Para cultivar é preciso nutrir o solo
A 6ª e última reportagem da série “O Solo Nosso de Cada Dia”, produzida pela Divisão de Comunicação da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (USP/ESALQ) aborda a nutrição e adubação dos solos, elementos e formas de manejo essenciais para o bom desenvolvimento e produtividade dos campos agrícolas. Nesse contexto, os professores Antonio Roque Dechen, Paulo Sergio Pavinato e Rafael Otto, todos do departamento de Ciência do Solo da instituição, contam as descobertas e pesquisas realizadas na área.
“O solo não é capaz de suprir a demanda das culturas para altas produtividades”. Essas palavras, de Paulo Sergio Pavinato, exemplificam perfeitamente a relevância das práticas de nutrição e adubação aos solos. Essa técnica repõe as perdas de nutrientes dos solos, auxilia milhares de produtores agrícolas a intensificarem a produtividade das plantações e é fundamental para suprir a demanda mundial por alimentos. “No Brasil, hoje, são utilizadas 32 milhões toneladas de fertilizantes por ano, sem isso não atingiríamos os índices elevados de produção total, responsável por um terço do PIB do país em termos de exportação” ressaltou Pavinato.
Mas para alcançar resultados positivos na agricultura, é essencial analisar a qualidade de cada solo e suas deficiências. “São as análises dos solos que avaliam o potencial e as condições adequadas para a planta se desenvolver. Somente a partir dessa etapa fazemos as recomendações ideias sobre a carência de determinados nutrientes nos solos”, contou.
Pavinato ainda comenta uma inovação na área: tecnologia de aplicação. Segundo o professor, desde o início das práticas de adubação, era comum a utilização de máquinas precárias, que realizavam uma aplicação de nutrientes superficial nos solos. Hoje, com o avanço das tecnologias e da globalização, o uso de GPS para aplicações localizadas de fertilizantes antes da semeadura de culturas, tornou-se um grande aliado da agricultura. A novidade também aproximou a Universidade de produtores e empresas, uma relação que amplia as pesquisas e descobertas para melhorar cada vez mais os índices de produtividade.
Nesse âmbito de pesquisas e relações com empresas e produtores rurais, Rafael Otto conta sobre sua atuação como professor e sobre o Grupo de Apoio de Pesquisa e Extensão (GAPE), o qual coordena junto com o professor Godofredo César Vitti. Envolvido com adubos e adubação, Otto trabalha com desenvolvimento de novos fertilizantes, certificando a eficiência de cada produto, controlando o manejo da fertilidade dos solos e desenvolvendo praticas corretivas em diversas culturas, principalmente em soja, milho, cana-de-açúcar, citrus e café.
Segundo Otto, as pesquisas avaliam a necessidade de adubação de cada cultura. “A fertilidade permite o produtor manejar seu solo da forma mais eficiente possível, fornecendo os nutrientes que as plantas requerem”. Para contribuir com o trabalho desses produtores e ampliar os estudos dentro da ESALQ, o Gape, hoje, composto por 17 alunos de graduação e pós-graduação, além dos coordenadores, oferecem atendimento aos pequenos produtores e grandes empresas. “Nós ensinamos a conhecer o solo, identificar a melhor prática e recomendamos a partir de um laudo qual é a melhor adubação para determinado solo”, contou o professor. Um dos recentes trabalhos realizados foi em parceria com uma potente empresa russa, que buscava certificar a qualidade de um fertilizante em clima tropical. Assim, o grupo da ESALQ realizou diversos testes e aprovou o produto, que em breve poderá ser lançado em território brasileiro.
De acordo com Antonio Roque Dechen, “quando você trabalha com a planta, a sintomatologia para as exigências nutricionais depende de vários aspectos e demandas diferentes”. O professor, que nasceu com a paixão pela nutrição das plantas nas veias e, desde 1971, quando ainda concluía sua graduação na ESALQ, demonstrou grande interesse pela área, realizou iniciação científica, mestrado, doutorado até se tornar especialista e lecionar a disciplina nutrição mineral, na ESALQ.
Atualmente, Dechen também se dedica aos estudos sobre hidroponia. “Essa técnica, permite que você prepare uma solução na água, escolha os nutrientes necessários e controle as condições ambientais para que sua produtividade não tenha prejuízos”. De acordo com o professor, os testes com as práticas hidropônicas não alteram os sintomas das plantas, o que além de facilitar a caracterização dos nutrientes e a deficiência de cada um, também previne os possíveis riscos quando cultivadas no campo.
Segundo Dechen, entre as formas de fertilizar o solo, a NPK (nitrogênio, fósforo e potássio) é bastante utilizada e apresenta resultados positivos. “Para o bom desenvolvimento das plantas é fundamental a presença desses três nutrientes, que juntos, formam a composição adequada para um fertilizante”.
Finalizamos a última reportagem da série “O Solo Nosso de Cada Dia” com um apelo de Paulo Pavinato: “2015 foi o ano internacional do solo, mas devemos lembrar que todos os anos dependeremos do solo, a nossa comida depende do solo, portanto, devemos reconhecer a sua importância e trabalhar em busca de melhorar sua qualidade, somente assim as produções poderão suprir nossa constante demanda por alimentos”.