UMA BRIGA ENTRE PADRE E PREFEITO

Tudo começou com a fundação de um clube no pacato distrito de Paz de Jaguariúna, quando se elevava à categoria de Município. Um industrial de origem italiana, Sr. Adone Bonetti funda o referido clube em 1953 e com os associados constrói um salão social para bailes, carnaval e festas em 1954. Ele dispunha na vila de uma fábrica de farinha de mandioca, “Fecularia Santo Antônio” e uma fábrica de poupa de massa de goiaba. O industrial construiu uma artística residência com varandas em arcos, à sua frente, no final da rua Cel. Amâncio Bueno, excelente projeto arquitetônico em 1945. Sua casa teve pedra fundamental e construção abençoada por Pe. Mariano da Silva Camargo.

Doou a imagem e nicho de Santo Antônio e uma pintura do Batizado de Jesus para a Matriz. Naturalizou-se brasileiro. Foi participante da vida social do Município, membro da Comissão de Emancipação Política de Jaguariúna. Nesta época, Pe. Gomes era o pároco. Houve inauguração do Clube Social chamado “Sociedade Amigos de Jaguariúna” em julho de 1954. Grandiosos e famosos bailes. Atraíram visitantes de toda a região. Exigia-se traje social. Organização perfeita. Mas nos cômodos abaixo do salão havia sala para jogos. Os senhores afeiçoados ao baralho começaram a passar as noites em jogatinas. As esposas reivindicavam ao padre o final da respectiva diversão que ameaçava separar os casais.

Havia esposas que na madrugada iam, na companhia de filho menor, tirar os respectivos maridos do jogo. Aquilo ameaçava o matrimônio. Padre Gomes recusou-se a dar a bênção de inauguração. A polêmica maior eclodiu, quando foi lançada a candidatura do Sr. Adone Bonetti a Prefeito em 1958. O pároco não o aceitou como candidato haja vista que o seu clube social levava ao pecado. O pároco pregou contra tal candidatura mostrando o mal que o feito do candidato causou à comunidade. Católicos manifestaram-se contra e a favor ao Padre. Dividiu-se a comunidade. Por outro lado o candidato teve defesa de seu cunhado advogado, Dr. José Carlos Virgilli, vereador, que atacava o clérigo por sua participação política dentro da igreja.

Mas em toda esta polêmica convém lembrar quais eram as coordenadas histórico-religiosas vividas pela Santa Igreja neste momento, anterior à grande abertura trazida pelo Papa João XXIII. E, principalmente, como a igreja interpretava o mal dos jogos que desagregava as famílias. A Igreja vivia o final do pontificado do Papa Pio XII. Portanto, antes do Concílio Ecumênico Vaticano II (1958/1963). Até Pio XII a Igreja sempre piedosa, era conservadora e tradicionalista em seus costumes. Havia muita disciplina, silêncio, oração e evangelização. A missa era rezada em Latim. O sacerdote celebrava de costas para os fiéis, diante do Sacrário, frente para o Santíssimo Sacramento. Exigia-se um jejum de 7 h para receber a Comunhão. Na Quaresma, o jejum e a abstinência de carne, Vias-Sacras, mais confissão, procissões, penitência e muita oração.

Os homens participavam das cerimônias com paletó e gravata ou camisa de manga longa. As mulheres tinham a cabeça coberta com véus. A Igreja era organizada em associações religiosas, havia uniformes e insígnias próprios. Aos coroinhas e membros das associações era vedado participar de bailes e carnaval. Os pais explicavam como o jogo de cartas destruía as economias de um trabalhador e a sua família. Esta briga entre Padre e candidato tornou a população, a Igreja e a política apreensivas e tensas. Os eleitores do lado político do padre eram denominados “Tatus”, do lado político do Bonetti “Ratos”.

A comunidade católica temeu muito pela perda de seu sacerdote. O bispo manteve o Padre Gomes na Paróquia. Foi então, organizada uma manifestação de solidariedade a Ele, comtodo o apoio da Diocese de Campinas. Foi uma manifestação de desagravo devido ter sido alvo de ofensas à sua missão de sacerdote. Isto ocorreu em 1º de novembro de 1958, na Praça Umbelina Bueno abarrotada de povo, ao calor de discursos, sob o espocar dos rojões. E o candidato Adone Bonetti também havia saído vencedor das eleições e administrou a cidade em sua primeira gestão de 1959 a 1962. Cada um defendendo a sua Bandeira.

Tomaz de Aquino Pires