Respeito pelas tradições religiosas
*Jandyra Stahlschmidt Cantu
Para uma sociedade verdadeiramente inclusiva e plural, o respeito à diversidade religiosa é pilar fundamental. Com a chegada do fim de ano, celebrações tradicionais como o Natal, por exemplo, para as religiões cristãs, são símbolo de solidariedade, amor e renovação, em um convite a refletir sobre empatia e generosidade. Cada tradição carrega valores, histórias e práticas que enriquecem a essência humana.
Já no judaísmo, uma das religiões mais antigas do mundo, o Hanukkah (ou Chanucá), o Festival das Luzes, é marcante para os fiéis. Comemorado por oito dias, geralmente no mês de dezembro, o Chanucá – em hebraico “inauguração” – é uma celebração de extrema riqueza histórica, e símbolo de resiliência e luta pela liberdade religiosa diante de perseguições em tempos conflituosos.
Por volta de 200 a.C. os judeus viviam como um povo autônomo na terra de Israel. Pagavam impostos, aceitavam a autoridade dominante e em troca, eram livres na sua fé e costumes. Em 167 a.C., o rei Antíoco IV, na tentativa de helenizar o povo, ordenou que todos sob seu domínio (em específico Israel) abandonassem sua religião e seus costumes. Construiu um altar ao deus grego, Zeus, no Templo de Jerusalém, e fez sacrifícios impuros sobre ele.
Isso deu início a uma ofensiva contra os greco-sírios, liderada por Matatias, um sacerdote judeu e seus cinco filhos. Após a morte de Matatias, seu filho Judas toma a frente da batalha com um pequenino exército, de maioria camponeses. Milagrosamente vencem o forte exército de Antíoco e libertam Jerusalém. Judas acabou conhecido como Judas Macabeu e ordenou limpar o Templo e construir um novo altar.
Um segundo milagre mais sobrenatural deu origem à festa de Chanucá como conhecemos hoje. Para acenderem a Menorá, para reconsagrar o Templo ao Deus único, precisavam de óleo puro, porém só encontraram um potinho selado de óleo que duraria por um dia. Acenderam e foram produzir novo óleo. Inesperadamente, o componente queimou por oito dias, tempo que o novo levou para ficar pronto.
Assim, Chanucá é uma festa em que se comemora o milagre do azeite, a vitória e a liberdade de Israel. É marcada pelo clima familiar e pela grande alegria. Cada noite é aceso, um dos oito braços da chanukiá (candelabro com um nono braço auxiliar para acender os outros oito). Tradições como brincar com o “sevivon” (pião) com as iniciais da frase (um grande milagre aconteceu lá — em Israel); servir alimentos como sonho com geleia e panquecas de batata; e também trocar presentes, marcam rituais que esse povo utiliza para manter a fé e a união da família. Mas principalmente para nunca esquecer o Deus que cuida e liberta.
Valorizar tradições como essas não é apenas um gesto de reconhecimento histórico, mas também um compromisso com a convivência pacífica e o direito de cada indivíduo expressar suas crenças de forma livre e respeitosa.
*Jandyra Stahlschmidt Cantu é pedagoga e historiadora pós-graduada em História do Brasil. Também é palestrante e escritora, e assina o livro “A jornada do Povo de Deus”, sobre a história do judaísmo.