Dia Mundial de Conscientização Sobre o Autismo alerta sobre a importância do acompanhamento profissional
Dificuldade de comunicação, deficiência no domínio dos códigos de linguagem convencionais para uso social, dificuldade de socialização, repetição e restrição no padrão comportamental. Essas são algumas características do Transtorno do Espectro Autista (TEA), mais conhecido com autismo, que, conforme a Organização Mundial de Saúde (OMS), afeta uma em cada 160 crianças no mundo. Em 02 de abril é celebrado o Dia Mundial de Conscientização Sobre o Autismo, data estabelecida no ano de 2007 com o objetivo de difundir informações para a população sobre o autismo, diminuindo o preconceito que cercam as pessoas afetadas pelo transtorno.
No entanto, mesmo após 15 anos de existência da data anual, Natália Costa, psicóloga e diretora do CENSA Betim, instituição referência nacional nos cuidados a indivíduos com a condição, lembra que é preciso reforçar a importância do acompanhamento profissional. Para ela, o primeiro passo é entender essa situação. “Acredito que muitas pessoas não sabem, mas o autismo é uma condição do neurodesenvolvimento que pode ser identificado logo na primeira infância para iniciar a estimulação precoce que vai ajudar o desenvolvimento do indivíduo. A situação afeta a comunicação e pode comprometer até mesmo a capacidade de aprendizado da criança, além da sua adaptação a ambientes e situações diferentes das habituadas”, explica.
Segundo a especialista, as causas são variadas, por isso o diagnóstico é importante para a família até o encaminhamento profissional. “O fato é que existiam alguns estudos que consideravam o transtorno como resultado de dinâmica familiar problemática e de condições de ordem psicológica alteradas. Todavia, isso foi uma hipótese que se mostrou totalmente errônea. A tendência atual é admitir que existem múltiplas causas para o autismo, entre elas cito os fatores genéticos, biológicos e os ambientais. Lembro que o diagnóstico pode trazer sofrimento para a família, principalmente se ele não vier acompanhado de um apoio, informações e orientações acerca do que é o TEA e quais características a criança apresenta em maior ou menor grau”, salienta.
A especialista do CENSA Betim adiciona que para ser mais preciso na intervenção, é necessário entender o grau de autismo. Para tanto, é necessário um diagnóstico apurado do modo de funcionamento do indivíduo. “O TEA é dividido em três graus distintos: Grau 1 (leve), no qual as pessoas se mostram mais autônomas nos diversos contextos do dia a dia, alcançando independência e desenvoltura social com pouca intervenção profissional. Geralmente compreendem e cumprem regras e rotinas de casa com autonomia, vão driblando as dificuldades, estudam, trabalham e podem constituir família. Já os indivíduos com autismo moderado (grau 2), demandam mais apoio para se socializar, pois tendem a apresentar pouca iniciativa para interagir. Já no autismo severo (grau 3), os indivíduos apresentam dificuldades mais acentuadas e maiores comprometimentos, tendo iniciativa muito limitada e grande dificuldade para conversar e expressar o que desejam. Nesses casos, a comunicação é mínima e pode haver comprometimento da fala, precisando da ajuda de um mediador. É comum que o autismo venha acompanhado de deficiência intelectual e epilepsia. Nessas situações, o quadro clínico é ainda mais difícil”, aponta.
A psicóloga destaca que o autismo não é uma doença, mas uma condição que pode evoluir satisfatoriamente mediante intervenção correta . “O autismo não é uma condição inalterável, sendo totalmente possível que uma pessoa avance em relação ao estágio inicial, aumentando e incrementando seu repertório comportamental. Óbvio que esse avanço vai depender da intervenção e dos estímulos que a pessoa receber e ele só se dará se a frequência, a intensidade e qualidade desses estímulos forem adequadas, além da faixa etária em que começarem a ser introduzidos e quanto mais cedo, mais possibilidades de desenvolver”, salienta.
Suporte profissional
A intervenção para a busca de melhores resultados se torna indispensável para quaisquer níveis, mas Natália Costa lembra que as pessoas que estão no grau 3, associado a deficiência mental e intelectual, precisam mais ainda. “Estes indivíduos necessitam de suporte profissional, porque geralmente são dependentes, principalmente para realizar as atividades da vida diária, como ir sozinho ao banheiro, alimentar-se e higienizar-se. Eles precisam de apoio para a maior parte das tarefas, até porque, costumam se isolar. Claro que além do acompanhamento profissional, como o que fazemos, é importante a participação dos pais nos cuidados e na interação cotidiana”, conclui.
CENSA
O CENSA foi fundado no ano de 1964 pela educadora Ester Assumpção, mulher à frente de seu tempo, que trabalhou com Helena Antipoff no Instituto Pestalozzi. Dona Ester, como era carinhosamente chamada, acolhia em seu próprio lar crianças com deficiência cujas famílias não podiam fixar residência em Belo Horizonte. Assim nasceu a instituição que hoje é referência nacional: de um sonho e um ideal de uma educadora, cujo desejo de cuidar e amparar crianças com deficiência e suas famílias era genuíno e se materializou em quatro instituições por ela fundadas: CENSA, APEX, Instituto Ester Assumpção e Clínica São José.