Você foi demitido. E agora? – Gisele Scalo

Vários fatores podem definir uma demissão. Em um apanhado rápido, posso mencionar reestruturações de áreas, crises, mudanças na estratégia da empresa, baixa performance, incompatibilidade com novos líderes, incompatibilidade com novos colegas de trabalho, aposentadoria compulsória, fusão de empresas, fusão de áreas, etc. Existe uma velha máxima conhecida que diz que “para ser demitido, basta estar contratado”, e esse processo realmente ocorre desta forma. Todos corremos o risco de sermos demitidos a qualquer momento, muitas vezes, e infelizmente, mesmo tendo alta performance e um bom perfil. E sabe de uma coisa? Nunca estamos preparados.

Assim, podemos até supor, especular, mas nunca teremos certeza do real motivo da nossa demissão. Quem poderia imaginar que Steve Jobs, o grande Deus da Apple, seria demitido um dia da própria empresa?

Dito disso, ficar pensando nas razões da sua demissão serve apenas como tortura desnecessária que irá conduzir seus pensamentos para a desestabilização emocional ou a questionamentos que não terão respostas exatas.

A experiência nos diz que, mesmo sendo algo muito corriqueiro no mundo corporativo, quando ocorre uma demissão, somos acometidos por dois tipos de reação:

Auto flagelo – sou culpado por tudo, me martirizo, me frustro, trago para mim, e somente pra mim, a responsabilidade pela demissão;

Vitimismo – não tive participação nem responsabilidade na minha demissão, a culpa foi do meu chefe, do meu colega, da empresa ruim, da economia, tudo está fora de mim.

Na verdade, como sabemos, a demissão pode ser fruto de uma série de fatores e, muitas vezes, uma combinação de muitos deles. Mas sempre, em alguma medida, temos uma parcela de responsabilidade e sim, alguém na empresa, normalmente o chefe, optou por isso.

Não podemos negar e nem menosprezar a importância e o impacto que uma demissão pode ter na vida de todos nós. Além dos sentimentos confusos e difusos de rejeição ou menos-valia, temos um sentimento profundo de perda, de planos desfeitos, de frustração, de tempo perdido, enfim, não é um momento fácil, por mais que um líder, ou uma empresa, se empenhe em realizar uma demissão ética e cuidadosa.

O que devemos fazer, então? Devemos nos martirizar, ficar se corroendo, alimentando esse luto pela eternidade? A resposta é, NÃO! Se você fizer isso, é provável que ainda que se recoloque, esses sentimentos te paralisem e te congelem, impedindo de viver plenamente novas oportunidades.

Antes de mais nada, permita-se viver e sentir o processo como um aprendizado, daqueles bem difíceis, mas aprendizado! Faça um balanço da situação, pense em sua trajetória na empresa, reflita sobre as suas entregas nos últimos anos e avalie o seu relacionamento com os seus chefes, os seus colegas, os colegas de outras áreas. Enfim, pense em todos os feedbacks que você recebeu, mesmo aquelas dicas que você nem sabia, mas que eram feedbacks. Pense no seu nível de contribuição e engajamento. Reflita também sobre o cenário. Há alguma coisa que você deixou passar? Por fim, pense no momento da demissão. Sim, ele é sempre dolorido e nem sempre as coisas são deixadas às claras.

Você terá que absorver o impacto, terá que sentir e chorar, se for preciso, por aquela perda – em especial se você gostava do ambiente de trabalho, se a empresa era boa, assim como os seus colegas, salários, enfim. Sim, sofra, mas o suficiente para se refazer, e isso deve durar no máximo uma semana! Acredite!

E aí, o que você deve fazer para recuperar sua autoconfiança e sua autoestima nesse tempo curto de recuperação? Vamos lá, abaixo algumas dicas:

Passo 1

Faça um balanço sobre você mesmo. Pense em todas as suas qualidades, em tudo aquilo que você gosta em você mesmo, em todas as suas características positivas. Pense também naquilo que você pode melhorar, naquelas características que sabe que poderia desenvolver um pouco mais. Pense nas coisas que o definem – e não pense apenas no que, mas também no porquê! Faça um exercício: o que as pessoas sempre disseram sobre você? Se concordar com elas, pode ser que essas sejam suas principais características.

Passo 2

Feito esse balanço, é hora de olhar para as suas conquistas, mesmo aquelas que parecem insignificantes hoje, como tirar a carteira de habilitação ou se formar na faculdade. Faça uma lista, pegue um caderno e faça notas, não economize! Pense nos cursos, nas promoções, nas viagens, nos bens que adquiriu, nos relacionamentos que conquistou! Esbanje-se! Valorize-se! Nada é fácil e não foi para você também!

Passo 3

Foque em pensamentos positivos; não se prenda nas coisas ruins. Leve com você a sua lista de conquistas e aprendizados. Pense como essa demissão, na verdade, abre uma janela de oportunidades para um emprego novo, colegas novos, empresas novas, novos aprendizados e novas conquistas. Muitas vezes, uma demissão abre portas para caminhos que não teríamos enxergado se a situação tivesse permanecido! Foque nisso! Foque nas oportunidades e aprendizados e em tudo aquilo que poderá ganhar em função do novo momento.

Passo 4

Por fim, prepare-se para ter um plano! Com a cabeça refeita, com seu valor e amor próprio recuperados, é hora de pôr a mão na massa e criar um plano de recolocação. Um plano e uma série de ações para você se apresentar novamente ao mercado e estabelecer as conexões que irão te levar ao trabalho novo!
Mãos à obra e faça desse limão uma limonada!

 

* Gisele Scalo é diretora de Recursos Humanos na SONDA

 

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