Qual é o mundo que você prefere?

O dia seguinte à pandemia é uma incógnita. Antes de se pensar no momento em que ela vier a ser debelada, é bom cogitar de uma infinita duração. Havia previsibilidade e não foram poucos os avisos, de que vírus mutantes, decorrentes de mau uso da natureza, poderiam abreviar a aventura humana sobre a Terra. Preferiu-se manter o esquema de consumo irresponsável e de investimento em tudo aquilo que mata, em lugar de aplicar dinheiro naquilo que salva.

O covid 19 não é a última enfermidade que tentará reduzir a povoação no planeta. Mas vamos trabalhar com a hipótese otimista de que ela seja coibida por uma vacina ou, na hipótese mais simplista, que a humanidade consiga se imunizar naturalmente contra ela.

O cenário da distopia enxerga com pessimismo o amanhã. A pandemia não matou apenas seres humanos, mas talvez tenha golpeado de morte a liberdade. Prevalecerá o modelo asiático de vigilância total, muito mais eficaz para o controle da peste do que a irresponsável liberdade ocidental.

Usou-se na Ásia o big data e uso sem restrições dos dados individuais. Não é apenas a câmera de reconhecimento facial, mas os smartphones permitem até a detecção e o envio a centrais da temperatura corporal de seu portador. Para os mais ortodoxos, o futuro evidenciará a polarização entre um Ocidente agonizante em sua cultura, submisso à ascensão chinesa, não apenas econômica, mas no completo controle digital das massas.

Para os otimistas, haverá uma pausa ao consumismo excessivo e irracional. Ruirá o dogma da acumulação infinita que nutre o capitalismo. A queda do preço do petróleo, a paralisação da indústria automobilística, o cataclismo das bolsas, tudo pode indicar o advento de um vírus benéfico. Não será a oportunidade de concretizar um convívio menos egoístico e mais direcionado à solidariedade e à cooperação?

Algo que a sociedade poderá cobrar dos Estados é o investimento mais consistente em ciência e saúde, levar a educação a sério e relegar o armamentismo ao anacronismo em que já deveria estar. Instrumental bélico sofisticado é insuficiente para debelar o minúsculo vírus, invisível e insidioso, que fez o planeta parar. E se for parar para pensar, o prejuízo não será total, a despeito da dor e do sofrimento que trouxe para milhões de lares.

Dependerá de cada um de nós mostrar aos governantes, principalmente aos mais tolos e afeiçoados a versões necrosadas de governo, que ainda é o povo o único titular do que resta de soberania no século XXI.

*José Renato Nalini é Reitor da UNIREGISTRAL, docente da pós-graduação da UNINOVE e Presidente da ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS – 2019-2020.

 

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