AS MÁSCARAS NA AVENIDA DA VIDA

Já é Carnaval! E eu te pergunto: que máscaras você tem usado enquanto “desfila” pela avenida da vida? E antes que você pense que eu estou te afrontando com essa reflexão, já vou logo dizendo que não existe a opção da resposta: “eu não uso máscara nenhuma, sou o mesmo o tempo todo”. É humanamente impossível agir da mesma maneira em diferentes situações. É comum usarmos as chamadas “máscaras sociais”, assumindo personagens que se comportam de formas distintas, dependendo das esferas da vida. Isso nada mais é do que assumir posturas, vestindo “fantasias”, coerentes com as circunstâncias e as pessoas ao redor, para garantir a nossa adaptação social.

Sabe aquela marchinha antiga que diz assim: mamãe eu quero, mamãe eu quero, mamãe eu quero mamar…? Então, se o bebê não chora, ele não se impõe, não é notado e nem é compreendido. Ele chora e deixa claro que ele quer ser alimentado. Conforme vamos crescendo, desenvolvemos estratégias para continuarmos sobrevivendo. Quando adultos não mais choramos e sim argumentamos para reivindicar algo (ou pelo menos deveríamos agir assim). Adultos que permanecem chorando, fazendo birra, se magoando fácil ou se fazendo de vítima para conseguir o que desejam, são adultos infantilizados. Eles estão presos num passado que precisa ser resolvido para crescerem emocionalmente.

Portanto, se somos adultos e temos uma mente saudável é natural encararmos a vida como ela é e “dançarmos conforme a música”. Por exemplo, no ambiente de trabalho, numa reunião com um novo cliente, assumimos uma postura diferente da que temos num churrasco com a turma. Assim como o discurso, o tom de voz, a expressão corporal e as palavras que escolhemos falar, também mudam quando nos “vestimos” de pai, mãe, filha, profissional, irmão ou amigo, em diferentes contextos.

Quando conseguimos usar essas máscaras sociais com sabedoria, responsabilidade e consciência de que elas nos adaptam à vida e às pessoas, mas não mudam quem nós somos, nem a nossa essência, então está tudo perfeitamente bem. Porém, quando assumimos posturas ou interpretamos, para agradar os outros, ou ainda nos escondemos atrás de máscaras por culpa ou por vergonha de quem somos, aí logicamente não está tudo bem.

Certa vez atendi uma cliente na terapia que usava uma máscara com um sorriso gigante, de orelha a orelha durante todo o dia e só a tirava quando estava sozinha em casa e sentia que podia chorar. Ela acreditava, inconscientemente, que precisava se mostrar feliz e forte o tempo todo para dar um bom exemplo aos filhos e para ser aceita e amada pelos amigos. A questão é que ela passou tantos anos interpretando uma personagem (até mesmo para o marido) que ela já não sabia mais se aquela versão de si, era real ou se era alguém que ela gostaria de ser. Ela estava levando a vida, indo “atrás da multidão, cantando uma música que nem fazia tanto sentido assim, numa avenida que não levava a lugar nenhum”. Até que um dia a máscara pesou, caiu, e ela se viu em depressão. A verdade é que a depressão estava ali há muito tempo, mas com aquela máscara, ela não conseguia se olhar no espelho como deveria, nem permitia que os outros vissem sua verdadeira face, triste, e pudessem, talvez, perceber que ela precisava de ajuda.

Um outro exemplo é do executivo que, de tanto assumir uma postura autoritária com seus funcionários (que por vezes ultrapassava o aceitável e beirava o abuso), não conseguia mais se despir desse papel nem mesmo em casa, tratando os filhos e a esposa com o discurso tirano “eu mando e vocês me obedecem”. Casos assim mostram claramente uma disfunção mental e falta de equilíbrio, alterando aos poucos o modo de pensar e o comportamento. Infelizmente encontramos muita gente assim por aí, confundindo papeis, ultrapassando limites, se prejudicando no trabalho e nas relações interpessoais por não saber se comportar nem respeitar lugares, pessoas, situações nem regras que ditam o bom convívio social.

Você não precisa ser feliz o tempo todo, mas ás vezes é necessário colocar o sorriso no rosto, erguer a cabeça e sair de casa mesmo assim. Você não estará super disposto para ir a todas as festas que aparecerem, mas dependendo da ocasião, sua presença será importante e necessária. Você também não apertará a mão somente daqueles com quem tem afinidade. Existem momentos em que precisamos ter diplomacia e sabedoria para conquistar o que desejamos ou simplesmente para manter a paz. Ou seja, as máscaras estão aí para nos servirem e nos ajudarem. Mas precisamos conhecer cada uma delas e a finalidade com que as usamos. Assim temos a oportunidade de exercer bons e importantes papéis como uma figura de respeito, de autoridade, de exemplo, ou podemos ser conselheiros, amigos, companheiros.

Para finalizar nossa reflexão, mais uma dica: antes de escolher as máscaras que vai usar, lembre-se de quem você é. Qual o seu verdadeiro eu? Do que você é formado, quais seus valores e crenças?

O autoconhecimento é a chave para manter a integridade e o caráter. Portanto, você se conhece? E mais: você se respeita, se aceita e gosta do quem você é, quando ninguém está olhando? Pense nisso!

Um ótimo carnaval, com máscara ou sem, mas com muita sabedoria, responsabilidade e alegria. Até a semana que vem.