Desinformação sobre autismo prejudica a cobertura vacinal de gestantes

Foto: Freepik

Pesquisa falsa divulgada em 1998 ainda gera impactos na desinformação sobre o autismo

Nos últimos anos, o avanço da desinformação sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA) tem causado impactos na saúde de diversas formas. Alguns conteúdos na internet propagaram erroneamente a ideia de que a cobertura vacinal poderia causar autismo. Apesar de ser uma informação falsa, uma pesquisa realizada pelo Instituto de Inteligência em Pesquisa e Consultoria (Ipec) em 2024 apontou que 10% das gestantes no país acreditam que as vacinas realmente podem causar TEA em seus bebês.

Essa informação já foi esclarecida por especialistas, que explicam que não há nenhuma relação entre as vacinas e a condição. Segundo profissionais que atuam no tratamento para autismo, essa onda de desinformação não apenas estigmatiza o diagnóstico, mas também dificulta o acesso a intervenções adequadas. Além disso, prejudica o entendimento da sociedade sobre a diversidade dentro do espectro autista, marginalizando ainda mais um grupo que já enfrenta barreiras significativas.

Além dos dados referente ao autismo, 0 estudo realizado pelo Ipec revelou mais informações sobre a vacinação em gestantes. Segundo a pesquisa, cerca de 40% das mulheres grávidas desconheciam a existência de um calendário específico de imunização para o período da gestação. Além disso, 60% acreditavam que as vacinas eram destinadas somente à mãe, sem considerar que a proteção também é transmitida aos bebês.

O levantamento, feito a pedido da farmacêutica Pfizer, também destacou que 11% das entrevistadas das classes A e B receberam dos seus médicos uma orientação contrária à vacinação durante a gravidez. Ademais, 11% dos profissionais responsáveis pelo acompanhamento pré-natal não abordaram o tema da imunização com as pacientes.

Relação entre vacinas e autismo é falsa
O mito de que as vacinas causam autismo surgiu de um artigo científico publicado em 1998 que, segundo o Instituto Butantan, já foi amplamente desmentido pela comunidade científica. Tudo começou com um estudo publicado na revista científica The Lancet que incluía 12 crianças que apresentavam sinais de autismo e inflamação intestinal grave, e 11 delas supostamente haviam tomado a vacina da tríplice viral (que protege contra sarampo, caxumba e rubéola), pois tinham vestígios do vírus do sarampo no organismo.

De acordo com o Instituto Butantan, o médico britânico responsável pelo estudo, Andrew Wakefield, utilizou dados falsos e contrariou todos os princípios básicos da pesquisa científica, relacionando a manifestação do autismo nas crianças à vacinação de forma enganosa.

Isso porque foi descoberto que, nas amostras das crianças analisadas, não havia vestígios do vírus do sarampo, como o médico havia afirmado. Além disso, existia um conflito de interesses, já que o pesquisador havia encaminhado um pedido de patente para um novo imunizante contra o sarampo, que concorreria com a tríplice viral.

O Instituto Butantan destaca ainda que Wakefield havia sido contratado por advogados para produzir dados contra a vacina, visando ajudá-los a ganhar dinheiro processando os fabricantes do produto.

Todas essas informações foram reveladas em 2004 pelo jornalista investigativo Brian Deer, em uma reportagem publicada no The Sunday Times. Anos mais tarde, em 2010, Wakefield foi julgado como inapto para o exercício da profissão pelo Conselho Geral de Medicina do Reino Unido, que classificou sua conduta como “irresponsável”, “antiética” e “enganosa”. Na época, a própria revista The Lancet fez uma retratação e reiterou que as conclusões do estudo eram falsas.

Entendendo sobre o autismo 

Especialistas da área da saúde e que atuam ativamente com condições que afetam o neurodesenvolvimento apontam que uma das melhores formas de combater a desinformação é a informação. Atualmente, a estimativa da Organização Mundial de Saúde (OMS) é que existam em todo o globo cerca de 70 milhões de pessoas com autismo.

Segundo a Diretora Clínica ABA do Núcleo de Autismo da clínica para autismo em Niterói Espaço Cel, Rafaela Prudencini, o TEA é, um distúrbio caracterizado pela alteração das funções do neurodesenvolvimento, que podem englobar dificuldades na comunicação, seja na linguagem verbal ou não verbal, na interação social e no comportamento.

Embora o diagnóstico seja mais comum em crianças, os sintomas podem se manifestar em diferentes idades e durar ao longo da vida. Entre os principais sinais da condição estão os movimentos repetitivos, interesses restritos, dificuldades na interação social e compreensão limitada de emoções.

Entretanto, Rafaela aponta que dentro do espectro são identificados graus que podem ser leves e com total independência até níveis mais avançados que necessitam de suporte para atividades cotidianas, portanto os sintomas podem variar de pessoa para pessoa.

Ainda conforme Rafaela, o autismo não tem cura, mas os tratamentos e as intervenções podem ajudar as pessoas a desenvolverem suas habilidades e a melhorar a qualidade de vida. Para isso, é importante estar atento aos sinais para realizar o diagnóstico precoce e a implementação de terapias personalizadas.