PARCERIA AVANÇA NA REDUÇÃO DE EMISSÕES DE GASES DE EFEITO ESTUFA NO SETOR AGROPECUÁRIO

Foto: Osvaldo Cabral

Pasto reformado e adubado

O IZ-Apta, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de
São Paulo, colabora com o projeto que visa a redução de emissão de
GEE no setor agropecuário na área de pastagens degradadas

Desde 2021, a Embrapa Meio Ambiente colabora com o Centro de Pesquisa
para Inovação em Gases de Efeito Estufa – RCGI, em uma iniciativa
liderada pela Universidade de São Paulo (USP) e apoiada pela Fapesp e
Shell Brasil. Uma das etapas da pesquisa mostrou que a emissão de
óxido nitroso a partir da adubação indica que não há relação
linear entre o aumento da dose do fertilizante nitrogenado aplicado e a
emissão de óxido nitroso. Para pastagens fertilizadas, o fator de
emissão de óxido nitroso para o fertilizante nitrato de amônio não
tem ultrapassado o valor padrão sugerido pelo IPCC.

De acordo com Cristiano Andrade, pesquisador da Embrapa Meio Ambiente,
os estudos visam quantificar as emissões de gases de efeito estufa
geradas pelo uso de fertilizantes em pastagens, propor e validar fatores
de emissão para óxido nitroso provenientes de fontes nitrogenadas e
excretas animais, além de monitorar o balanço de carbono em pastagens
submetidas a práticas de recuperação.

Parte das atividades é desenvolvida em parceria com o Instituto de
Zootecnia (IZ), em Nova Odessa, SP, e Faculdade de Zootecnia e
Engenharia de Alimentos – FZEA/USP, de Pirassununga. Sandra Nogueira,
pesquisadora da Embrapa Meio Ambiente, conduz, no IZ, experimentos em
pastagens para determinação de fatores de emissão de óxido nitroso a
partir da adubação nitrogenada e de fatores de conversão/manejo na
mudança do uso da Terra de pastagens exclusivas para sistemas
integrados e agricultura. O impacto desta investigação será a entrega
de fatores regionais para cálculos e estimativas de emissões de GEE,
além de balanços de carbono em sistemas pecuários.

No experimento de mudança de uso da terra, os resultados preliminares
mostram que na conversão de pastagens solteiras para monocultivo de
soja e sistema integrados (pastagem, em consórcio com milho e mogno), o
ganho de carbono no solo de sistemas integrados apresenta uma tendência
de incremento maior do que no de cultivo de soja.

Com um sistema de torre de fluxos, o pesquisador Osvaldo Cabal monitora
os fluxos de dióxido de carbono, metano e óxido nitroso a partir de
pastagem submetida a processo de recuperação de sua produtividade por
meio de reforma do pasto, uso de fertilizantes e corretivos e manejo do
pastejo. De acordo com Cabral, a recuperação de pastagens degradadas e
o aumento da sua capacidade de armazenamento de carbono é uma
estratégia-chave no compromisso do Brasil em cumprir suas metas
determinadas nacionalmente.

“Analisamos os fluxos dos gases dióxido de carbono, óxido nitroso e
metano e seus balanços em área de pastagem representativa do sudeste
do Brasil. As medições abrangeram quatro anos, começando pela
pastagem antiga degradada, passando pelo processo de renovação e
finalizando com o restabelecimento da pastagem. A pastagem só recebeu
fertilização com nitrogênio uma vez após a renovação – a prática
comum”, explica Cabral.

O balanço de carbono que considerou a soma das trocas líquidas do
ecossistema de dióxido de carbono e a exportação/importação de
carbono através de pastagens e fezes foi positivo na pastagem antiga
representando uma fonte para a atmosfera, mas um sumidouro (negativo)
durante o primeiro ano da renovação quando foi fertilizado. Em média,
os fluxos cumulativos de metano (sem a carga entérica dos animais) e
óxido nitroso foram pequenos e positivos, respectivamente, sendo
compensados pelo ganho líquido de carbono.

Outra questão importante vem sendo investigada ppor Rosana Vieira,
pesquisadora da Embrapa Meio Ambiente. Ela avalia o papel da braquiária
na inibição do processo de nitrificação do solo. Apesar da
braquiária ser conhecidamente capaz de exsudar inibidores biológicos
da nitrificação, dúvidas ainda persistem sobre o real efeito destes
inibidores no ciclo do nitrogênio. Alguns estudos com genótipos de
alto potencial para produção de inibidores biológicos da
nitrificação indicam que outros mecanismos, além da inibição, como
baixa mineralização do nitrogênio ou aumentada imobilização
microbiana do nitrogênio, contribuem para os baixos conteúdos de
nitrato no solo.

Desta forma, o grande desafio é tentar quantificar processos do ciclo
do nitrogênio e relacioná-los com o potencial da braquiária em
produzir inibidores biológicos da nitrificação. Esse conhecimento é
importante para o desenvolvimento de ferramentas de gerenciamento para a
gestão sustentável do uso do nitrogênio em pastagens, bem como
apresenta potencial para inovação na área de bioinsumos.

Arlindo Saran Netto, prefeito do Campus da USP em Pirassununga e
professor da FZEA/USP, destaca a importância do monitoramento de longo
prazo a alta resolução temporal dos fluxos de GEE realizada na
referida unidade da USP. Esta parceria coloca em evidência as
relações zootécnicas e agronômicas em sistemas de produção de
bovinos de corte sob pastejo e suas interações com o ambiente, além
de proporcionar oportunidades para treinamento e formação de recursos
humanos capacitados, focados na produção sustentável.

De acordo com Saran Netto, este projeto vem baseando-se na hipótese de
que é possível intensificar a produção de bovinos de corte a pasto,
em regiões tropicais, com o aumento da produtividade das pastagens e
acúmulo de carbono no solo. “Sendo assim, podemos ter pastagens mais
produtivas, com maior taxa de lotação animal e redução do tempo até
o abate, melhorando a rentabilidade. A redução do tempo para abate dos
animais tem um forte impacto na menor emissão de metano na pecuária,
que somado aos potenciais benefícios de balanços mais favoráveis de
Carbono no sistema solo-planta, representam importante avanço do setor
rumo à sustentabilidade”, disse Saran Netto.

Para a Luciana Gerdes, pesquisadora do IZ, a parceria tem resultado em
ganhos expressivos para toda a equipe, e tem contribuição importante
aos compromissos assumidos pelo país de redução de emissão de GEE no
setor agropecuário. Além disso, há o avanço do conhecimento
científico definindo estratégias de manejo que contribuam com a
produtividade e perenidade de sistemas de produção animal em ambientes
pastoris, o que traz inovação e mostra a preocupação da pesquisa
agropecuária brasileira com a preservação e a produção
sustentável.

Sinergia

O RGCI está na linha de frente dos esforços nacionais para mitigar as
mudanças climáticas, focando na redução das emissões de gases de
efeito estufa (GEE) e no alcance das metas do Brasil relacionadas com as
Contribuições Nacionalmente Determinadas para a ação climática
global. Além dos benefícios científicos e do impacto direto nos
compromissos do Brasil em reduzir as emissões de GEE no setor
agropecuário, a ação de pesquisa promove a formação de recursos
humanos capacitados, alinhados com os princípios da produção
sustentável. A participação da Embrapa está centrada nas pesquisas
sobre o impacto de práticas para melhorar a produtividade das pastagens
dentro do programa de Soluções Baseadas na Natureza, coordenado pelo
professor Carlos Eduardo Cerri, da Escola Superior de Agricultura Luiz
de Queiroz (Esalq/USP).

A equipe conta também com Luciano Koenigkan, da Embrapa Agricultura
Digital, Heloisa Filizola, Magda Lima e Nilza Patrícia Ramos, da
Embrapa Meio Ambiente, Rafaela Molina, aluna de pós-graduação do IZ,
e Lucas Penteado, doutorando do Instituto Agronômico (IAC). No IZ, o
projeto SGP 2459 – Emissão de gases de efeito estufa de pastagens
degradadas sujeitas a práticas de manejo para seu melhoramento, é
coordenado por Cristina Pacheco Barbosa.