O que o cérebro faz com o que o ouvido ouve?

Matéria: Paula Partyka

Você sabe o que é Processamento Auditivo Central? Alterações dessas habilidades são chamadas de Transtorno do Processamento Central e provocam dificuldades de atenção, concentração e aprendizagem em qualquer idade

 

A capacidade que o sistema nervoso tem para traduzir as informações enviadas pela audição é chamada de Processamento Auditivo Central. Essa habilidade está diretamente relacionada com a localização dos sons, a possibilidade de prestar atenção em um som e ignorar outros, memorizar sons.

De maneira simples, a Fonoaudióloga Patricia Amendola Martins, explica que é a maneira como o ouvido conversa com o cérebro. “Então eu escuto a informação, ela é processada e o cérebro vai entender. A audição, na maioria das vezes está normal, mas algo no caminho do processamento que leva a informação até o cérebro pode estar alterado e o cérebro não vai entender direito a mensagem”.

Primeiro a pessoa faz o exame de audição e não há nenhuma anormalidade. No cérebro, aparentemente, também não. Porém, alguma coisa no meio do caminho não está funcionando. O diagnóstico para identificar onde ocorre a falta do processamento é feito por meio de testes comportamentais específicos.

Quem possui o Transtorno de Processamento Central geralmente se queixa da dificuldade de concentração ou de entender o que uma pessoa está falando com ruído ao fundo. Em cima dessa queixa é realizada a avaliação, que são testes que indicam qual habilidade auditiva está prejudicada.

Para desenvolver a habilidade, são dois treinamentos auditivos: formal e informal/cognitivo. No formal a pessoa fica dentro de uma cabine usando fones de ouvidos e sons específicos para treinar as habilidades, é um treinamento acusticamente controlado. É controlado qual ouvido precisa estimular mais ou menos, por exemplo.

O treinamento informal consiste em trabalhar com softwares ou CD’s, sites e aplicativos que estimulam a memória, atenção, função executiva. São trinta a quarenta minutos dessas sessões que estimulam o cérebro.

Na maioria das vezes, crianças que tem dificuldade de aprendizagem podem apresentar Transtorno de Processamento Central. O diagnóstico tardio pode ocasionar complicações, pois a criança começa a não aprender. “Às vezes a professora está explicando, um aluno derruba um estojo, a criança olha e ao voltar a atenção para a professora ela não consegue retomar o raciocínio”.

Segundo Patrícia, a partir de situações como essa as crianças levam rótulos como preguiçoso, disperso, hiperativo. Portanto, é super importante o diagnóstico correto pois ajuda muito.

O treinamento auditivo é muito eficaz. “Às vezes com poucos meses de tratamento você repete o exame e a criança não tem mais o transtorno de processamento. Mas alguns prejuízos ficaram, como alteração de leitura e escrita e interpretação de texto, por exemplo. Aí continua com o tratamento mas não necessariamente com a fonoaudióloga”.

Para fazer o exame de Processamento é preciso ter uma audiometria. Uma criança com perda ela vai ter essa perda, pois está ouvindo menos. “Por exemplo, uma das causas do Processamento alterado é em crianças que tem muita dor de ouvido”, alerta Patrícia.

O exame pode ser feito a partir dos seis anos, mas o diagnostico até os nove anos é dado como ‘imaturidade’ do Processamento Auditivo. Ainda assim, é importante começar a tratar para que não haja perdas nos próximos três anos. A partir dos nove o laudo é transtorno.

“Eu tenho pacientes crianças e adultos também. Uma delas fez psicologia, mas não atua, pois tudo para entender e aprender é muito mais difícil. Então estamos tratando e está melhorando. Eu não gosto de falar cura pois não é uma doença, mas melhora até 100% com o tratamento correto”, conta a fonoaudióloga.

O transtorno é mais comum do que se imagina. O tempo de tratamento é individual e quando a fonoaudióloga acredita ter tratado o transtorno, realiza o teste novamente e identifica se houve algum prejuízo e detecta quais.

 

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