“Cultura é para alma e corpo”
Luiz Dalbo, Secretário de Cultura e Turismo de Mogi Mirim, conversou com Correio do Povo sobre a importância da cultura em cenários de crise e como tem enfrentado os desafios da gestão da pasta, no município de Mogi Mirim. Dalbo é produtor cultural, ator e coordenador de ações culturais desde 2012. Esteve à frente de projetos artísticos, sociais, educativos e de promoção ao meio ambiente.
Correio do Povo: Para a maioria dos governos e municípios, os orçamentos para 2021 já vieram comprometidos por conta da pandemia que pegou a todos de surpresa. Qual foi o impacto deste acontecimento na cultura do município?
Luiz Dalbo: Além do orçamento ser pequeno comparado com outras pastas, a pandemia deixou a classe artística bastante prejudicada: foram os primeiros a parar e os últimos a retornar. O impacto foi imediato, pois o plano de organização de eventos, ensaios e estreias foi todo prejudicado. Muitos não têm ideia de quanto tempo leva para organizar diferentes eventos culturais e o quanto é custoso para a produção e os artistas. Isto fez com que muitos recorressem ao que era possível, como lives, editais de emergência e até deixar de lado o trabalho cultural e recorrer a outras formas de renda. Todo o setor ainda vai levar tempo para se reerguer.
A Secretaria de Cultura e Turismo de Mogi Mirim, entende isto e tem como plano de governo resgatar as diferentes artes em Mogi Mirim (município de inúmeros talentos). A cidade não estava vivendo uma cultura diversa e ampliada, assim, é necessário olhar para nossos artistas e tentar dar assessoria. Pautamos 2021 em organizar, fazer eventos possíveis no período, pautar projetos, parceiros e formas de subsidiar nossos artistas e descentralizar as ações culturais. É urgente e necessário o fomento das artes e a ampliação de consumidores de artes.
CP: Até o momento, o orçamento previsto para a Secretaria de Cultura e Turismo de Mogi Mirim foi suficiente?
LD: Quando se fala de orçamento para Cultura e, no caso de Mogi Mirim, Cultura e Turismo, é uma parcela pequena do orçamento municipal e um custo alto para gerar Cultura, então, claro que temos muita dificuldade de fazer tudo o que pretendemos, e, com a pandemia, isto toma proporção ainda maior. Mas, sendo um profissional que vem de ações sociais e sempre trabalhou com pouco recurso, digo que com força de vontade, coragem, equipe comprometida e bastante criatividade estamos tentando superar esta dificuldade orçamentária.
CP: Como a Cultura tem auxiliado o município neste momento em que a saúde é a questão central?
LD: A Cultura é um espaço de diálogo, de informação, entretenimento e de despertar do senso crítico, fundamental neste momento onde muitas são as informações, as fakenews, onde as pessoas precisam desenvolver um olhar crítico e também espairecer a cabeça para que mantenhamos a nossa saúde mental. Assim, a Cultura é para alma e corpo, fundamental para não adoecermos. Cada pessoa que participa das nossas atividades relata o quando é importante estar no convívio, no momento lúdico que a cultura propõe.
CP: Qual foi o maior desafio enfrentado pela Secretaria até aqui?
LD: Sem dúvida a pandemia é o desafio maior pois é necessário cultura, mas também é necessário vida. A retomada cultural é um desafio e temos que tomar todos os cuidados sanitários para a segurança do público. Com isso, o custo acaba sendo maior para uma quantidade menor de público. Em julho, foram realizados eventos internos no Centro Cultural com capacidade reduzida e a cada novo evento percebemos que o público já está se adaptando para o novo normal. Isto ajuda, mas não podemos esmorecer na segurança dos munícipes, assim, cada evento tem uma necessidade diferente e uma adaptação sanitária a ser cumprida.
Importante também dizer que a cultura carece de profissionais nas áreas de oficinas. Temos muita procura e poucos funcionários para disponibilizar oficinas, assim, o desafio da mão de obra humana é muito grande e estamos articulando saídas para ofertar o melhor para nossa população.
CP: O que os munícipes podem esperar da Cultura, na sua gestão?
LD: Venho com plano de governo muito bem montado com diretrizes confiadas a mim pelo nosso prefeito onde a retomada dos eventos culturais tradicionais da cidade, a descentralização e democratização da cultura local, retomada das oficinas e diversificação de áreas culturais, a valorização histórica da cidade, a união de classe artística e a formação de plateia são os alicerces para o andamento da Cultura e também sem esquecer o Turismo que é fonte de emprego e renda. Temos dado uma atenção muito especial para alinhar estas duas pastas.
CP: Qual é o projeto de maior relevância executado ou em execução, até o momento?
LD: Sou suspeito para falar, pois todo projeto cultural ou turístico tem importância, pode ser de cultura erudita ou popular. Isto quer dizer que temos a obrigação de dar nosso melhor para que esta pessoa, que consome cultura, queira voltar, convidar os amigos e sinta um bem-estar.
Destaco aqui os Projetos e Retomada de Festivais com o Concurso Literário já neste ano, com inscrições abertas, A Casa do Artesão de Mogi Mirim, a Retomada o Bar dos Artistas, a reabertura do Museu da Cidade após 9 anos fechado, o Cinema Drive in no Espaço Cidadão, que acontecerá em outubro, entre outros projetos.
CP: Na sua opinião, qual é o papel da cultura em momentos de crise como este?
LD: Acredito que a Cultura, na origem da palavra pautada na sociologia “Cultivar”, é aquilo que é cultivado em nós e, assim sendo, nosso povo será melhor, mais empático, mais instruído e feliz quando realmente revermos nossa cultura, do mais simples ato até grandiosas ações. Um povo culto, tem memória, erra menos, respeita mais a diversidade e tem sabedoria para conduzir sua passagem pela vida. Assim sendo, a cultura não deve ser anulada em momentos de crise, mas sim uma fonte de superação.