Suicídio infantil: psicólogo alerta para sinais de depressão em crianças

_Especialista em saúde mental infantojuvenil, Miguel Bunge ensina pais
e tutores a identificar sinais de transtornos psicológicos_

A crença limitante de que a infância é um período feito somente de
momentos felizes pode ser bastante perigosa. Segundo dados da OMS
(Organização Mundial da Saúde), casos de depressão em crianças
entre 6 e 12 anos aumentou de 4,5 para 8% em uma década. E ainda há o
agravante dos anos de isolamento social; o pós-pandemia revelou uma
realidade ainda mais preocupante nas escolas brasileiras: em São Paulo,
sete em cada 10 alunos relatam sintomas de ansiedade ou depressão,
aponta estudo do Instituto Ayrton Senna.

Os dados vão ao encontro do trabalho desenvolvido pelo psicólogo
infantojuvenil Miguel Bunge. Autor do livro _Criação Consciente,_ ele
reúne conceitos da Psicologia para ensinar como identificar
comportamentos incomuns e as melhores formas de agir, sem causar danos
psíquicos que possam refletir na vida adulta.

Com mais de dez anos de experiência clínica, Bunge conta que já
atendeu diversos pacientes abaixo dos nove anos com depressão,
ideação suicida, mutilação, comportamentos agressivos e ataques de
pânico. Portanto, é errado pensar que são casos isolados; a
depressão pode atingir qualquer criança pelos mais variados motivos e
traumas.

Confira abaixo a entrevista completa com o especialista sobre o
lançamento e também sobre a experiência que tem no atendimento
clínico.

1. Miguel, o que te motivou a escrever o livro “Criação consciente”?

Minha motivação veio da percepção de que eu não consigo ajudar mais
pessoas que o limite de horários da minha agenda. Dessa forma, tenho
sistematicamente recusado novos pacientes por não ter horários
disponíveis. Assim, pensei que o livro pudesse ser uma forma de colocar
no papel as orientações que dou aos pais, a partir das dúvidas que
eles têm de como criar seus filhos. O livro traz em uma abordagem
simples, mas que tem uma série de evidências científicas.

2. Qual é a principal mensagem que o seu livro traz aos leitores?

A principal mensagem é que a criação dos filhos pode ser simples e
feita com segurança, seguindo-se uma metodologia clara e objetiva de
modo a observar comportamentos esperados e perceber e modificar
comportamentos “inadequados”.

3. Você acha que a saúde mental infantojuvenil ainda é considerada
tabu social? De que forma você acredita que a sua obra pode ajudar a
fazer a diferença nesse sentido?

Bom, tenho um olhar bastante enviesado sobre o assunto, já que quando
alguém vem ao meu consultório, essa pessoa já passou por uma série
de profissionais e, em geral, o filho já recebeu um diagnóstico. Desta
forma, nunca notei isso como tabu, ainda mais com tantos casos de
suicídio infantil.

4. Ao explicar a relação entre comportamento e necessidade, você cita
a Comunicação Não-Violenta (CNV). Como a CNV pode contribuir para os
relacionamentos da infância a vida adulta?

Na minha visão, nenhuma comunicação deveria ser violenta,
independentemente de se tratar de uma criança, adolescente ou adulto.
Até porque a comunicação violenta só gera agressividade e
resistência, dessa forma a comunicação torna-se uma “não
comunicação”, na medida em que o ouvinte deixa de escutar e fica na
defensiva. Assim, a CNV é uma metodologia criada e estudada como forma
de transmitir a informação da maneira mais eficiente possível. O
mundo seria um lugar muito melhor se todo mundo se comunicasse dessa
forma.

5. Ao seu ver – e considerando os seus mais de dez anos de psicologia
clínica infantojuvenil -, quais as principais dificuldades que as
famílias encontram no processo de educar os filhos?

Entender como colocar limites sem traumatizar. Como educar sem sentir
culpa. Como lidar com comportamentos inadequados da maneira mais
assertiva possível. Como observar quando o filho está em sofrimento e
o que fazer nesses momentos. Como lidar com a correria do dia a dia.

6. Você tem outros projetos literários em mente para o futuro? Se sim,
já pode adiantar alguma novidade?

Tenho sim! Quero me aprofundar em questões específicas da educação e
parentalidade, como mães narcisistas, e como desenvolver habilidades
específicas nas crianças e adolescentes, como, por exemplo,
inteligência socioemocional.

 

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