Área da saúde se mobiliza contra “rolezinho de motos” e cria #rolezinhomata
Objetivo é alertar a população e autoridades sobre a prática que contribui para a dura estatística de motociclistas serem 47% das vítimas de trânsito em Campinas
Após a sobrecarga de diversos hospitais que atenderam o grande número de vítimas causadas pelo “Rolezinho” de motociclistas que ocorreu no último sábado (22/07), em Campinas, que deixou cerca de 30 vítimas e causou três mortes, o setor da Saúde decidiu se mobilizar para alertar a população e autoridades sobre a prática e a importância da prevenção de ocorrências de trânsito.
O primeiro encontro foi realizado hoje (27/07) na sede da SMCC (Sociedade de Medicina e Cirurgia de Campinas), onde foi lançada a #rolezinhomata, com o objetivo de chamar a atenção para o problema, principalmente nas redes sociais, que são o meio utilizado para agendar encontros como o de sábado.
A reunião contou com a presença de representantes do Hospital de Clínicas da Unicamp, do SAMU (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência), das Ligas de Cirurgia do Trauma da Unicamp e da Puc Campinas, do ONSV (Observatório Nacional de Segurança Viária) e da Emdec (Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas).
Durante o evento, a EMDEC apresentou números preocupantes: os motociclistas representam 47% das vítimas de trânsito em Campinas, embora a frota corresponda a apenas 16% do total de veículos da cidade. Dos mortos por acidentes com motos no município, 45% tinham entre 18 e 27 anos.
As reuniões do grupo devem acontecer de forma periódica a partir de agora, para que novas ações sejam lançadas com regularidade.
Organizador do evento, o cirurgião Dr. Gustavo Fraga, membro do Comitê Científico de Cirurgia do Trauma da SMCC e chefe da Cirurgia do Trauma da Unicamp, destacou a importância da prevenção. “Não podemos admitir mais rolezinho em Campinas ou em qualquer outra cidade do País. O sistema de saúde pública da cidade quase entrou em colapso. E quando você atende um grande número de vítimas de ocorrências de trânsito, que podem ser prevenidas, acaba deixando de atender outras doenças, como o câncer”, destaca o médico.
Ele reforçou a importância de ações conjuntas e recorrentes. “Para nós, da Saúde, é muito difícil comunicar a morte de uma pessoa à sua família. E tão difícil quanto isso é falar aos pais que seu jovem filho ficou tetraplégico. O jovem tem de perceber que um evento desse é extremamente perigoso, é como brincar de roleta-russa. O trauma é uma doença, que pode ser prevenida em quase 100% dos casos. A população precisa se conscientizar disso”, afirma.
“Hoje, nós plantamos uma sementinha aqui (na SMCC). Esta é a primeira de muitas reuniões. Vamos espalhar a #rolezinhomata para conscientizar as pessoas do quanto isso é perigoso”, comenta o médico.
O presidente EMDEC, Vinícius Riverete, falou das ações de prevenção desenvolvidas pelo poder público e também reforçou a importância de ações educativas e de prevenção. “É um trabalho contínuo, que não pode parar. Essa agenda que está acontecendo hoje não pode parar, tem de ter todo mês”, diz.
Representante do ONSV, Daniela Gurgel, destacou a importância da conscientização individual. “A gente precisa colocar a mão na consciência. A gente precisa cobrar de quem está do nosso lado que faça o que é certo. Não dá pra gente ir para o churrasco com o amigo, vê o cara “encher a cara” do nosso lado o dia inteiro, daí pegar a chave do carro, ir embora no final do dia, e a gente não falar nada para ele”, alerta.