Começou primeiro treinamento em OpenLCA na Embrapa

O treinamento em Avaliação de Ciclo Vida e OpenLCA, que começou na segunda-feira, dia 3 de outubro, e termina na sexta, na Embrapa Informática Agropecuária (Campinas, SP) é o primeiro sobre esse assunto no Brasil. Coordenado pelos pesquisadores Marília Folegatti, da Embrapa Meio Ambiente (Jaguariúna, SP), Fernando Dias, da Embrapa Pantanal (Corumbá, MS), e Maria do Carmo Fasiben, da Embrapa Informática Agropecuária, tem como objetivo capacitar pesquisadores e analistas no uso do software Open LCA e na submissão de datasets para o SICV-Brasil. O curso está sendo ministrado pela EnCiclo Soluções Sustentáveis e conta com a participação de 14 Unidades da Embrapa, além de pesquisadores do Centro de Tecnologia Mineral, Universidade Federal da Grande Dourados, Universidade de São Paulo e Universidade Tecnológica Federal do Paraná.

Conforme Marília, esse treinamento faz parte de uma série, programada pelo projeto corporativo Rede ACV Embrapa. Este projeto tem como objetivo a formação de massa crítica no tema ACV, o desenvolvimento de métodos para inventários e avaliação de impactos do ciclo de vida, além do estabelecimento de estrutura de TI para uso comum, com conexão direta com o Banco de Nacional de Inventários de Ciclo de Vida – SICV-Brasil, coordenado pelo IBICT.

Todos os participantes enfatizaram a importância de se trabalhar em Rede, com padrão metodológico e ferramental, o que será possível com esse treinamento.

OpenLCA

O openLCA é um software gratuito e profissional para avaliação da sustentabilidade de produtos, que comporta uma ampla gama de bases de dados e permite a modelagem de ciclo de vida, além do desenvolvimento de declarações ambientais de produto (EPD), entre outras funcionalidades.

Inventário de Ciclo de Vida (ICV)

O Inventário de Ciclo de Vida (ICV) de um produto consiste em um extenso e detalhado levantamento de dados, cuja execução demanda muito tempo e recursos, e que pode ser muito facilitada pela utilização de bancos de dados. Marília explica que “os principais bancos de dados de ICV hoje disponíveis são europeus e norte-americanos e neles constam pouquíssimos inventários de produtos brasileiros”.

Os ICV contabilizam o material e energia envolvidos em um processo produtivo e reúnem informações que descrevem quantitativamente a tecnologia empregada neste processo, bem como refletem seu escopo geográfico e temporal. Isto significa dizer que um ICV confere identidade a um processo. Assim, os ICV devem ser construídos respeitando fielmente o escopo dos processos, para que de fatos os representem. Para tanto é imprescindível a consideração das particularidades da região onde é praticado.

Algumas especificidades do Brasil, como a de ter uma matriz energética mais limpa e, para alguns produtos agrícolas (como é o caso da soja e da cana-de-açúcar, por exemplo), a de estar em um nível tecnológico bastante avançado, devem ser consideradas na elaboração de ICV e podem ser muito favoráveis em estudos de ACV comparativos. “Isto pode atender à defesa dos produtos brasileiros no mercado internacional e orientar políticas públicas”, salienta Marília.

Pesquisas em Avaliação de Ciclo de Vida

A Avaliação de Ciclo de Vida (ACV) é uma ferramenta de gestão que permite avaliar o desempenho ambiental de produtos ao longo de todo o seu ciclo de vida. De acordo com Marília, “estudos de ACV tratam sistemática e adequadamente dos aspectos ambientais de sistemas de produto, desde a aquisição de matérias-primas à disposição final (cradle to grave)”.

A ACV também se aplica à identificação dos estágios do ciclo de vida que mais contribuem para a geração de impactos; à avaliação da implementação de melhorias; à integração de aspectos ambientais ao projeto e desenvolvimento de produtos; e ao subsídio a declarações ambientais. “É uma metodologia com forte base científica e reconhecida internacionalmente, sendo padronizada pelas normas ISO 14040:2006 e 14044:2006”, salienta.

Em vários países a ACV é considerada para a formulação de políticas públicas. Na Alemanha, por exemplo, é adotada como base para o estabelecimento de critérios para rotulagem ambiental de produtos e para a definição de quotas mandatórias de reuso e reciclagem. Na França, a regulação Grenelle exige certificações baseadas em estudos de ACV para todos os produtos industrializados comercializados no país. Na América Latina, México, Chile e Peru trazem em sua legislação a obrigatoriedade da realização de estudos de ACV para biocombustíveis. Segundo Marília, “exigências desta natureza podem vir a se constituir em uma barreira não-tarifária no comércio internacional, inclusive restringindo exportações de brasileiras”, enfatiza.

Deste modo, “além de subsidiar a implementação de novas políticas públicas ambientais, a ACV habilita o setor privado a ofertar produtos menos impactantes ao meio ambiente, e permite aos consumidores adotar um comportamento ambientalmente amigável.

Lideradas por Marília, a Embrapa Meio Ambiente vem desenvolvendo desde 2009 trabalhos sobre ACV de biocombustíveis, além de outros produtos, sendo um novo desafio a ACV de produtos da pecuária.

Matéria: Cristina Tordin

Foto: Divulgação

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