A bola procura o craque
Matéria: Paula Partyka
Bruno Rafael Santos é o nome do melhor jogador do Campeonato Paulista de Futebol de Amputados. Ele é natural de Jundiaí e mora em Jaguariúna há 16 anos.
Faltando um mês para completar 24 anos, Bruno sofreu um acidente e teve sua perna esquerda amputada. Hoje ele tem 27 anos e encontrou um caminho promissor no esporte.
Ao invés de ir pela rua, Bruno quis ir pelo caminho mais próximo. “Eu peguei o caminho do trem. Sai do bairro Europa e estava indo em direção ao Guedes, mas não deu tempo”, relembra.
Bruno caminhava pela linha do trem quando sentiu que pisou em falso, mas na verdade, sua perna afundou e ficou presa entre os trilhos. Ele conta que gritou e pediu ajuda, pois não conseguia sair do lugar, mas como era passado da meia noite, ele não teve resposta.
Com medo de que o trem pudesse passar, ele puxou a perna. Em meio ao desespero, a perna saiu rasgando do buraco e ele perdeu muito sangue. “Eu não conseguia andar por estar perdendo muito sangue. Eu desmaiava e acordava. Eu tinha que me rastejar para pedir ajuda, se não eu ia ficar lá. Com a perna direita eu empurrava, com a mão e a cabeça, para poder rastejar”, conta Bruno.
Ele passou várias horas com dor, até que quase 5h da manhã apareceu a primeira ajuda. Nisso, a perna machucada estava com mato, terra e formiga. A ambulância chegou, fez os primeiros socorros e levaram Bruno para o hospital.
Além de acreditar em Deus, ele considera que ter servido ao exército também o ajudou nesse processo de buscar ajuda. “Se eu não tivesse passado por lá, eu nem consigo imaginar se eu conseguiria me rastejar”.
Ele conta que teve um apagão e quando acordou o médico disse que precisou amputar a sua perna. Ficou um mês no hospital passando por diversos tratamentos.
No primeiro momento ele achou que era melhor ter morrido. “Você é acostumado a fazer as coisas e depois não consegue mais fazer. Tem que se adaptar com a deficiência. Eu achei que não iria conseguir fazer mais nada”, disse.
Depois de três meses, quando estava recuperado, Bruno, sua família e amigos foram até o a linha do trem para procurar o buraco do acidente para ver se ele tinha direito a indenização. No entanto, não havia mais buraco, pois as linhas tinham sido reformadas.
Com a amputação cicatrizada, Bruno foi encaminhado para o Instituto de Medicina Física e Reabilitação, em Campinas. Em uma roda de conversa ele se apresentou e conheceu outras pessoas que questionaram se ele teria vontade de jogar bola.
Ele duvidou que fosse possível jogar bola com uma perna amputada, mas ainda assim pegou o contato do capitão do time. Durante um ano ele ficou com o número na mão, falava que ia participar de um treino e não ia. “Quando eu tive coragem de ir o motorista parou no ponto errado. Eu peguei outro ônibus e voltei embora”.
Em casa Bruno recebeu muita força e foi o que lhe deu esperança para voltar para o esporte. Em conjunto, Bruno começou a frequentar a igreja, onde conheceu sua namorada e muitas pessoas boas. “Comentei com eles sobre o esporte e perguntei a opinião. Eles me apoiam. Como eu estava em contato com o treinador, eu fui. Já faz um ano”, relembra.
Bruno sempre praticou atividade física, jogava bola e corria, mas nunca teve oportunidade de participar de um time grande. Hoje ele faz parte do time da Ponte Preta que treina em Campinas, duas vezes por semana. Ele vai para a academia e joga bola com pessoas sem deficiência, o que ele diz ajudar em sua performance no time de amputados.
“Eu faço tudo. Só não trabalho ainda porque eu tenho que acostumar com a prótese, aí como estou em processo de reabilitação eu não voltei. Enquanto isso faço esporte”.
Diante de sua trajetória como ser humano e jogador de futebol, Bruno nem acredita em sua recente conquista: melhor jogador do Campeonato Paulista de Futebol para Amputados. “A emoção é grande porque tem muita gente boa no futebol e eu fui premiado com um troféu desse. Eu achei que nunca mais ia conseguir fazer esporte. Achei que seria invalido para tudo”, disse. Ele visa, junto com o time, conqusitar títulos para o Ponte Preta e um dia, sabe, representar o Brasil.
Sobre o título de melhor jogador
A Prefeitura de São Paulo promoveu no dia 27 de julho, por meio das secretarias da Pessoa com Deficiência e de Esportes e Lazer, a final da 10ª edição do Campeonato Paulista de Futebol de Amputados, onde Bruno ganhou o título de Melhor Jogador. De acordo com secretário municipal da Pessoa com Deficiência, Cid Torquato, o objetivo do torneio é difundir a prática esportiva para esse público. “Todos podem ser ativos. E o futebol é um meio de inclusão”, afirma.
O secretário de Esportes e Lazer de São Paulo, Carlos Bezerra Jr. enfatiza a importância do torneio. “O futebol de amputados é destaque em vários países do mundo com crescimento da formação dos times. No Brasil, precisamos estimular mais essa prática esportiva, como forma também de inclusão, de superação e de oportunidade. Estamos seguindo nesta direção aqui em São Paulo”.
Conheça as regras do futebol de amputados
- Os jogos são disputados em campo society, com dimensões mínimas de 60mX38m;
- Cada equipe tem sete jogadores e o goleiro é amputado de um dos braços. Já os atletas de linha são amputados de uma das pernas;
- As partidas são divididas em dois tempos de 25 minutos, com intervalo de dez minutos. Os técnicos podem pedir um tempo de um minuto para orientar seus atletas a cada etapa da partida;
- A muleta não pode tocar na bola de forma intencional e o goleiro não pode sair da área;
- O tiro de meta não pode ultrapassar o meio campo e a lateral é cobrado com o pé;
- Não há limite para substituições e os jogadores substituídos podem voltar ao jogo.