1919- UMA FÁBRICA DE FARINHA DE MILHO E DE MANDIOCA

A Associação Comercial e Industrial de Jaguariúna tem solicitado à Casa da Memória Padre Gomes de Jaguariúna pesquisa reveladora dos primeiros movimentos comerciais e industriais de Jaguariúna. Qual nossa paisagem cultural. Aqui havia café nas fazendas. Era pequena a lavoura do milho, arroz, feijão, depois, algodão. Também havia a pecuária, gado de corte e leiteiro. Os marchantes compravam e vendiam suas boiadas. Buscavam no sul de Minas, pelo interiorzão de São Paulo. As comitivas de boiadeiros seguiam com fazendeiro, peões, cozinheiro. Cruzavam estado, cidades, rios sem pontes, trazendo boiadas. Dormiam em pastos, sob árvores…como canta a canção “Mágoas de boiadeiro”.

Havia comércio na Estação do Jaguary e no centro da vila, nas ruas Alfredo Engler, Cel Amâncio, Cândido Bueno… Nesta procura das primeiras atividades industriais encontramos em “A Comarca”, semanário mogimiriano, edição de 26/06/1919 interessante reportagem enviada pelo correspondente do Jaguary, Caetano Santos Pereira. Traz publicadas as primeiras raízes encontradas de um Movimento Industrial local. O jornal mostra a história de uma família pioneira de imigrantes italianos e o seu trabalho diário construindo o progresso da atividade empresarial. Era a fazenda do Sr. Alexandre Munaretti, casado com D. Adele Poltronieri.

Tinham nove filhas e seis filhos. Na Fazenda Roseira, a força das águas do rio Jaguari girava uma roda grande de madeira que impulsionava máquinas que trabalhavam o produto de sua lavoura. Era a roda d’água que beneficiava o arroz, moía o milho, produzia o fubá, e da mandioca se tirava a farinha: movimento industrial. Era o dia a dia daquela família italiana que já havia carpido muito café e com planejamento e economia de guerra compraram suas próprias terras: a Fazenda Roseira. Agora, estabelecidos, a luta continuava para manter o patrimônio. A Fazenda Roseira era uma propriedade agrícola e industrial e o seu proprietário era autoridade policial na vila e elemento de prestígio da direção republicana.

Sempre presente aos movimentos políticos e sociais e comemorações de datas cívicas, inclusive italianas, com desfiles, bandas, leilões e concorridas Tômbolas (Bingo) no Velho Jaguary. A sede da fazenda ficava no alto, local onde hoje se encontra a grande rotatória Campinas-Mogi-Jaguariúna. A seção industrial ficava à beira do rio. Muitas máquinas que eram abrigadas em amplos barracões que serviam também como depósito de cereais. Havia dois grandes aparelhos para prensar mandioca e dois tanques de alvenaria e cimento para lavagem dela. Notavam-se dois raladores, grande forno giratório automático para secar a farinha. Um hábil mecânico da Vila de Posse de Ressaca, Sr. Querino Semeghini construiu e instalou o forno que levava vantagem sobre outros fornos, mais lentos que eram ainda usados.

A peça dispensava operário, recebia a farinha de uma calha, seca e despejava-a pronta nos sacos. Em outra seção encontrava-se o moinho de fubá; pilões para arroz e milho; engenho de cana e apetrechos respectivos, tanque e tachos para garapa; alambiques para fabricação de aguardente e açúcar, máquina de beneficiar arroz; carpintaria, tornos, serra circular, rebolo para afiar ferramentas e tornearia de objetos fantasia, de madeira. Todos os numerosos mecanismos eram movidos pela citada roda d’água que o Jaguary movia dia e noite, gratuitamente. O Sr. Munaretti produzia de 70 a 80 sacos de farinha de mandioca, semanalmente. A redação de “A Comarca” viu o resultado do esforço do valente trabalhador cumprimentou-o pelo progresso seu, da esposa e dos filhos que eram também responsáveis pelo movimento da empresa.

Tomaz Aquino