito para mudar, e por isso é tão importante o debate e a reflexão acerca desses temas, isso tem nos fortalecido e será a única forma de promover mudanças consistentes na sociedade. Deixo aqui a minha mensagem a todas as mulheres de nosso país. Que se olhem no espelho e se vejam com orgulho do que são, de seu corpo, de suas lutas diárias, de suas falhas, de seu crescimento, de seu aprendizado e que se sintam poderosas e livres para serem o que quiserem, o que sonharem, sem nenhuma limitação.

(Flavia Travaglini Zulian – Promotora de Justiça de Jaguariúna)

Matéria: Susi Baião

 

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