Saúde do homem vai muito além da próstata
Câncer de próstata levou a 44 mortes diárias de brasileiros em 2021,
mas doença não é a única que recebe diagnóstico tardio pela falta
de acompanhamento médico dos homens
O câncer de próstata é o mais incidente no homem e o que mais mata,
atrás apenas do câncer de pulmão. Dados do Sistema de Informação
sobre Mortalidade do Ministério da Saúde revelam que, de 2019 a 2021,
foram mais de 47 mil mortes causadas por esse tipo de tumor. Mas o
cuidado com a saúde do homem deve ir muito além do exame de próstata.
A falta de acompanhamento médico regular faz com que doenças deixem de
ser descobertas precocemente, dificultando ou até mesmo inviabilizando
o tratamento.
O urologista do Hospital Marcelino Champagnat, Mark Neumaier, conta que
é comum receber pacientes com a próstata bem aumentada, o que já
influi no jato de urina e em outros desconfortos rotineiros. Isso quando
o câncer nem é diagnosticado. “Existe um preconceito no exame do toque
retal e muitos deixam de realizar o acompanhamento periódico por isso.
Mas tem muitas outras questões que identificamos no consultório e que
têm tratamento simples”, constata.
A fimose, por exemplo, é outro problema urológico na região genital
do homem que pode trazer complicações quando não reconhecido. “A
maioria acredita que a fimose só ocorre na infância, quando
normalmente é corrigida. Mas sem esse procedimento, essa incapacidade
de expor a glande pode acontecer tanto na ereção quanto no estado
flácido do pênis. Já nas relações sexuais, a fimose pode incomodar
com fissuras recorrentes ou até mesmo prejudicar a higiene do pênis,
aumentado a probabilidade de desenvolver câncer na região”, ressalta.
Segundo o urologista, o tratamento consiste em um procedimento
cirúrgico usado por muitos anos, que não exige internação, apenas
alguns cuidados no pós-operatório.”A sensibilidade da região e toda a
função permanecem inalteradas”, explica.
Neurossífilis
De acordo com balanço divulgado pelo Ministério da Saúde em 2021,
foram registrados mais de 64 mil casos de sífilis no país. Com testes
rápidos disponíveis em unidades básicas de saúde, o grande desafio
encontrado ainda está no diagnóstico e no tratamento correto da
doença que pode ser sexualmente transmitida, e também pelo
compartilhamento de agulhas ou de mãe para filho na gestação. Quando
não cuidada, a sífilis evolui para formas muito mais graves, como a
neurossífilis.
“A doença pode comprometer o sistema nervoso central desde o seu
primeiro estágio e, por isso, deve ser tratada o quanto antes. Em
geral, é assintomática e apenas o exame do líquor faz o
diagnóstico”, esclarece a infectologista Camila Ahrens. “Passado o
período de latência da doença, ela acomete o sistema nervoso central
– olhos, coração e grandes artérias, além de ossos, pele e outros
órgãos. A pessoa pode começar com uma confusão mental, alteração
do comportamento, dor de cabeça, náuseas e, nas formas mais tardias,
pode haver comprometimento cerebral, levando a pessoa a uma vida
vegetativa”, alerta.
Coração
O cardiologista do Hospital Universitário Cajuru, Gustavo Lenci
Marques, reconhece que historicamente os homens tendem a cuidar menos da
saúde, têm alimentação inadequada e procuram menos o atendimento
médico. “Sabemos que muitas vezes o homem acaba sendo mais desleixado
com a saúde e alguns hábitos como o tabagismo a afetam ainda mais.” E
complementa: “Do ponto de vista das doenças cardiovasculares,
praticamente todas são mais comuns em homens, entre elas a pressão
alta, a dislipidemia (que é o colesterol alto) e o infarto.”
Lenci destaca que para prevenir as doenças associadas ao coração é
preciso mudar os hábitos. “Não tem mágica, são três coisas
principais: se mexer, fazer algum tipo de atividade física – não
precisa ser um exercício extenuante, mas sair do sedentarismo -, ter
uma alimentação equilibrada e não ter hábitos nocivos, como, por
exemplo, o tabagismo”.