Despovoar!

Com grande sabedoria ela descreveu os últimos acontecimentos com algumas pessoas amigas, (que poderiam estar entre aspas), e me disse: “Se for levar a ferro e fogo, vou despovoar!”.

É isso. Significa ficar sem ninguém ao seu redor. Não ter mais com quem compartilhar coisas de sua vida, pois nas atuais conjunturas existe uma dissonância prevalecendo nos relacionamentos.

Tenho observado a facilidade com que pessoas que se querem bem acabam se afastando por não se sentirem respeitadas em suas idéias e formas de ser. O distanciamento que estão se impondo em nome de exigirem ser aceitas tais quais são. Mas se esquecendo que o processo deve ser mútuo. “Eu respeito e assim sou respeitado” deve ser a máxima! Parece que se tornou exatamente o oposto: é mínima a demonstração de respeito e aceitação às várias formas de ser das pessoas.

Li há pouco tempo: “A tecnologia é interessante: aproxima os que estão distantes e distancia os que estão próximos.”. Dois casais em uma mesma mesa, os quatro digitando em seus celulares e não falando entre si. Grupos de pessoas “juntas” teclando e nem se olhando, apenas vez ou outra fazendo um comentário para ninguém, pois todos sem exceção estão entretidos apenas com suas próprias telinhas, não vendo ou escutando os que estão ao seu lado. Porque essa dificuldade de comunicação entre os que estão lado a lado? Teclam-se horas e não se falam minutos!

Observe a dificuldade (cada vez maior) de se defender um ponto de vista. Dois fatores entre tantos surgem claramente: Por um lado a dificuldade de se expressar e por outro a dificuldade de ser escutado.

Quando se vai expor uma idéia ou sentimento, é necessário que haja a acolhida de quem escuta. Se houver uma recriminação de imediato, a pessoa sente-se rejeitada no que lhe é muito importante e mais do que defender o que está dizendo, fecha-se. Quem diz estar escutando, na verdade está “fechado”, diz “olha o tamanho da bobagem que ela está dizendo.”. Não há interatividade, palavra moderna e tecnológica, que expressa poder de troca, de condição de ser ativo dentro da relação estabelecida.

Através dos pequeninos aparelhos as pessoas alegam ter essa interação com o outro, mas que é falsa, pois a troca de mensagens não significa o compartilhar existencial entre as que o fazem. Querem um exemplo? Vejam famílias que viajam e a quantidade de postagens de fotos e mensagens sobre os locais por onde passam e verão ser impossível ter feito isso e ao mesmo tempo aproveitado da paisagem ou do sabor dos alimentos como deveriam. Toda a atenção está para onde não estão.

O ser humano está se despovoando. O individualismo está tomando lugar cada vez maior nos convívios. Os diálogos se tornam monólogos, pois cada um fala coisas diferentes ao outro e ao mesmo tempo, como se estivessem de fato conversando. Quando um termina de falar algo o outro diz “entendi” sem nem ter escutado o que foi dito. Quando o outro faz referência o primeiro diz “você nunca me falou nada disso!”.

Porém, ao mesmo tempo esses fatos estão propiciando uma depuração, não apenas nos relacionamentos, mas e principalmente, em quem somos e o que realmente queremos. Ao ficarmos sós em algum momento “cansamos” de nos debater com o mundo exterior e necessariamente nos voltamos para nos mesmos.

Quando pergunto a alguém o que realmente seu par sente, deseja conquistar, o que o incomoda de fato e se pudesse o que faria diferente, muitos poucos respondem com acerto. Muitos não sabem nem bem qual o estilo de musica, filme ou diversão realmente preferida do outro.

Respeito e diálogo. Acrescente uma dose de admiração pelo outro e terá formado o tripé do amor. Eis um bom exercício para praticarmos com quem convivemos.

Paulo Antolini é psicólogo, psicoterapeuta, Practitioner Programação Neurolinguística, Administrador e Consultor de Empresas. | Fones: 019-3834-8149 / 019-99159-2480 / 011-97452-8262 | Email – paulo.salvio@terra.com.br

 

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