Vaquejadas, Rodeios e afins afrontam a Constituição Federal

Sofrimento animal não pode ser considerado  prática desportiva e cultural

O tempo passa e quando imaginamos que o ser humano evoluiu, temos a certeza que somente a minoria atinge a este nobre desiderato.  Infelizmente, no Nordeste brasileiro, nos interiores do Ceará a realidade é outra, beirando o primitivismo.  Refiro-me às cruéis práticas de vaquejadas, com peões de alma rude e primitiva deleitando-se em derrubar bois, machucando-os, sem o menor respeito a essas vidas e seres sencientes.   As vaquejadas, assim como rodeios, farra do boi e outros malefícios contra os animais  afrontam a Constituição Federal em seu artigo 225 1º § 7ª, desrespeitam a decisão do STF – que julgou o mérito da questão, proclamando a inconstitucionalidade. Mesmo assim, insiste-se em desafiar as leis brasileiras, driblar a legalidade com artifícios equivocados, como apresentar Emenda Constitucional, modificando a redação do citado artigo, incluindo essas práticas de tortura no artigo 215 como prática cultural e bem imaterial.  Isso ofende a inteligência de todos nós e abre as portas para o ignaro se manifestar.

Francamente, alegar este miasma como prática cultural é um acinte, um deboche, haja vista que cultura se modifica com o passar do  tempo e não podemos ser escravos dessas minorias inconsequentes, lambidas pela ignorância e pelo desafeto, em busca do lucro econômico.   Os animais (bois) nessas condições degradantes sofrem fraturas nas patas, ruptura de ligamentos, deslocamento de articulações, comprometimento da medula espinhal, além das dores físicas e, por que não dizer, emocionais.  Sencientes sentem emoção, medo, e tais práticas estão contextualizadas nessa “cultura”que tem cheiro de mofo e contorno de primitivismo.  Por que a  Constituição Federal através do citado artigo, assim como a Lei Federal 9605/98 – artigo 32 não são respeitados no Brasil?

CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA VETERINÁRIA REPUDIA ESSAS PRÁTICAS

Ora, o próprio Conselho Federal de Medicina Veterinária é contrário a esses crimes contra os bovinos, considerados erroneamente como “esporte”.  A Constituição no citado artigo, assim como a Lei Federal explicitada acima são agredidas e nada se faz para modificar essa aberração.  Os adeptos das vaquejadas fazem o que bem entendem e não há punição para o desrespeito.  Tudo permanece incólume.  Até quando será assim?

É inadmissível que em pleno terceiro milênio continuemos a conviver com essas práticas telúricas e que têm origem nas idiossincrasias de pessoas ainda atrasadas no tempo.  Não é mais possível que se alegue a necessidade de tais práticas geradoras de emprego.  Isso é uma desculpa inaceitável e porta aberta para a prática das barbáries, como se os animais fossem simples objetos distantes das dores causadas pela insensibilidade humana.

 

E ainda dizem que isso não é crueldade. O que será então?

 

EM VEZ DE VAQUEJADAS OU PRÁTICAS AFINS, OPTEM POR LIVROS  

Sugiro aos peões e os responsáveis pelas vaquejadas, rodeios e afins que em vez de provas do laço, práticas insanas e cruéis aos animais uma  solução saudável e civilizada – livros, dedicação à leitura e escolaridade.  Fazem bem à vida e trazem a civilidade para perto deles!

Perdoem-me a indignação, mas, é impossível permanecer tácito, silencioso, percebendo o absurdo se manifestar.  Precisamos ter voz  no Congresso Nacional, exigir leis mais contundentes no combate aos maus-tratos a todos os animais, em especial, vaquejadas, rodeios que insistem e desafiam o bom senso nas cidades interioranas do país.

A sociedade brasileira precisa se indignar e cobrar das autoridades atitudes enérgicas contra a essas práticas deletérias que maculam a razão de nossa própria existência, atentando contra a civilidade.  Faz-se mister dizer não ao primitivismo, às práticas culturais absurdas  que não são mais aceitáveis nos dias de hoje.

A CPDA/OAB-RJ, através de seu presidente e meu amigo Reynaldo Velloso pretende convencer algum parlamentar para apresentar algum decreto legislativo a favor do referendo popular, indagando à população brasileira se pretende continuar ou não com os rodeios e vaquejadas.  Entendo ser ótima e auspiciosa solução; a sensatez não aceita mais a ignorância dando as cartas na atualidade.  Dizem que a voz do povo é a voz de Deus.  Sendo assim, vamos ouvi-la!

Portanto, prezados leitores e leitoras de meus artigos – digam não às vaquejadas, rodeios e tudo aquilo que submete os animais ao intenso sofrimento.  Equinos, bovinos  não podem ser escravizados por pessoas rudes e de temperamento ignaro que se deleitam com o sofrimento dessas vidas indefesas. Chega de rudeza!

Os bois e os cavalos  não têm culpa se peões e empresários que exploram a tortura deles não quiseram estudar. Vaquejadas, rodeios não podem continuar no Brasil.   A civilidade precisa ser entendida como necessidade imperiosa, uma vez que, onde há tortura contra animais, há, por sua vez, atraso e estupidez, o que é inaceitável.

PINGANDO SABEDORIA

Que ingenuidade, que pobreza de espírito dizer que os animais são máquinas privadas de conhecimento e sentimento, que procedem sempre da mesma maneira, que não sofrem, que nada aprendem e nada aperfeiçoam – Voltaire (1694/1778) – filósofo francês – Dicionário Filosófico (1764).

Gilberto Pinheiro, jornalista, palestrante em escolas, universidades, consultor da Comissão de Proteção e Defesa dos Animais da Ordem dos Advogados do Brasil, ex-articulista da AMAERJ Associação dos Magistrados do Estado do Rio de Janeiro.

Somos o coração, a alma, a voz dos animais
G.Pinheiro

 

Comentários