UM RAIO-X EMOCIONAL

Tomar gelado ou comer doce pode dar sensibilidade nos dentes ou provocar dor alertando que algo está errado. E quem já sentiu isso sabe o quanto é ruim. Costumo dizer que dor de dente e sapato apertado causam aquele tipo de incômodo que vai minando a nossa paciência aos pouquinhos até nos tirar o humor, concorda? Uma noite dessas passei por situação semelhante. Ao tomar um copo d´água gelada percebi um desconforto e fui pra cama pensando: “preciso ver isso logo, procurar um dentista”. Na mesma hora imaginei como seria bom se, diante de qualquer dor, não somente física, mas também emocional, todos tivessem o costume de dizer: “preciso ver isso logo”. É o que chamamos de autocuidado.

O hábito de fazer um “Raio-X Emocional” pode evitar que o problema se alastre. Quem costuma analisar seus próprios sentimentos passa a desenvolver mais habilidade para lidar com as ocorrências do dia a dia. Por exemplo, numa situação inesperada que tira a sua calma, numa crítica que te deixa extremamente magoado ou diante de uma frustração que te deixa triste por mais tempo do que deveria. Seja qual for o sentimento, por que não olhar pra ele e tentar diagnosticar a causa? E eu posso te assegurar que o que parece causar o tal sofrimento, normalmente não é o real motivo e sim um gatilho de algo mais enraizado que vale a pena ser investigado. Portanto não faça de conta que nada está acontecendo porque sim, está. E o quanto antes você resolver, melhor. Quando esperamos tempo demais, além de um terapeuta, possivelmente vamos precisar também de um médico para tratar uma doença crônica. Afinal, o que começa na mente e não é tratado, entristece a alma, adoece as células e prejudica o corpo de diversas formas se manifestando como gastrite, úlcera, fibromialgia, hipertensão, síndrome do intestino irritável, alergias, câncer, entre outras doenças.

Talvez você seja daqueles que escondem os sentimentos com medo ou vergonha de se expor, ou até mesmo porque ninguém lhe ensinou a ser diferente.  Os homens, principalmente, apresentam muita dificuldade em olhar pra si. Muitos cresceram ouvindo dos pais que “homem não chora” e até hoje sufocam o que sentem, engolem o choro e retém tudo dentro de si, sofrendo calados. Por isso defendo tanto a ideia da saúde e inteligência emocional fazerem parte da grade curricular nas escolas. Crianças que se habituam a entender e treinar suas emoções, se tornam adultos mais seguros, confiantes, cheios de amor-próprio e, lógico, mais bem-sucedidos em todos os sentidos.

Outro dia atendendo uma cliente percebi que ela se emocionou ao relembrar de um momento ruim e teve vontade de chorar, mas… não chorou. Se num ambiente terapêutico e seguro ela não conseguia chorar, imagine no seu dia a dia. Além de um exercício que dei para fazer em casa, afim de desaguar toda aquela água parada que estava há anos dentro dela, ainda fizemos uma reflexão (essa que eu chamo de Raio-X Emocional e que eu sugiro que você tente fazer sozinho caso não tenha um terapeuta). Ao averiguar o porquê dela segurar o choro, descobrimos que não era por medo de expor sua fragilidade e sim por culpa. Além de colecionar um álbum cheinho de frustrações e decisões erradas, ela se sente culpada por cada um dos erros que cometeu, portanto acredita que merece esse sofrimento e ainda guarda na memória o ensinamento de que é errado e desnecessário “chorar pelo leite derramado”. Detectamos então, além da culpa, o sentimento de punição que ela não tinha parado para perceber, muito menos tratar.

Se permitir sentir, observar o que dói nos maus momentos da vida e enfrentar, é sinal de coragem e não de fraqueza. Grandes homens e mulheres da história sofreram também. Há relatos na Bíblia Sagrada de que Moisés se entristeceu em algumas passagens. Davi, considerado “o homem segundo o coração de Deus”, sentiu culpa e remorso.  Jó, conhecido pela sua paciência e resistência diante das aflições, enfrentou o dia em que, sofrendo tanto, disse que desejava nem ter nascido. Dentre inúmeros relatos, temos pelo menos três vezes em que Jesus chorou. Além deles, pessoas renomadas entre pintores, cientistas, escritores e grandes líderes mundiais, todos considerados acima da média, sofreram em algum momento com distúrbios como angústia, tristeza ou depressão.  O pintor Van Gogh, o astronauta Buzz Aldrin e a escritora Clarice Lispector são exemplos de personalidades que enfrentaram transtornos mentais. E ainda assim muita gente anda por aí escondendo de si mesma tanto sentimento reprimido!

Os homens do passado tinham contra eles o preconceito e a falta de informação. Não que isso não exista mais, mas temos evoluído. Atualmente já podemos falar abertamente sobre essas questões, existem milhares de estudos e diversas técnicas capazes de melhorar a saúde mental das pessoas. Portanto, assim como a água gelada pode doer seu dente te alertando de um possível problema, perceba os sintomas mentais e comportamentais que você vem apresentando, mesmo que seja sutil, como uma tristeza que não passa. Portanto tente fazer seu Raio-X Emocional sempre que necessário e busque um tratamento terapêutico se não conseguir lidar com isso sozinho.

Lembrando que no Brasil existe também o Centro de Valorização da Vida (CVV), uma instituição que dá apoio emocional e trabalha na prevenção do suicídio. Pelo número de telefone 188 qualquer pessoa pode ligar e conversar quando sentir que precisa de ajuda.

Coluna Semanal: Aqui você encontra informações, dicas e se conecta a histórias, pensamentos, sentimentos e reflexões, que impactam a qualidade de vida e a saúde emocional das pessoas.

Adriana Cruz

Terapeuta, Jornalista e Palestrante

– Especialista em:

– Transtornos Emocionais, pelo método TRG;

– Leitura Corporal;

– Técnicas de Neurociência

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Atendimento presencial e online

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