QUANDO SAIR DA CAVERNA
Mal começou o ano e as suas mil promessas e metas da virada já parecem distantes de acontecer? Se isso está ocorrendo com você, preste atenção no lugar onde você está. Não estou me referindo ao espaço físico, mas sim no lugar que a sua mente ocupa. Será que você está preso numa mente limitada, conformada e acostumada com a situação em que se encontra? Por mais louco que possa parecer, nossa mente nos aprisiona e acostumamos a ver o mundo através de uma lente somente nossa – e às vezes desfocada. Passamos a enxergar por um óptica baseada em “pré-conceitos”, em costumes e ensinamentos que nos travam e nos impedem de dar um passo adiante. Acreditamos no que nos disseram a respeito da vida ou sobre nós mesmos. Acreditamos nas utopias, acreditamos até mesmo no poder dos outros, mas quando se trata de olhar no espelho, desacreditamos! Temos dúvidas do que podemos ser, do que somos capazes de alcançar ou de onde podemos ir. Travamos pelo medo do que não conseguimos ver direito, medo do que está à frente, do que nos espera logo ali no próximo quarteirão, ou daqui há alguns meses, ou ainda do que está só a uma distância do nosso braço. É incrível pensar que em plena era tecnológica, onde conseguimos estar em qualquer lugar do planeta remotamente, ou até mesmo fora dele, ainda assim, vimos tanta gente inerte, estagnada, emocionalmente imobilizada, presa dentro de si mesma.
Existe um conto criado por Platão, um dos mais famosos filósofos da história, que ficou conhecido como “O mito da Caverna”. Nele, Platão usa metáforas exemplificando os conceitos de escuridão (fazendo relação à ignorância) e os conceitos de luz (relacionando-o ao conhecimento). Ele descreve que alguns homens estavam aprisionados, acorrentados em uma caverna. E isso já ocorria com seus antepassados. Faço aqui a observação das mesmas situações que perpetuam de geração em geração, simbolizando as crenças limitantes, aprendizados e vivências que temos ao longo da vida e que repetimos, seja por inércia, por costume, por culpa, por medo ou pela necessidade de honrar nossos entes queridos.
Portanto Platão cita que esses homens continuavam ali naquele mesmo lugar fazendo tudo do mesmo jeitinho. Eles ainda ficavam costas para a entrada da caverna, então só conseguiam ver o fundo dela. Atrás deles, uma fogueira permanecia acesa. Do lado de fora a vida acontecia e muitos homens passavam de um lado para o outro com seus afazeres. Mas, como aquele grupo de dentro da caverna só conseguia ver sombras refletidas na parede e ouvir barulhos, imaginavam as mais terríveis histórias. Acreditavam que do outro lado havia monstros, situações perigosas e assustadoras. Tudo que existe no mundo, porém ampliado por cabeças não pensantes, despreparadas e com medo do desconhecido.
A narrativa tem uma reviravolta quando um deles consegue se soltar, cria coragem e segue o caminho para fora da caverna. A luminosidade, no entanto, incomodou os olhos daquele rapaz, afinal ele nunca tinha visto a luz. E é comum para qualquer um de nós diante da dificuldade, pensar em desistir ou questionar se o esforço vale a pena. Então logicamente aquele homem pensou em voltar para a zona de conforto onde estava, mas continuou adiante e por fim conseguiu contemplar o sol e o mundo exterior, onde havia mil possibilidades. No entanto se viu no dilema de retornar ou não, para contar aos seus companheiros o que havia descoberto, correndo o risco de ser julgado como louco. Poderiam ainda não acreditar nele, não entenderem ou o ignorarem por medo de descobrirem, assim como ele descobriu, que tudo o que conhecia antes era fruto enganoso de seus sentidos limitados.
É realmente muito difícil reconhecer que muitas vezes passamos tempo demais acreditando numa mentira ou em algo que poderia até ter um fundo de verdade, mas que, de repente, passa a não fazer mais sentido pra nós, não é?
A história nos faz refletir sobre o que realmente é realidade e o que aparenta ser. Lembrando que, conforme eu já citei aqui em outros artigos, a nossa mente não distingue o real do imaginário. Portanto sentimos exatamente as mesmas aflições e medos. Quem sofre com a síndrome do pânico, entende muito bem o que isso significa. As sensações são iguais, sendo um fato concreto ou algo que está somente no nosso pensamento. Perdemos tempo, energia, nos desgastamos e liberamos no nosso corpo substâncias maléficas que nos prejudicam, podendo ocasionar inúmeras doenças.
Assim como a maioria daqueles homens do Mito da Caverna, muita gente precisa refletir e criar coragem para levantar do sofá, romper paradigmas, assumir suas vontades, mudar de emprego, de casa, de país, ou somente mudar de opinião. Quando acreditamos que nem tudo é o que parece ser e buscamos a luz do lado de fora, conseguimos mudar o enredo da nossa história. Acredite: O mundo sempre pode ser melhor do que aquele que você está habituado a enxergar.
Quanto ao momento certo, se você me perguntar, vou te dizer que essa é uma resposta muito pessoal. Cada um sabe o seu momento, a hora certa de sair da caverna, mas normalmente isso só acontece quando as pessoas já estão com “a água no pescoço”, quando não suportam mais uma situação e precisam se salvar. Alguns examinam o cenário e se salvam antes de chegarem ao limite. Outros esperam até que a vida fique praticamente insuportável. Cabe a cada um usar a inteligência e avaliar quando buscar a saída do seu próprio aprisionamento mental. Porque uma coisa eu garanto: Fora da caverna sempre vai existir luz. Ela, no começo, pode até incomodar, mas é só no começo e depois tudo isso vai passar. É quando entendemos que essa luz, assim também como o percurso que leva até ela, é capaz de iluminar todo o nosso entendimento.