Rodeios – Divertimento ou Psicopatia?

É preciso pôr fim à crueldade contra os animais
Gilberto Pinheiro

Às vezes, é preciso ser repetitivo em relação a determinado assunto e este é o caminho democrático e sensato para conscientizar a sociedade sobre algum erro, evitando que o mesmo se perenize, como algumas atividades culturais que precisam ser modificadas e ter seu fim no Brasil.  Isso é compreensível e  não se esgota por sua insistência, quando há real desiderato e singular apelo em nome da preservação da vida em suas manifestações diferentes.  O enfoque são os maus-tratos e crueldade aos animais, algo que me causa indignação como a prática de rodeios e afins que insistem em desafiar as leis protetivas a eles, principalmente, na cidade de Barretos, interior de São Paulo, além de outras cidades interioranas,  uma barreira  quase intransponível e que somente os idealistas poderão superá-la, mesmo que demande muito tempo.  Inclusive, o assunto é tema de muitos dos meus artigos e assim será enquanto houver necessidade. É injustificável que se maltrate animais em nome de suposta cultura que, de civilizada, não tem nada.  O mesmo ocorre com vaquejadas, cultura nordestina e farra do boi, embora proibida pelo STF, declarando sua inconstitucionalidade, ainda persiste nos interiores de Santa Catarina.

Os rodeios, por exemplo, têm sua origem no século XIX  (EUA), mais especificamente em 1869 e introduzidos no Brasil por imigrantes, algo que não podemos aceitar como esporte ou atividade civilizada. Apesar das leis proibitivas, não há respeito às mesmas, tornando-se um acinte ou deboche, afrontando a Justiça, assim como à sociedade ordeira que abomina crimes contra a fauna, levando sofrimento a bovinos, equinos, para a alegria e regozijo de milhares de humanos insensíveis e que se comprazem com o  sofrimento deles, como se fossem objetos ou brinquedos para distrair incautos com mentalidade primitiva e  perversos.   Ora, está comprovado que os animais expostos a tamanha crueldade têm vértebras rompidas, patas quebradas, entorse na coluna, por causa desta irresponsabilidade em nome de vultosos lucros e poder econômico.  E o pior: estes mesmos que sentem alegria com o sofrimento animal, rezam para Nossa Senhora de Aparecida, pedindo proteção à vida dos peões.  Que inversão de valores, não é mesmo?

Trata-se, portanto, de uma cultura retrógrada e de difícil enfrentamento, miasma cultural  que movimenta muito dinheiro e, por isso, a imensa dificuldade em pôr-se  fim a esta ignorância e perversidade.  É uma indústria que está por trás disso tudo, uma vez que, movimenta rede de hotéis, atraindo milhares de turistas,  além de shows protagonizados por artistas da música sertaneja, possuindo, indubitavelmente, uma infraestrutura sólida, contando, inclusive, com uma mini cidade, com estação   rodoviária,  hospitais, centro odontológico e tudo  que possa gerar conforto e atendimento ao público sedento pelo sofrimento dos animais. Quando imagino que isso ocorre em pleno terceiro milênio, sinto dificuldades em entender ou até definir meus semelhantes ou seres da minha espécie.  A perversidade quando se manifesta, certamente,  usurpa a decência, rompe com a dignidade, agride a razão de viver,  destacando os mais primitivos instintos humanos.

Infelizmente, a sociedade e autoridades governamentais  ainda não entenderam que, para colocar fim a esta maldade que mais se assemelha à psicopatia, somente educando nas escolas de todo o Brasil, fato que já foi destaque em muitos dos meus artigos e que sugerem a insistência, pois  enquanto a crueldade contra os animais persistir, sentir-me-ei no dever de lutar pacificamente, esclarecendo, informando, tentando conscientizar a sociedade brasileira, mesmo  usando um antigo aforismo que liberta o ser humano dos grilhões da ignorância – somente o amor constrói e o amor precisa ser estendido também aos animais. A questão econômica move os rodeios, impede que a compaixão pelos infelizes animais seja realidade em nosso país.

Ainda tenho muito a caminhar na estrada da divulgação do bem aos animais, pois, a insensibilidade de muitos humanos,  obriga-me a insistir, promover a cultura da paz pelo bem-estar dos animais, divulgando que eles merecem viver com dignidade, livres das agressões e das paixões inferiores que residem em corações empedernidos,  contaminados pelo ódio e pela agressividade.  E assim agirei, mesmo promovendo descontentamento aos arautos e defensores deste divertimento que é mensurado pela psicopatia, pois não há outra definição para justificar a crueldade,  conhecida popularmente como rodeio, além das vaquejadas e farra do boi.  O ser humano quando se torna mau, veste-se de primitivismo, tornando-se  o pior de todos os animais sencientes.

PINGANDO CONHECIMENTO

Artigo 225/CF-88 – §1º/VII – proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam animais à crueldade.

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Gilberto Pinheiro – jornalista, palestrante em escolas, universidades, consultor da CPDA/OAB-RJ – Comissão de Proteção e Defesa dos Animais da Ordem dos Advogados  do Brasil, seccional RJ.
E-mails:  pinheiro.gilberto@bol.com.br
gilberto_pinheiro@yahoo.com.br

 

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