Projeto em parceria com o judiciário é iniciativa inovadora da UniFAJ
Os alunos do 10º semestre do curso de Psicologia da UniFAJ (Centro Universitário de Jaguariúna) são responsáveis pelo Grupo de Apoio à Adoção (Gapa) com sede em Jaguariúna. Mas a atuação vai além dos encontros mensais, pois o projeto começou em agosto de 2016 com a parceria estabelecida entre a UniFAJ e o Fórum de Jaguariúna.
“Esse grupo de pretendentes de adoção é feito pelos alunos de Psicologia. Portanto, são os alunos, na prática de estágio curricular obrigatório, que coordenam, organizam e planejam as ações desse trabalho com supervisão da psicóloga Helem Sandra Albino, do Fórum de Jaguariúna, e da professora Juliana Corbett, supervisora de estágio da UniFAJ”, revela a professora Vanessa Cabrelon Jusevicius, coordenadora do curso de Psicologia da UniFAJ.
A coordenadora explica que os estudantes discutem semanalmente quais serão as atividades que vão fazer, e as reuniões do grupo acontecem uma vez por mês. “É um trabalho diferenciado, porque temos poucas iniciativas de universidades envolvidas como é o nosso caso, que temos essa parceria com o judiciário, pois na maioria das vezes, os grupos são independentes”, reforça a professora Vanessa.
“A gente percebe que existe uma conexão entre essas duas áreas que podemos explorar ainda mais com novos projetos, e esse do Gapa é um deles”, acrescenta Helem Sandra Albino, psicóloga judiciária na Comarca de Jaguariúna, que atua no Fórum desde 2014 e leciona na UniFAJ na disciplina Psicologia da Família no curso de Psicologia e Psicologia Jurídica no curso de Direito.
Helem cita que o Gapa traz os alunos da Psicologia para conhecer um pouco do dia a dia da Comarca, para entender o que é psicologia judiciária, como se dá o processo de adoção e trabalhar a preparação desses pretendentes. “E eu passo para os alunos do Direito os trabalhos acadêmicos sobre adoção, para perceberem essa dimensão humana do processo não ser uma coisa fria da lei, que tem que ter o preparo humano. Portanto a gente consegue permear essa conexão entre os cursos (Direito e Psicologia)”, pontua.
Para Julia Miachon Silva, aluna do 10º semestre de Psicologia, é uma experiência muito rica e fundamental ter um contato tão grande e direto num grupo. “Contribui com o fato de aprender a trabalhar em grupo, porque somos um grupo de estagiários que tem a função de trabalhar com outro grupo que é o dos futuros adotantes. Acredito que vai ser um diferencial para a minha carreira”, comenta.
PALESTRA E LIVRO
O penúltimo encontro do ano do Gapa Jaguariúna, no dia 23 de novembro, no anfiteatro do Campus 1 da UniFAJ, foi diferente dos demais, pois recebeu a palestra com a psicoterapeuta de casais e família Jadete Calixto, que apresentou seu livro “Reflexões sobre o Tempo de Espera: preparando a família para adoção.”
A obra, lançada na Feira Literária Internacional de Paraty e na Bienal do Livro, ambas neste ano de 2018, já está na segunda edição e traz o resultado da experiência de 45 anos de atuação da profissional, que trabalha na abordagem sistêmica e é formada pela Unifesp.
“Eu vi que eu tinha preparo e experiência suficiente para poder colocar em prática coisas que eu conhecia e sabia há muito tempo. No livro eu falo da parte emocional da família que vai adotar, dos lutos que eles estão vivendo, e falo também da parte emocional das crianças que estão acolhidas, o que elas vão trazer para a casa quando elas chegam”, descreve.
A psicóloga aponta que o principal objetivo é fazer com que a família que adota entenda que a criança que vem já traz uma história de vida e que essa história jamais poderá ser esquecida. “A família que adota tem que preparar a família extensiva, porque muitas vezes um tio, uma avó, faz distinção entre filho adotado e biológico”, alerta.
Jadete indica que o livro bom para quem está se formando, para quem vai adotar, quem atende essas crianças. “A criança que chega não é só um presente. Antes se procurava uma criança para uma família, hoje se procura uma família para uma criança”, defende.
A psicóloga Jadete Calixto, psicoterapeuta de casais e famílias há 45 anos e escritora iniciou, em 2012, a participação nos grupos de apoio à adoção Acolher de Mairiporã. Em 2013 passou a integrar a equipe técnica como supervisou de casas de acolhimento. “Atendendo tanto famílias nos grupos de apoio à adoção quanto às crianças na instituição, pude perceber que ambos estavam em mesma sintonia em termos de sentimentos. Todos muito tristes, com baixa autoestima, insegurança, medo de não ser aceito, tanto família quanto a criança”, relata.
Ela lembra que quando começou a participar do grupo de adoção percebeu que se falava muito da parte jurídica do processo e pouco era falado em termos de preparo, de amadurecimento da pessoa para adotar. “A gente sabe de muitas histórias onde a criança após a adoção retorna ao abrigo, isso é muito triste. Acontece que muita gente não amadurecida para o processo pensa que vai levar pra casa um objeto que se pode devolver. A pessoa não entende que a criança ou adolescente que vai ser inserida nessa família traz uma história com ela”, alerta.
“O tema essencial do meu livro, do meu trabalho, é se evitar que as crianças sofram novos abandonos após a adoção. As pessoas não estão preparadas, existe uma falsa ideia do que é adoção. Portanto, esse trabalho que fazemos nos grupos traz a pessoa para a realidade”, pontua.
Fotos: Amauri da Rocha | Fonte: ASCOM